Wednesday, 31 August 2016

MOÇAMBIQUE ENTRE OS 10 PAÍSES MAIS AFECTADOS PELO HIV/SIDA NO MUNDO

Moçambique entre os 10 países mais afectados pelo HIV/Sida no mundo
Moçambique continua na lista dos dez países mais afectados pela epidemia do HIV/SIDA, o mundo.
A taxa de prevalência é de onze vírgula cinco por cento na população dos quinze aos quarenta e nove anos de idade.Esta informação foi avançada, esta terça-feira, pelo porta-voz do governo, Mouzinho Saíde, no fim da vigésima nona sessão do Conselho de Ministros que, entre várias matérias, apreciou a informação sobre a estratégia de aceleração da prevenção do HIV/SIDA.“Moçambique possui cerca de 1.5 milhão de pessoas vivendo com o HIV/SIDA e registam-se cerca de 223 novas infecções diárias”, disse Saíde.De acordo com a fonte, registam-se, igualmente, cerca de 107 óbitos relacionados com o HIV/SIDA por dia e uma taxa de transmissão vertical de mãe para filho calculada em cerca de 6.2 por cento.A província meridional de Gaza continua a liderar as estatísticas com uma taxa de sero-prevalência na ordem dos 25.1 por cento. Niassa detém a menor taxa na ordem de três por cento.Ainda na sessão desta terça-feira, o Conselho de Ministros apreciou e aprovou o decreto que ajusta as normas de organização e funcionamento do Instituto de Línguas. O decreto visa adequar a estrutura e o funcionamento do Instituto de Línguas, nomeadamente conferir autonomia administrativa e alterar o regime de subordinação, bem como redefinir as suas atribuições, órgãos e regime orçamental.






 (RM)

Ser “negado” três vezes


Na cultura moçambicana, no sentido mais amplo, o “ser negado” recebe a conotação de desqualificação. Não raramente, recebe o significado de estigmatizado, humilhado. Ouço comumente dizer-se “fulano foi negado”, “beltrana foi negada”, à frente já se sabe o que é. Todos se riem.
Todo aquele que é “negado” é alvo de chacota. Age como um búfalo ferido, porque o ser “negado” tem uma certa carga semântica no português corrente com o “inapto” ou o “ineficiente”. O “negado”, por causa da comiseração, sofre consequências sociais que o levam a agir fora do âmbito normal, acima do bem comum, acima do interesse social geral. É daí o motivo por que temos visto muito “negado (a)” queimar o carro, a roupa do consorte, numa atitude desesperada de reclamar para si a dignidade perdida. O bem mais precioso do ser humano.
Este intróito, ser “negado”, vem a propósito das motivações e razões de fundo que estão por detrás dos conflitos armados, digamos guerra, no meu país.
Vejamos: o nosso processo de paz é composto por uma “troika”.
Há os medicadores, os “negados” e os “negadores”. Os primeiros tentam dar aspirina para acalmar as partes. Temos dois promitentes interessados na cura, ou seja, um grupo de cidadãos, por ora “negados” e finalmente os “negadores”.
A missão dos “negados” é reclamar que estão sendo recusados.
A dos negadores é de se recusarem sempre, mesmo perante evidências verídicas e testemunhos.
A história é longa: os “negados” e “negadores” firmaram um acordo entre si. Foram a umas núpcias em Roma. Num dos hotéis tiveram lá as suas intimidades, diria, andaram aos beijinhos e passearam pelas ruas a sua classe de enamorados. Admiraram-se mutuamente pelos encantos.
O Padre da Capela Sistina benzeu-os e pariram um contrato chamado AGP. Quando regressaram ao país, para tomar o curso normal das suas vidas em comum, o “negadores” disseram que os tinham enganado no hotel, que o celebraram foi só para os aceitarem de tão sofridos que estavam pelo fogo ardente do namoro.
Fizeram-no para se desembaraçarem dos outros e assim “regressarmos de mãos dadas a casa”. Os “negados” sentiram-se atraiçoados na sua dignidade e reclamaram a reposição do que estava em falta. Mas em vão, pois a contraparte diz que já estava satisfeito com as núpcias e o casamento de papel assinado.
Os “negados” começaram a chorar pelos cantos, as pessoas a comentarem o óbvio: ele foram “negados”, deve ser chantagem, e estão com uma mão à frente e outra atrás.
O que passa no nosso meio é que nunca se dá ouvidos aos “negados”, particularmente quando a contraparte deste é abastada, que vai ventilando como gozou com o outro na noite de núpcias. Inventam-se conciliações e mediações de conflitos, e o “negado” acaba por ser sempre o “negado” e o “negador” aparece sempre em cima, gerando a dicotomia vilão e herói.
No que é comum, o “negado” sofrendo a perfídia e humilhações do “negador” acaba por adoptar acções defensivas e selvagens. Ele justifica-se que vai para aí três vezes que o “negador” o humilha. Ainda, o tentou matar por três vezes, por uma questão de afirmação absoluta da supremacia dos “negadores”, esses que ainda vão dizendo ao mundo que o “negado” sempre foi um promíscuo, e patati e patatá.
Todavia, o último acontecimento onde os “negadores” estiveram em alta deu-se há dias, quando eles voltaram a negar tudo, mesmo aquilo que assinaram preto no branco. Até deram uma conferência de imprensa para vincar a sua posição de negadores. Os “negados” já estão alerta: sabem que tudo o que se vier a assinar será posteriormente negado e rasgado pelos negadores, que se burlaram dos pacientes medicadores ao não assumirem o óbvio, na dita conferência de imprensa.
Ninguém está surpreendido pela conduta dos negadores, porque de outro jeito não teríamos negadores na cena teatral da política doméstica, onde, por certo, continuaremos a ouvir que aos “negados” é recusado todo e qualquer protagonismo pelos “negadores”.
Moral da estória: E ratatá ratatá, os “negados” parece que voltarão a se fazerem ouvir por estes meios, por aqueles que sempre continuarão a lhes negar a audição e as convenções que assinam de livre e espontânea vontade.





