Tuesday 18 March 2008

Sem papas na língua

Em entrevista exclusiva concedida ao «Canal de Moçambique», o jurista da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH), Custódio Duma afirmou sem "papas na língua" que os resultados do crescimento económico repetidamente propalado pelo governo "não se reflectem na satisfação das necessidades do povo, porque o governo trabalha não para o seu povo, mas, sim, para prestar contas aos doadores". Custódio Duma afirma que "à semelhança de outros tantos governos africanos, o executivo de Armando Guebuza trabalha para prestar contas aos doadores, por isso mesmo o crescimento económico que o próprio governo diz que é satisfatório não se reflecte na melhoria das condições da vida dos cidadãos". Convidado a explicar melhor a sua tese, o jurista considerado número dois da organização presidida por Alice Mabota, disse que "o empenho do executivo moçambicano é de provar com números aos doadores, dizer que já atingimos 50 a 70 por cento das metas traçadas, mas em termos da aplicação, eles não reflectem a realidade". "Dizem que o crescimento económico foi de dois dígitos, mas o salário não aumenta! Dizem que já matriculamos 20 mil crianças nas escolas, mas todos não sabem ler nem escrever! Dizem que construímos tantos novos centros de saúde, mas doentes continuam a morrer sem atendimento hospitalar! Isso é prova de que o governo está mais interessado com os números para prestar contas aos doadores, mas na realidade o povo continua na miséria", vaticinouDuma. Sobre esta matéria do “crescimento económico que não se reflecte a vida real do cidadão”, o «Canal de Moçambique» já ouviu o porta-voz do Governo, o vice-ministro da Educação e Cultura, Luís Covane, tendo este respondido que "não é possível esgotar as necessidades dos cidadãos, pelo que o governo trabalha ciente de que nunca irá satisfazer de forma completa as necessidades do cidadão, pois, estas são insaciáveis". Covane concedeu a entrevista a este diário no final da segunda sessão de conselho de ministros, onde entre vários assuntos discutidos, foi aprovado o Plano Económico e Social de 2007, e foi considerado "satisfatório que o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu mais do que o
previsto no ano transacto”.
Comícios desnecessários
A governação de Armando Guebuza para além de ter trazido o discurso de combate a pobreza como característica principal, caracteriza-se, a partir do próprio PR, passando pelos presidentes dos municípios governados pela Frelimo, e até governadores províncias, pelo esbanjamento de fundos do Estado com viagens de ostentação de riqueza absoluta ao povo, que nos comícios que voltaram como forma de se fazer política em Moçambique, apenas vai exibir a sua miserável. Nas viagens às localidades, usam-se helicópteros de custo operacional proibitivo, four by fours e tendas luxuosas que até então eram conhecidas apenas através da televisão das férias de indivíduos abastados de outros continentes. Diz-se a título justificativo das viagens que o Chefe de Estado anda a realizar que “está a realizar presidência/governação aberta para auscultar aos cidadãos sobre as suas necessidades e preocupações". Mas auscultada ao custo que essas viagens estão a sair ao erário público, contrariamente ao que se podia esperar, a vida das populações está cada vez pior e disso as pessoas se queixam cada vez com maior insistências. O «Canal de Moçambique» a esse propósito questionou o jurista da Liga de Direitos Humanos se há necessidade dos referidos comícios. Custódio Duma considera que "as presidências abertas não trazem e nem trarão resultados aos cidadãos porque os governantes não cumprem com as promessas que fazem aos cidadãos". "Eles (os governantes) vão ouvir os problemas dos cidadãos, prometem resolver os seus problemas, mas nunca o fazem! Os cidadãos continuam sem escola, sem hospital, a criminalidade se agudiza, nada melhora, então o cidadão começa a ver que afinal o que nos prometeram era tudo mentira", disse Duma. Em sua opinião, Custódio Duma entende ainda que "os comícios populares adoptados por Guebuza e seus subordinados são desnecessários enquanto as promessas que são feitas à população não se concretizarem”.
Boicote nas eleições como consequência
Como consequência de promessas feitas pelo governo à população, as quais não cumpre,
uma acredita que isso resultará no boicote aos pleitos eleitorais que se avizinham no Pais, por parte dos cidadãos. "Os cidadãos, cansados de promessas sem concretização, vão se sentir sem motivação para votarem, pois afinal tudo o que os governantes prometem não passa de falsas promessas", sustenta Duma. "O que vai acontecer é que teremos um governo que não se identifica com o seu povo, porque o povo não vai votar, portanto, não será um governo legítimo representante do povo, pois, não será eleito pelo povo, mas por uma minoria", afirma Custódio Duma. (Borges Nhamirre, Canal de Moçambique, 14-03-2008)

4 comments:

Ivone said...
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Ivone said...

Apesar de estar longe e não saber muito bem o que se passa em Moçambique, quando lá estive, chocou-me muito ver que os ricos lá parecem os mais ricos do mundo e os pobres os mais pobres do mundo. Diferenças sociais e de classe há sempre, mas às vezes as diferenças são chocantes. Ainda por cima quando muitos políticos são os mesmos que defendiam a distribuição da riqueza pelos cidadãos. Eu também defendi esse sonho.
Por isso gostei de ver que há pessoas como o Doutor Custódio Dumas, i.e., que não tem papas na língua e dão voz aos que não tem. Mas isso deve se dito em voz alta. Se não fosse pela net e através dos blogues eu não sabia nada do que se passa lá. Será que não é conveniente? São vidas que não contam?
É a economia de mercado? Que responsabilidades tem o governo? Será que é uma coisa impossível de controlar? Em Angola parece que ainda é pior (petrodólares, diamantes etc. não servem para alimentar barrigas vazias).
Qualquer das maneiras, aqui, fica-se com ideia que as coisas estão a melhorar. Pelo menos já há paz para que isso aconteça.

JOSÉ said...

Ivone, a paz em Moçambique é uma paz podre, a paz não é só a ausência da guerra, teria de ser muito mais.
As disparidades sociais são mesmo chocantes, por vezes as grandes fortunas são originadas na corrupção e negócios ilícitos.
Não é conveniente o povo ler estas coisas, os principais órgãos de informação são controlados pela Frelimo, por isso o Guebuza, na recente visita à Holanda aconselhou que se lesse o Notícias e se ouvisse a RM.
Outra grande mentira do regime é que as coisas estão a melhorar e apresentam certas estatísticas, mas o Povo sabe que não é assim.
É esta realidade que tem de ser conhecida pelos que vivem fora, para que não acreditem na propaganda e para que se tenha uma visão realista, as coisas em África precisam de ser mudadas.

Ivone said...

Para mim não é uma questão partidária, mas eu não percebo muito destas coisas. O que tenho visto é que a política (no mundo) é um jogo e muita gente joga um jogo sujo. Qualquer das maneiras a população começa a manifestar o descontentamento e isso obriga a mudanças. Oxalá que o fosso entre ricos e pobres 'desapareça'.