QUANDO Filipe Paunde era governador de Nampula disse uma vez num comício popular na Ilha de Moçambique que “os interesses políticos não estão acima dos interesses do povo”. Maputo, Quinta-Feira, 11 de Abril de 2013:: Notícias
Ele fez este pronunciamento quando tentava amainar os ânimos dos membros e simpatizantes da Frelimo e Renamo que tinham criado confusão no local onde decorreu o comício. Foi uma boa lição dada, se se considerar que foi um grande “puxão de orelhas” sem excepção, prevaleceu o espírito de tolerância política, tanto é que quanto mais tarde interviesse, mais difícil seria “pôr-lhes um travão”.
Teve ele uma noção mínima sobre o que poderia acontecer caso “descuidasse”ou fosse arrogante no comício que orientava. E é esse espírito que o país precisa neste momento difícil para a manutenção de um diálogo sólido, sem preconceitos de superioridade, orgulho ou arrogância. Acima de tudo sem “musculatura” por parte da Frelimo e Renamo para que tenhamos sempre a paz na nossa pátria amada. Que não se brinque com coisas sérias como a situação que se vive em Muxúnguè.
Sejamos realistas! É um facto indesmentível que nunca conseguiremos ter um diálogo sólido e que traga os resultados que todos desejamos ou clamamos no nosso país enquanto não houver humildade, os interesses dos partidos políticos sobreporem-se aos interesses do povo, os dois protagonistas do cenário que se verifica continuarem a endurecer as suas posições, fazendo discursos inflamatórios e desenquadrados com a realidade política que vivemos.
Todos questionamos onde vamos parar com toda esta violência que só prejudica a vida de inocentes e o desenvolvimento económico e social do nosso Moçambique. Se todos os dias insistimos que haja diálogo, donde vem então esta violência que está a merecer indignação e repúdio? São perguntas que ficam no ar com o propósito de se reflectir individual e colectivamente, o que parece nos faltar. Reflectir no que fazemos como políticos, dirigentes, polícias, militares, estudantes, jornalistas, comerciantes, artistas, enfermeiros, professores, académicos, futebolistas e cidadãos quaisquer. Haja bom senso ou senso de responsabilidade pela promoção de um verdadeiro diálogo que faça com que nenhum partido político tenha homens armados.
O momento não é próprio para a demonstração de força, isso é corrigir um erro com outro erro. Deve haver, sim, vontade política de dialogar. Tenhamos um conhecimento lúcido, descomplexado de que, de facto, o diálogo é o único caminho para a manutenção da paz e consolidação da democracia no nosso país, para tal, precisamos de concentrar esforços, claro, elevando os interesses do povo acima dos políticos. Não parece fazer sentido que todos os dias ou num momento como este em que o povo apela o Governo e a Renamo para dialogarem, sejamos dados a observar ou ouvir discursos que aparentemente contrariam esse apelo.
Mas quero acreditar que no contexto político actual tenha vindo a tornar-se mais oportuna a efectivação do almejado diálogo, que talvez venha igualmente a conferir à Renamo capacidade e vontade de construir uma perspectiva de poder sem recorrer às armas e tornar a Frelimo cada vez mais tolerante, tudo em benefício do povo e do próprio país, isto é, pondo os interesses do povo acima dos interesses políticos. Sem isso é ilusão imaginar que haverá verdadeiro progresso económico e social em Moçambique.
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