Adelino Timóteo, CANALMOZ , 29 de Agosto de 2016

FMI insiste em auditoria forense internacional para Moçambique


Fotografia: Mike Hutchings/Reuters
O Fundo Monetário Internacional (FMI) insiste numa auditoria forense internacional à dívida pública de Moçambique para o país recuperar a confiança dos investidores e alerta que os próximos tempos continuarão difíceis, disse o representante da instituição em Maputo.
"É importante avançar rapidamente para uma auditoria forense internacional", declarou Alex Segura, em entrevista à emissora pública Rádio Moçambique, defendendo uma investigação externa a par das averiguações da Procuradoria-Geral da República a este caso.
A auditoria deve apurar o destino dado às dívidas ocultadas pelo Governo anterior, contraídas entre 2013 e 2014, que no total ultrapassam dois mil milhões de euros, disse o representante do FMI.
"Os investidores continuam interessados em investir em Moçambique e isso vai trazer divisas, vai trazer dólares, mas para isso precisamos também da volta da confiança", enfatizou Alex Segura, que se prepara para abandonar o cargo.
Questionado sobre a reativação da cooperação financeira entre o FMI e o Governo moçambicano, interrompida na sequência da divulgação das dívidas não reveladas, Segura indicou que tal decisão dependerá dos resultados de uma missão da organização que vai visitar o país no próximo mês.
"Isso vai depender da avaliação da missão de setembro, que vai avaliar na prática os progressos efetivos e os avanços que foram feitos no âmbito da auditoria. Se todas as condições estiverem lá, vamos poder retomar as relações com o FMI, num prazo de tempo razoável, não posso dizer se será três ou quatro meses", disse Alex Segura.
Apesar de reconhecer que, no curto-prazo, o país vai continuar a enfrentar tempos difíceis, o representante do FMI afirmou que o Governo está a tomar medidas apropriadas no plano orçamental e monetário.
"Vou embora com a esperança de que o Governo está a tomar medidas apropriadas a nível Orçamento do Estado e do controlo da inflação", sublinhou Alex Segura.
Com as decisões que as autoridades decretaram, há expectativas positivas no que diz respeito à aplicação das recomendações macroeconómicas deixadas por uma missão do FMI em junho passado, acrescentou.
"Houve algumas recomendações no âmbito da política monetária e da política orçamental que estão a ser implementadas de forma muito rigorosa, e nessa parte estamos bastante satisfeitos", realçou.
O representante do FMI apontou a recente aprovação pela Assembleia da República do Orçamento do Estado retificativo e as medidas encetadas pelo Banco de Moçambique para a contenção da inflação e da derrapagem do metical, a moeda moçambicana, como ações importantes para a retomada da economia do país.
"Essas medidas podem tomar algum tempo, a médio prazo, mas Moçambique tem um enorme potencial, em recursos naturais, o carvão, por exemplo", frisou Alex Segura, apontando as potencialidades da economia moçambicana para superar a crise que enfrenta.
Moçambique atravessa um período de múltiplas crises, marcadas pelo arrefecimento do crescimento económico, forte desvalorização do metical face ao dólar, descida do preço das matérias-primas e das exportações, subida acentuada da inflação e queda do investimento estrangeiro e da ajuda externa, em resultado do escândalo dos empréstimos ocultados pelo Estado e que fizeram disparar os valores da dívida pública.
O país atravessa ainda uma crise política e militar entre Governo e Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que se agravou nos últimos meses e afeta a circulação de pessoas e bens na região centro.
Como consequência destes efeitos combinados, as intenções de investimento em Moçambique caíram 48% no primeiro semestre de 2016 comparativamente ao mesmo período do ano passado.

Tuesday, 30 August 2016

Para quando o fim do conflito armado?



A quem beneficia o conflito armado que o país atravessa? Certamente, ao povo moçambicano não. Aliás, pelo andar da carruagem, tudo indica que há interesses obscuros e inexplicáveis por detrás desta guerra que tem vindo a dizimar dezenas de vidas humanas e o sonho de milhares de moçambicanos. Há, sem sombra de dúvidas, figuras, ligadas ao partido no poder, que têm vindo a “alimentar-se” desse conflito armado, razão pela qual lutam para que não haja o cessar-fogo a curto prazo.
Se a situação já era crítica, a cada dia que passa tende a piorar. Centenas de famílias, sobretudo na região Centro do país, já ambandoram as suas habitações e machambas. Centenas de crianças deixaram de ir à escola. Dezenas de viaturas foram queimadas. O trânsito entre o Norte, Centro e Sul de Moçambique é condicionado. Ainda, por causa dessa conflito armado cujo mote é até então inconfessável, o país atravessa o seu pior momento económico, com tendências catastróficas.
Quando parecia que havia luz verde no fundo do túnel, com o documento partilhado pela comissão mistade preparação do encontro entre o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, e o líder do principal partido da oposição, Afonso Dhlakama, eis que a situação mudou de figura. Estava claro que havia intenções de acomodar a exigência da Renamo de governar as seis províncias onde ganhou as eleições. Porém, misteriosamente é-nos brindado com o “dito por não dito”.
Diante desses aspectos, a conclusão que se chega é de que há vários interesses fortes para que o país volte a mergulhar em mais uma violenta e sangrenta guerra cívil. Ou seja, há quem está, por detrás da logística desta guerra, a levar habilmente água ao seu moinho. Há quem está a marimbar-se da triste e penosa situação por que centenas de moçambicanos são forçados a passar.
Continuar a promover guerra, dividir e destruir a nação é, sem dúvida, uma estratégia desesperada de um regime que medra a custa do subdesenvolvimento da população e teme que esses moçambicanos descubram os seus pés de barro. Portanto, hoje parece que ninguém tem mais dúvidas de que o maior problema desta país é a Frelimo e os líderes que ampliam os seus patrimónios pessoais a custa do sangue do povo.




