Friday 12 April 2013

Senhor Presidente: Onde estão os patrões estrangeiros e saudosistas?



É, por todos os ângulos imperceptível a mensagem que o Presidente Armando Guebuza pretende passar quando sempre nos seus discursos ataca críticos invisíveis, ou seja, sem nomes. Praticamente está a arremessar pedras para todos os que ousam pensar e dizer ao contrário do que ele pensa e diz. Ele então, sabe de tudo e dele é a perfeição, por via disso, não quer escutar mais ninguém dos 20 milhões de moçambicanos.
O discurso no fecho da última sessão do Comité Central da Frelímo, talvez seja o mais espectacular pelo equívoco que transporta. Falou, o Presidente, de haver moçambicanos que vivem de patrões estrangeiros; que há saudosistas pelos patrões estrangeiros. Aplausos ecoaram dos bajuladores presentes e, de certo, ele ficou com a impressão "culta" de que a nação moçambicana estava ali na sala da Escola da Frelimo. Pensemos assim, então:

SAUDOSISMO

- é quando alguém, por exemplo, faz lembrar que até um pouco depois da independência, havia um autocarro que ia até ao povoado numa estrada de terra batida periodicamente em manutenção? E hoje, não é qualquer 4x4 que consegue chegar a aldeia.
- é quando alguém faz recordar que houve cantinas rurais que eram parte do sistema de fomento de agricultura artesanal e do comércio rural? E hoje, o pouco que o camponês produz não tem como e onde escoar.
- é quando alguém conta que Moçambique alguma vez foi o maior produtor mundial de algodão, copra, castanha de caju? E hoje, isso passou mesmo para história.
- é quando alguém lamenta que o país já teve uma indústria de caju que para além. De muitos outros benefícios, empregava milhares de pessoas? E hoje, há mais indústria académica e depois, desemprego.
- é quando alguém de mão no queixo, recordar que já tivemos aqui fábricas como a Texlóm, a Vidreira, a Texmanta, a Riopele, a Máquinag, a Cometal Mometal, etc? E hoje, não se fabrica nada em Moçambique.
- é quando alguém se refere aos tempos das bem cuidadas acacias e da fina orla marítima de Lourenço Marques, do requinte da Beira, Nampula, Quelimane...? E hoje, é só retiros de cólera, malária e outras doenças ligadas a imundice. Depois tem que se ir à inspecção da viatura para em seguida circular em buracos do tamanho da propria viatura. Justo! Ainda são cidades?
Dirá assim, o presidente de que é saudade do colono? Quer dizer o país antes não existiu? Não há nada que se pode rebuscar? Mas em contrapartida, não há nenhuma vila nova construída nos últimos 35 anos; muito menos cidade! Basta falar para ter feito.

PATRÕES ESTRANGEIROS

Afinal, quem está assustado com os Mega projectos e com a entrada massiva de estrangeiros no país? É, também, o senhor presidente? Então, nós e o nosso presidente não sabemos como é que existem estrangeiros neste país; não sabemos quem assina os contratos para empresas estrangeiras operarem em Moçambique, explorando nossos recursos?
É preciso que haja clareza. As pessoas que o senhor presidente ataca, se forem do lado de cá, não sabem como foram feitos os contratos para a produção de alumínio, nem para a exploração de carvão, areias pesadas, petróleo, gás, madeira. Mesmo para que a nossa costa seja explorada quase que exclusivamente pelos estrangeiros, fomentando um turismo também não moçambicano. Esses estrangeiros são patrões de quem?
O senhor presidente deverá saber que a crítica é também dever e direito das pessoas no exercício das suas liberdades atinentes à sua condição de cidadãos. É uma forma de participar no processo de desenvolvimento do país. Muitos dos críticos sequer são opositores ao regime; não aspiram ao poder político e, provavelmente, votaram no actual presidente e na Frelimo. Votar é confiar e quem tem confiança tem expectativa e esperança de que verá as suas ideias consideradas ou no mínimo não desprezadas. Naturalmente, que o senhor presidente governa melhor que nós porque nunca fomos governantes, mas sabemos o que queremos como governados.
Em Moçambique a oposição até porque critica pouco; agita! Os que opinam e comentam reconhecem a legalidade do regime, mas questionam. Ou é mau questionar?
Portanto, os patrões estrangeiros e seus empregados estão desse lado, onde o senhor presidente está. Se o seu discurso se refere a esses, então estamos de acordo.
O povo não tem culpa de ser a maioria, mas que expõe suas obras fora da galeria política.

 FERNANDO PENGAPENGA, Jornal "SAVANA", 05 de Abril de 2013.

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