Editorial, A Verdade

Falta de vontade política perpetua impasse, dizem analistas moçambicanos


Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama são responsaibilizados pela situação actual.

Analistas moçambicanos dizem que só com vontade política, sobretudo com a intervenção directa de Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama, é que se vai resolver o actual impasse no diálogo entre o Governo e a Renamo, resultante de desentendimentos quanto à cessação das hostilidades militares.
A Renamo exige que as forças governamentais retirem-se das suas posições, sobretudo na serra da Gorongosa, de modo a que possa parar com os seus ataques.
Para o Executivo, as forças devem manter-se nas posições onde se encontram, mas sem realizar nenhuma acção militar.
O analista político Fernando Lima defende que as partes devem rever as suas posições, sublinhando ser necessária vontade política para se ultrapassar o impasse.
Para o presidente do Parlamento Juvenil, Salomão Muchanga, que no passado sábado liderou, em Maputo, uma marcha de protesto contra a tensão militar, a solução para o problema está nas mãos do Chefe de Estado e do líder da Renamo.
"É fundamental que o assunto seja resolvido ao nível das duas lideranças", defendeu.
Por seu lado, o académico Hélder Jawana critica o silêncio dos intelectuais moçambicanos relativamente à presente tensão militar no país.
Para aquele académico, "a nata dos intelectuais não é para ficar calada, ela deve pensar e produzir soluções para esta crise que estamos a encontrar no campo militar".

VOA

"Caricato é que Filipe Nyusi venha, hoje, dizer aos moçambicanos que a paz é necessária, mas não a qualquer preço"


Xícara de Café por Salvador Raimundo
EM definitivo, os moçambicanos não estão preparados para mais escândalos.
Isso mesmo gritaram alto os manifestantes que sábado desfilaram por algumas artérias da cidade de Maputo, em representação dos demais moçambicanos em todo o país.
Sem pão que chegue porque o salário míngua e sem o arroz em quantidades para suportar um agregado familiar (média de cinco elementos), a fome é ainda agravada pela estiagem que tem assolado o sul e parte do centro de Moçambique, chamando a atenção dos doadores internacionais e do Programa Mundial para a Alimentação (PMA).
Mas é a guerra que mais aflige os moçambicanos, porque para além da sua natureza devastadora, condiciona a circulação de pessoas e bens entre o sul e o norte, passando pelo centro.
Isso mesmo motivou o desfile, sábado, de centenas de manifestantes em protesto contra a guerra não declarada, por tabela, chamando a atenção do facto de a crise de dívida oculta estar ainda por esclarecer.
Os moçambicanos exigem mais dos negociadores da paz e dizem que é urgente um cessar-fogo, acusando a arrogância e a intolerência principais argumentos que alimentam o recrudescer dos duelos entre o executivo e a Renamo, em sede de uma instância hoteleira da capital moçambicana.
Pese a garantia dada pelo presidente da República de que os seus delegados para a comissão mista gozam de independência, há semanas os moçambicanos assistiram ao episódio de clara interferência, através da comissão política da Frelimo, que forçou a comitiva a clarificar publicamente o teor de um entendimento havido entre governo e a Renamo àquele nível, sob mediação e facilitação internacional.
Tal acabou mexendo com todo o dispositivo organizacional que havia sido montado pelas três partes – governo, Renamo e mediadores – e que consistia no balanço por cada final da sessão negocial a ser apresentado, de forma rotativa, pela chefia das comitivas, Jacinto Veloso e José Manteigas.
Até à última sessão, coube a Mario Rafaelli, mediador-chefe, fazer-se de porta-voz.
Depois de algum avanço na questão relativa a governação das províncias, a comissão mista está a enfrentar dificuldades em alcançar consenso para um cessar-fogo provisório que seja.
Em causa, desconfianças mútuas. Dhlakama exige o recuo do exército por temer ser atacado e não lhe faltam argumentos credíveis, ou não credíveis, dependendo da análise que cada um fôr a fazer.
Caricato é que Filipe Nyusi venha, hoje, dizer aos moçambicanos que a paz é necessária, mas não a qualquer preço.
Então não é o mesmo Nyusi que em período de campanha e logo após tomada de posse andou a dizer que para a paz não deve haver outra coisa que esteja acima?
Não fosse a política ciência que só é válida quando os seus actores se contradizem, ao ritmo de afirmações contraditórias de manhã, a tardinha e a noitinha, diferente uma da outra...


EXPRESSO – 29.08.2016, no Moçambique para todos

Monday, 29 August 2016

“Cabe ao Governo e à Renamo convidarem a sociedade civil e os partidos políticos”

Mario Raffaelli sobre inclusão de outros intervenientes nas negociações
Mario Raffaelli, chefe da equipa dos mediadores internacionais nas negociações entre a Frelimo e a Renamo, disse, na semana passada, em Maputo, que compete às partes envolvidas no processo convidar organizações não-governamentais [geralmente apelidadas de “sociedade civil”] e os partidos políticos para darem as suas contribuições para a proposta de legislação sobre a descentralização, que está a ser preparada na Comissão Mista.
Há muito que se vem falando do envolvimento de outros sectores da sociedade no processo. Mario Raffaelli respondia a uma pergunta sobre quando seriam chamadas organizações não-governamentais para participarem na mesa das negociações e afirmou que, quando se fala do primeiro ponto da agenda, que é a “governação das seis províncias”, primeiro é preciso tomar em consideração que foi criada uma subcomissão encarregada de preparar uma proposta de legislação.
“Foi decido que, depois de criada a subcomissão, através dela as partes poderiam entregar as suas propostas de emenda legislativa à Comissão Mista. E acordámos que era bom a subcomissão convidar não só os peritos ligados a questões constitucionais, mas também os grupos da sociedade civil e de partidos políticos, para ouvir as suas sensibilidades ou ideias sobre a descentralização”, disse Mario Raffaelli, no dia em que partiu de Maputo de regresso ao seu país. Afirmou também: “A proposta dos mediadores de colocar o pedido dos seis governadores no quadro geral da descentralização era exactamente por isso, para dizer que a descentralização é um problema nacional, que deve envolver a todos”.
“Podemos dizer que há dois problemas.
Primeiro é a discussão do assunto que já está identificado.
Eu estava a ver a sociedade civil a levantar sugestões muito interessantes.
Do outro lado, a questão da descentralização, é uma maneira de resolver o problema político-militar.
Como mediadores, é importante, para nós, que a sociedade civil vá pressionar, vá participar activamente, particularmente sobre o assunto da paz possível”, declarou Mario Raffaelli. E acrescentou: “Ao divulgarmos a proposta e o consenso alcançado sobre o Ponto Um, era para darmos a entender que nós, como mediadores, trabalhámos, porque as pessoas podem pensar que estamos aqui a brincar ou a passear”.
Em relação à Missão de Verificação Militar Internacional, que os mediadores propõem, caso haja acordo sobre uma trégua militar, Mario Raffaelli disse que o número dos observadores vai depender dos locais que deverão ser verificados.
“Para tal, o ‘working group’ é que vai estudar quantas pessoas estarão envolvidas, fundamentalmente em Gorongosa, onde a segurança tem que ser criada”, explicou. Mario Raffaelli considerou que, embora o mecanismo possa demorar, é um mecanismo viável, dado que o primeiro passo seria a declaração da cessação das hostilidades.
Sobre o apelo para a cessação das hostilidades, que está contido na proposta, Mario Raffaelli disse que o apelo tem lógica “porque, a partir do momento em que ambas as partes dizem que, em princípio, querem tréguas, o problema que fica por resolver é procurar o mecanismo”.
 
“Obviamente, como mediadores, não queremos a violência de nenhuma maneira. É claro que pode ter uma lógica fazer a violência para atingir ganhos na negociação, mas uma vez que você tem a negociação com a presença dos mediadores, adicionado à vontade de ambos os lados, já não faz sentido continuar com a violência”, concluiu Mario Raffaelli.




(Bernardo Álvaro )


 

CANALMOZ, 29 de Agosto de 2016




Friday, 26 August 2016

Nyusi em maré baixa

 
Holanda, Suécia e Itália “indisponíveis” para receber Nyusi

Numa altura em que o país continua a precisar de encontrar mecanismos para lavar a sua imagem junto da comunidade doadora internacional, as démarches do executivo liderado por Filipe Nyusi, nessa direcção, continuam a não surtir efeitos positivos.
Exemplo disso, é a nega de receber o presidente moçambicano, que acaba de ser manifestada por três países europeus, nomeadamente a Holanda, Suécia e Itália. Naquilo que pode ser considerado subterfúgios para esconder as reais razões do “não”, os países alegaram questões de falta de disponibilidade dos dignitários com quem Filipe Nyusi pretendia manter encontros estratégicos.
No entanto, acredita-se que por detrás da nega “concertada” estarão questões relacionadas com a difícil digestão do escândalo das “dívidas escondidas”, que praticamente atiraram o país ao caixote de lixo do ponto de vista de performance macro económica.
A ideia de Filipe Nyusi era terminar o périplo pelos três países e, logo seguir para Nova Iorque e Washington D.C., nos Estados Unidos da América (EUA).
O mais enigmático nisto tudo, dizem as nossas fontes do SAVANA/mediaFAX, é que mesmo a sua visita à Holanda, para onde fora convidado pelo rei local, acabou sendo desconsiderada, oficialmente por motivos de agenda do monarca daquele país em que uma das firmas que garantiu a efectivação das dívidas ocultas avalizadas pelo Estado se encontra registada.
Ao que apurámos, o rei terá sido aconselhado a não receber o PR moçambicano, devido ao “potencial de problemas políticos que tal causaria no seio do Parlamento, media e sociedade civil”.
Também da Suécia, país que Nyusi pretendia visitar no périplo que idealizara, o PR moçambicano recebeu uma resposta negativa à sua solicitação de por lá passar em visita oficial, por, supostamente, o rei não dispor de fundo de tempo algum por aquelas alturas.
A Itália, país que o PR moçambicano incluíra na sua rota diplomática, chegaram notícias não boas. Matteo Renzi, o Primeiro-ministro transalpino, mandou informar que “lamenta bastante” não estar disponível a receber Nyusi, supostamente por se achar “muito concentrado” na política interna, nomeadamente na discussão sobre se aquele país deve ou não sair da União Europeia.
Apesar das más notícias de alegada indisponibilidade dos seus potenciais anfitriões europeus, Nyusi mantém no seu plano para Setembro a realização de uma viagem aos EUA, para, primeiro, participar, em Nova Iorque, na Assembleia Geral das Nações Unidas e, depois, receber, em Washington D.C., um prémio pelo “trabalho exemplar” que Moçambique tem estado a fazer no âmbito do combate à caça furtiva.
Ainda em Washington D.C., Nyusi espera manter um encontro com Barack Obama, presidente dos EUA. O SAVANA/mediaFAX sabe que o pedido nesse sentido já foi feito há semanas, mas, até pelo menos ao fecho desta edição, Maputo ainda não tinha recebido a resposta da White House.


MEDIA FAX . 26.08.2016, no Moçambique para todos

Thursday, 25 August 2016

Mediadores propõem presença de observadores internacionais para o cessar-fogo






Diálogo político


Os mediadores do diálogo político propõem a presença de observadores internacionais para a cessação dos ataques armados no país. A proposta foi hoje divulgada por escrito, e diz que a cessação dos ataques deve abranger Gorongosa, onde se supõe que esteja o líder da Renamo.

Os mediadores consideram que, para o efeito, deve ser criado um grupo de trabalho capaz de estabelecer as condições para um corredor desmilitarizado para o encontro com Afonso Dhlakama, e, também, manifestam o interesse por um cessar-fogo definitivo, que restabeleça a paz.




( O Pais )

Indignem-se, levantem-se este sábado e exijam que “parem com a guerra”, pois “o povo já não aguenta”




Os cidadãos e as organizações privadas não vinculados ao Estado tentam, mais uma vez, este sábado (27), persuadir o Governo e a Renamo, através de uma marcha pacífica em Maputo, a porem termo às suas desinteligências políticas no diálogo em curso e garantir cedências de ambas as partes, no sentido de os moçambicanos voltarem a desfrutar da paz de que estão desprovidos há anos. O momento servirá, também, para lembrar aos dois beligerantes que, ao contrário do discurso das elites do partido/Estado, o afrouxamento da vida do povo resulta da guerra sem fim à vista e das dívidas públicas secretamente contraídas no Executivo do antigo Presidente da República, Armando Guebuza.

A caminhada, com início previsto para as 07h30 (contração será meia hora antes) na estátua Eduardo Mondlane e com fim na Praça da Independência, é realizada sob os auspícios do Parlamento Juvenil (PJ), um dos organismos da sociedade civil que reclamam participação no (interminável) diálogo político entre o Governo e o maior partido da oposição no país.
Em Moçambique, as marchas não têm sido concorridas quanto se espera. Em 2013, por exemplo, as organizações da sociedade civil, desistiram de marchar pacificamente em Maputo, no dia 25 de Junho – dia da independência nacional – contra a guerra acabava de eclodir, devido à fraca participação de cidadãos.
Desde essa altura a esta parte, apesar do aparente aumento da insegurança, sobretudo nos centros urbanos, e da radicalização de posições entre o Governo e a Renamo, o cenário pouco mudou. O grosso dos moçambicanos parece optar pelo silêncio, murmura pelos cantos e manda passear a tudo e a todos quando é indispensável sair à rua, tornando, deste modo, o Estado das coisas caóticas como normal.
Face a esta situação, que em parte sugere que as pessoas pouco acreditam que as suas vozes juntas podem transformar o que para a minoria que comanda os destinos da nação é conveniente, Salomão Muchanga, presidente daquela agremiação, disse que a “apatia e o silêncio” não devem tomar conta da população. “Se repudiamos a guerra entre irmãos, todos devemos ir à rua e pressionar ao estado a fazer avançar o diálogo político”.
Para este líder juvenil, a paz de que o Chefe de Estado, Filipe Nyusi, os membros do seu Governo e correligionários falam, sem entanto torná-la real, “não é monopólio de ninguém”. Por isso, não deve ser privatizada. Num outro diapasão, Salomão Muchanga considerou que é um contrassenso que as partes em conversações na capital do país, e/ou que aqueles que até enchem a boca a falar de uma paz inexistente “apertem as mãos e rasguem sorrisos”, enquanto nos distritos as suas lideranças proferem discursos de ódio” profundo e as suas forças militares “enterram a juventude, a quem chamam futuro da nação”.


Direitos cada vez mais empobrecidos

Num outro desenvolvimento, o presidente do PJ, que falava quarta-feira (24) em Maputo, disse que não importa a proveniência/simpatia político-partidária de cada pessoa, se “a nossa prioridade é a paz, a inclusão política e a estabilidade económico-social”, é preciso que cada um vá marchar e mostrar a sua repulsão relativamente à situação do país.

Muchanga instou o povo a fazer-se à rua, de forma ordeira, ciente das vidas já perdidas por causa da guerra, a pensar nas crianças e nos jovens fora da escola”, no metical cada vez mais enfraquecido, porque o dinheiro foi supostamente canalizado para a “compra de material bélico”. E recordemos de que “temos os direitos dos cidadãos cada vez mais empobrecidos, enquanto os políticos e os filhos de políticos obesos conduzem os últimos audi’s e mercedes”.


Levantem-se!...

Por sua vez, Alice Mabota, presidente da Liga dos Direitos Humanos (LDH), que em Junho último esteve envolvida numa outra caminhada igualmente pouco concorrida, que visava exprimir a insatisfação do citadinos com a crise política e económica e falta de segurança, convidou os moçambicanos a perderem o medo da Polícia que, na sua óptica, pode impedir que as pessoas marchar livremente.

“Vamos mostrar a nossa indignação” e passar a mensagem de que “a vida está difícil. Em Tete, o quilo de açúcar custa 85 meticais. Isto deve-se à guerra e às dívidas [ocultas]”, disse ela.
De acordo com a dirigente daquela agremiação, hoje, as coisas parecem estar no caminho certo, porque “estamos nas cidades”, mas quando a situação difícil a que o país está mergulhado começar a ter impacto restritivo “nos nossos bolsos, vamos sentir que é necessário alguém levantar-se”, para, de acordo com Salomão Muchanga, dizer: “parem com a guerra, o povo já não aguenta”.
Num outro desenvolvimento, Alice Mabota disse que é inútil achar que as pessoas que vão à manifestação pacífica este sábado podem representar a todo povo, sem cada um estar lá para mostrar a sua indignação com a forma como Moçambique é conduzido. “Não fazendo a marcha, chegará o dia em que vai parecer tudo normal” e as camadas desfavorecidas irão “sentir o preço da guerra e da dívida” pública, rematou Alice.



Ainda não há data para suspensão das hostilidades


O GOVERNO e a Renamo concordaram ontem em suspender as hostilidades militares para permitir a entrada dos mediadores ou facilitadores internacionais na serra da Gorongosa, na província de Sofala, para se encontrarem com Afonso Dhlakama. Porém, não foi avançada qualquer data para que as armas parem de troar.
Num comunicado lido pelo chefe dos mediadores, Mario Raffaelli, no final de mais uma sessão de trabalhos da comissão mista, que durou cerca de sete horas, também não foram avançadas a data nem as modalidades sobre as quais se deslocará a equipa de mediação à Gorongosa.
Segundo Raffaelli, o Governo concorda com a proposta dos mediadores sobre a suspensão imediata de todas as hostilidades e de todas as formas de violência em todo o território nacional e considera que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) cumprem uma missão de Estado constitucionalmente consagrada.
Segundo o Executivo, representado na comissão mista pela delegação indicada pelo Presidente da República, as Forças de Defesa e Segurança nas posições que actualmente ocupam em todo o país estão em missão de protecção das populações, dos seus bens e para permitir a livre circulação dos moçambicanos num clima de paz, harmonia e segurança.
Considera que é a suspensão das hostilidades que garante a segurança do corredor a estabelecer para o movimento dos mediadores internacionais. Por seu turno, a Renamo também concorda que os mediadores ou facilitadores internacionais “visitem” o seu líder, aceitando para o efeito a observação duma trégua temporária junto à serra da Gorongosa, desde que o Governo retire as forças ali estacionadas, devido ao iminente perigo e insegurança que aquelas posições representam, segundo refere o comunicado.
Os mediadores entregaram às duas delegações uma proposta sobre a suspensão das hostilidades e colocaram à mesa do diálogo uma questão prévia sobre a necessidade de terem um contacto directo com o líder da Renamo. A decisão sobre a materialização do desejo manifestado pelas partes em sede do diálogo só poderá sair do encontro entre o Presidente da República e o líder da Renamo.
As sessões da comissão mista ficam interrompidas, por acordo entre as duas delegações e os mediadores, devendo ser retomadas no dia 12 de Setembro.




Tuesday, 23 August 2016

Relatório sobre os refugiados moçambicanos no Malawi







A Liga dos Direitos Humanos publicou um relatório aterrador sobre a situação dos refugiados no Malawi.
Essencialmente ele confirma que os moçambicanos da províncias de Tete e Zambézia, em número de 11500 fugiram de Moçambique das atrocidades das forças de defesa esegurança. Ao todo, foram mortos pelas FDS um total de 13 pessoas confirmadas e 3 pelas milícias da Renamo. As FDS são o maior violador dos direitos humanos.



Descarregue e leia por si so o relatório em causa 


 Baixe de: https://tinyurl.com/zsv6h7x

O megafone do Chipande

 
Certamente que o estimado leitor já deve ter-se apercebido das fracas capacidades do homem a quem agora cabe o título de Presidente da República. Mas isso enquadra-se bem num método de actuação de grupo que torna o homem fácil de gerir e não representa qualquer tipo de ameaça intelectual ou de qualquer outra índole para os seus fabricantes.
O próprio Nyusi, que sempre soube que era um cabaz político, agora já não consegue sequer fingir que é alguma coisa. Agora é obrigado a conviver com o embaraço de cuidar de assuntos recreativos e infantis, enquanto Chipande cuida da agenda principal. O facto de que tudo quanto é medida estruturante ter de ser anunciado por Chipande é a parte visível dessa hierarquização, onde Nyusi ocupa o lugar de megafone. Tudo quanto Nyusi disse até aqui são reproduções de pensamentos e às vezes frases completas ou editadas de Chipande.
O que está a acontecer é que mudámos apenas de figurino. Mas a qualidade ou falta dela, por parte dos protagonistas, segue intacta. Se Guebuza tinha, na altura, o Edson Macuácua para lhe reproduzir o pensamento vocal e fielmente, hoje o Chipande tem o Nyusi. A rigorosa diferença, na nossa modesta análise, é que o Chipande dispensou o Mercedes e a escolta presidencial para o seu porta-voz. Até porque faz sentido, pois este ainda é comparativamente mais jovem e ainda tem necessidade de algum exibicionismo de posses.
Não é preciso ser especialista em qualquer tipo de ciência para perceber uma hierarquia tão clara quanto a existente. Chipande é quem toma as decisões e as anuncia. Nyusi tem a tarefa de as reproduzir de forma fiel. Até pode editar algumas frases, isto é, não enveredar pela letra, mas aparentemente não está autorizado a contrariar ou distorcer o espírito de tais mensagens.
Por exemplo, já sabíamos pela boca de Chipande, quando este esteve na cidade da Beira em missões partidárias, que havia uma agenda de endurecimento de posição contra a Renamo e Afonso Dhlakama. Também não é novidade que, agora, a abordagem é consolidar a diabolização da Renamo junto dos cidadãos, atribuindo-lhe toda a culpa pelo que está a acontecer. Também não é novidade que a Frelimo está comprometida com o desenvolvimento e que a Renamo está a sabotar. Também não é novidade que a Frelimo vai continuar com a agenda de melhoria da vida dos moçambicanos. Tudo isto ouvimos da boca de Chipande, quando esteve na Beira. Chipande tomou a iniciativa de anunciar estas “novidades”, quando esteve na Beira.
E tudo quanto Chipande disse na Beira coincide exactamente com tudo o que Nyusi foi dizer em Manica, durante a sua “presidência aberta”. Algumas formulações das frases têm até a particularidade de começarem da mesma forma e terminarem da mesma forma.
Se fizermos algum esforço de retrospectiva cronológica, perceberemos que mesmo o plano de acabar com Afonso Dhlakama foi anunciado em entrevista ao jornal “Savana” por Salvador Ntumuke, em termos práticos uma espécie de coadjuvante do Chipande, e Nyusi recebeu ordens para ficar calado.
Portanto, em bom rigor, de Nyusi não se conhece novidade nenhuma. Quem quiser saber o que se vai passar nos próximos dias, deve ficar atento a Chipande e aos seus ajudantes, que são, para a infelicidade dos mais de 23 milhões de habitantes, os guias. Tal aviso é extensível aos membros do partido Frelimo que, a nível formal, têm no Nyusi a figura do presidente, mas que, a nível material, estão todos esclarecidos em relação a que entidade devem, de facto, ter em conta, e a quem ignorar.
Qualquer cidadão com nível de lucidez mediana percebe que quem está a lidar com Dhlakama e a Renamo neste momento é Alberto Chipande e os seus ajudantes e não o Nyusi. Quem está atento, percebe que Nyusi só fala de Dhlakama depois de Chipande se ter pronunciado a esse respeito. E, regra geral, Nyusi diz o mesmo dito proferido por Chipande. A Renamo e os mediadores já deviam ter-se apercebido de que o interlocutor válido no processo de negociações é o Chipande e não o Nyusi. Se os mediadores querem, de facto, algum grau de seriedade neste processo, é da mais elementar pertinência que, quando se chegar à fase de se encontrarem com as lideranças dos beligerantes, passem a reunir directamente com Dhlakama e com o Chipande, que é o dono das frases do Nyusi.
Lidar com Nyusi neste processo é lidar com um intermediário de efeito puramente cosmético. Nyusi jamais dirá o que os donos não mandaram dizer. Não é por acaso que Nyusi, até hoje, não tem ideias sobre qualquer coisa que diga respeito a este país. Pela forma como a organização foi montada, o papel de Nyusi é não ter ideias. E parece-nos que o protagonista está satisfeito com esse prestigiante lugar.
Para perceber a situação intelectual ou a capacidade de raciocínio de Nyusi, basta ficar atento às suas intervenções. Até aqui, Nyusi não disse nada de novo que o identifique como presidente de qualquer coisa, se não da recreação. O seu discurso não passa de um conjunto de generalidades e lugares-comuns que qualquer político estagiário pode dizer. Frases-feitas sobre “desenvolvimento, produção e produtividade”, “estamos comprometidos com a paz”, “estamos preocupados” e companhia comum limitada podem ser ditas por qualquer cidadão, desde que saiba escrever o seu próprio nome. Um conjunto de divagações repetitivas, intangíveis e, por isso, irreais têm servido de adjunto adnominal para especificar um cabaz político, feito porta-voz.





(Editorial Canal de Moçambique/CanalMoz)

HÁ AVANÇOS QUANTO A CESSAÇÃO DE HOSTILIDADES - MEDIADORES

 
 Os mediadores internacionais do diálogo político em Moçambique, entre o Governo e a Renamo, afirmam que as conversações sobre a cessação das hostilidades militares estão a registar alguns avanços, com as partes a manifestarem disponibilidade em concordar em certos pontos.
Temos alguns pontos que indicam não haver problemas entre ambos. Mas há outros que precisam de ser discutidos e aprofundados, disse Mário Raffaelli, Porta-voz dos mediadores, sem avançar detalhes.
Segundo Raffaelli, a discussão sobre a cessação das hostilidades iniciou sexta-feira última, após uma proposta feita pelos mediadores das conversações que visam restabelecer a paz efectiva em Moçambique.
A discussão foi feita na base de uma proposta entregue às partes na sexta-feira pelos mediadores, tomando em consideração o que foi discutido com ambas as delegações em encontros bilaterais, semana passada, disse a fonte.
Esta é a primeira vez que a Comissão Mista presta declarações à imprensa, após a polémica da semana passada relacionada com a reivindicação da Renamo em Governar nas seis províncias que alega ter vencido nas eleições gerais de 2014.
Na altura, o Porta-voz do encontro, José Manteigas, leu um documento anunciando a criação de uma sub-comissão que vai criar um pacote legislativo sobre a descentralização no país.
Sobre a governação nas seis províncias, as delegações concordam que devem ser encontrados mecanismos legais para a nomeação provisória dos governadores provinciais oriundos do partido Renamo o mais cedo possível, leu Manteigas.
Após esta declaração, alguma imprensa noticiou que o Governo concedeu as seis províncias à Renamo o que levou a delegação governamental a convocar uma conferência de imprensa para esclarecer o assunto.


(AIM)

Monday, 22 August 2016

"Talvez seja morto quando chegar". Etíope festeja medalha com gesto polémico





Feyisa Lilesa não se conteve. Depois de cruzar a meta da maratona "lutou" pelo seu povo, de braços cruzados.

O momento era de festa. Fevisa Lilesa ficou em segundo lugar na prova masculina de maratona. Com a medalha de prata conquistada, o atleta não resistiu e cruzou a meta com os braços cruzados e juntos à cabeça.
Mais tarde, Feyisa Lilesa explicou o motivo deste gesto. Deixou quem o ouvia num estado de perplexidade.

O atleta etíope referiu que os braços cruzados e levantados, junto ao rosto "é um sinal de apoio aos manifestantes do meu país que foram mortos pelo governo", começou por dizer. "Eles faziam o mesmo sinal. Queria mostrar que não estou de acordo com o que está a acontecer. Tenho amigos e familiares presos. O governo está a matar o meu povo, os Oromos, que não tem recursos", acrescentou.A tribo Oromo, historicamente marginalizada pelo Governo, revoltou-se por temendo perder as terras. Uma revolta travada pelo executivo. A organização Human Rights Watch diz que já morreram por esta causa cerca de 400 pessoas às mãos das forças de segurança.E agora? O que pode acontecer? Nem Feyisa Lilesa sabe, mas admite que algo de mal pode acontecer. Sem meias palavras declarou que "Talvez seja morto quando chegar, ou então preso. Também posso ser detido no aeroporto ou forçado a mudar de país. Como não tenho outro visto... talvez fique aqui", concluiu."Em 9 meses mais de mil pessoas morreram. Outras foram acusadas de traição. É uma situação muito perigosa para o nosso povo. A minha mãe, o meu pai e os meus irmãos não foram presos, mas outras pessoas sim. Não podes falar lá. Não podes falar com outras pessoas sobre política... Nada. Tudo o que escreveres tem de ser a favor do Governo", acrescenta o maratonista etíope.
O maratonista confessou que gostaria de ir para os Estados Unidos da América. No entanto, e para já, talvez não saia mesmo do Brasil. A mulher e os quatro filhos estão em Tóquio, onde Fevisa treina, mas a restante família continua na Etiópia e Lilesa teme por eles.

Concordo ...nao houve inclusao, a RM e a TVM promovem a guerra e os mediadores so podem criticar o discurso de Jacinto Veloso!



Saturday, 20 August 2016

Negociações prosseguem em Maputo entre obstáculos e avanços



Há otimismo quanto ao alcance de um acordo para cessação das hostilidades militares em Moçambique. A ideia está a ser discutida pela Comissão Mista encarregue de preparar um encontro entre Filipe Nyusi e Afonso Dlakhama.
As delegações do Governo e da RENAMO privilegiaram esta sexta-feira (19.08) contactos em separado para o debate, pelo segundo dia consecutivo, do ponto relativo à cessação das hostilidades militares.
O porta-voz da missão de mediadores internacionais, Mário Rafaeli, afirmou a saída do encontro que "estão a discutir, estão a discutir, estão a discutir".





Clima de incerteza





Um certo clima de incerteza instalou-se esta semana quando as delegações do Governo e da RENAMO divergiram ao apresentar os resultados dos entendimentos já alcançados em relação ao ponto da agenda sobre a exigência do maior partido da oposição de governar nas seis províncias em que afirma ter ganho as últimas eleições.
O chefe da delegação da RENAMO, José Manteigas, disse que as duas partes tinham acordado que devem ser encontrados mecanismos legais para a nomeação provisória, o mais cedo possível, de governadores provinciais oriundos daquele partido nas seis províncias.
Por seu turno, o chefe da delegação do Governo, Jacinto Veloso, disse que as duas partes não tinham chegado a qualquer acordo e que qualquer decisão sobre a matéria seria tomada ao mais alto nível pelo Presidente Filipe Nyusi e o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama.
O analista Fernando Gonçalves disse à DW África que não vê motivo para divergências. "Todos nós vimos o que está no papel. Aquilo que diz o documento é que tudo tem que ser feito para que o mais cedo possível sejam nomeados governadores para seis provincias que provenham da RENAMO."
A Comissão Mista concordou, igualmente, em constituir uma subcomissão para preparar um pacote legislativo que esteja em vigor antes das próximas eleições.
Para o analista Alexandre Chiure, "o facto de a Comissão Mista ter decidido rever um pacote de leis dá a entender que é justamente para acomodar esta situação que está a ser colocada pela RENAMO".
O pacote legislativo prevê a revisão pontual da Constituição, a revisão da lei dos órgãos do Estado, revisão da lei das Assembleias provinciais, aprovação da lei dos órgãos de governação e da lei das finanças provinciais, a revisão da lei de bases da organização e funcionamento da administração pública e o reexame do modelo de autarcização de todos os distritos. 





Pacote eleitoral pronto daqui a três meses





O pacote eleitoral deverá estar pronto até novembro próximo, mas Fernando Gonçalves considera pouco tempo. "São sete instrumentos legais, incluindo a Constituição que devem ser elaborados, apesar de haver uma subcomissão que vai tratar disso. Penso que três mêses é demasiado pouco tempo", diz
.As negociações entre o Governo e a RENAMO têm sido marcados por avanços e aparentes recuos. O analista Alexandre Chiure considera isso normal dada a complexidade da matéria que está a ser tratada.
"O que é preciso é discutir para que ao chegarem a acordo seja um acordo exequível, um acordo que depois vai ser implementado pelas partes e que nenhuma das partes considere mais tarde que foi enganado por outra", avalia.





Aumento da violência





Numa altura em que decorrem as negociações de paz regista-se uma escalada de ataques. Questionado pela DW África, Alexandre Chiure afirmou que "se trata de uma estratégia da RENAMO no sentido de estar numa posição de força para exigir e ganhar batalhas políticas na mesa".
Os dois analistas fazem um balanço positivo das negociações entre o Governo e a RENAMO e acreditam no alcance de um acordo de cessação definitiva das hostilidades militares.
Fernando Gonçalves diz mesmo que "podemos ter a esperança de que talvez até ao fim deste ano seja alcançado um acordo final e que ponha termo a atual situação em Moçambique".