Saturday, 28 February 2009
Humor: Reunião de mulheres...
Friday, 27 February 2009
Thursday, 26 February 2009
O estranho caso Alex (3)
José Rosa, consul de Portugal na Beira, afirmou que ficou a saber que a pessoa dos serviços de migração que executou o documento da expulsão, não deu a conhecer ao Alex a decisão de que fica proibido de entrar no país por um período de 10 anos. Acho muito estranho, então expulsam um estrangeiro e o acusado não sabe que durante 10 anos não pode regressar? Não há documentos que provem que o Alex sabia?
A Embaixada de Portugal estava atenta a este caso e tentou marcar uma audiencia com uma autoridade máxima que podia ajudar a resolver este problema, mas essa audiencia foi negada. Porquê?
Na altura da expulsão, alguém disse ao Alex em tom de confidencia para ele não se preocupar, pois logo que a situação acalmasse (certamente que estava a falar da situação política na Beira) poderia regeressar, deveria esperar uns seis meses, todos se esqueceriam do caso e poderia regularizar a situação.
O Ministro do Interior tem poder para expulsar e impedir o regresso por 10 anos, mas penso que essa prerrogativa só seria usada em casos extremos. É normal em Moçambique uma pessoa ser impedida de entrar no país durante 10 anos? Em que circunstancias? Estas perguntas são importantes porque sabe-se que alguns estrangeiros entram e saiem sem problemas, quando se suspeita que estão envolvidos em actividades suspeitas. Para não ir mais longe, os traficantes e os que foram apanhados com dólares, foram impedidos de entrar por um período de 10 anos? Esta medida é aplicada frequentemente ou esta é uma excepção?
Vou terminar por hoje com uma advertencia: eu não quero fazer o papel de advogado do diabo nem quero desculpar a todo o custo o Alex, apenas pretendo alertar para certas anomalias deste insólito caso que mexe com a minha conciencia. De modo algum quero alimentar polémicas ou promover sensacionalismo, apenas pretendo salientar que este caso tem vertentes jurídicas, humanas e políticas. Sei perfeitamente que me faltam alguns dados para fazer uma análise profunda, mas como já tinha afirmado, o que me preocupa mesmo são os escassos dados disponíveis.
( Continua) ...
Tuesday, 24 February 2009
O estranho caso Alex (2)
Como expliquei, a alegação de que o Alex afinal não é moçambicano deixou muitas pessoas atónitas pois não havia dúvidas sobre a sua moçambicanidade. Devo acrescentar que o alegado nascimento do Alex em Angola é um dado novo.
Na altura da sua prisão, as autoridades revelaram que o Alex tinha em seu poder uma certidão de nascimento falsa que o identificava como natural de um distrito da Zambézia, e uma declaração que o autorizava a tratar de uma outra certidão de nascimento, como tendo nascido na Beira. Este pormenor é extremamente importante pois revela que o Alex queria regularizar a sua situação. A versão que eu tinha era que houve desaparecimento de documentos no seu distrito na Zambézia, possivelmente devido à guerra civil. Há lacunas que eu não consigo explicar mas que não invalidam o meu argumento de que o Alex tem direito à nacionalidade moçambicana.
Resumindo, temos então um cidadão, nascido ou não em Moçambique mas vivendo no País há meio século, filho de mãe moçambicana, considerado moçambicano e que tinha vontade de ser moçambicano.
( Continua )
Monday, 23 February 2009
O estranho caso Alex (1)
Numa postagem recente, fiz referencia ao estranho caso Alex e prometi voltar ao assunto.
Alexandre Gonçalves Júnior, mais conhecido por Alex, nasceu há 55 anos, alegadamente em Moçambique, filho de mãe moçambicana. A versão mais recente deste drama é que na realidade o Alex nasceu em Angola, residindo em Moçambique desde criança. Nascido em Moçambique ou residindo em Moçambique há meio século, independentemente do que os políticos e os burocratas possam afirmar, o Alex tem direito à nacionalidade moçambicana. O Alex praticamente viveu sempre em Moçambique, constituiu família e fez de tudo um pouco, foi alfabetizador e professor, sendo formado na área de comunicação e imagem. Em todas estas décadas, a nacionalidade do Alex nunca esteve em causa, ele sempre foi considerado moçambicano e ele assumia-se como tal.
Em Agosto, fomos surpreendidos com a notícia da prisão e posterior expulsão do Alex, num processo pouco claro que tresanda a injustiça e possível ilegalidade. O Alex foi expulso para Portugal, um país que não lhe diz absolutamente nada, deixando a família em Moçambique, incluindo a companheira em adiantado estado de gravidez. É notória a falta de humanidade neste caso, tendo em conta que o Alex tem direito à nacionalidade moçambicana, deveria ter sido dada oportunidade de regularizar a sua situação.
As autoridades afirmam que o Alex tinha sido proibido de entrar em Moçambique por um período de 10 anos. Pelo que sei, o Alex foi posto num avião sem saber dessa decisão, o que é muito estranho. Devemos questionar se este é um procedimento normal.
Dois meses depois da sua chegada a Lisboa, o Alex resolveu regressar a Moçambique, pois sentia-se isolado, injustiçado e abandonado, preocupado com o estado da sua companheira, prestes a dar à luz. O Alex entrou legalmente em Moçambique pela fronteira de Ressano Garcia, onde lhe foi concedido visto com a duração de um mês. Mais tarde, saiu e entrou legalmente pela fronteira de Machipanda, onde obteve de novo um visto com a validade de um mês.
Nas vésperas do seu casamento com a companheira, o Alex foi preso, e aqui temos de questionar se este é um procedimento normal. Ao casar com uma mulher moçambicana, o Alex poderia ter um argumento ainda mais forte para regularizar a sua situação como moçambicano.
O Alex encontra-se detido desde o dia 1 de Dezembro na cadeia de Savane, cadeia essa que enfrenta graves problemas de sobrelotação. Apesar da assistencia jurídica que lhe tem sido prestada, o Alex sente-se desanimado com toda esta situação, tanto mais que, pelo que sei, ainda não teve oportunidade de ver o seu filho, nascido há quase dois meses.
Voltarei brevemente a este assunto!
Sunday, 22 February 2009
Nacala do meu descontentamento
Na primeira notícia, o Observatório Eleitoral denuncia actos ilícitos em Nacala Porto, prontificando-se a identificar os seus mentores.
Num outro desenvolvimento, o jornal divulga as declarações de Leopoldo da Costa, Presidente da CNE, a propósito das ilegalidades cometidas e comenta:
" A CNE reconhece que houve má fé na anulação dos votos por parte de alguns interessados e intervenientes no processo eleitoral em Nacala-Porto, recorrendo ao uso da tinta indelével ou esferográfica em prejuízo dos dois candidatos.
As declarações de Da Costa dão razão à Renamo e à AWEPA que dizem ter havido fraude massiva em Nacala-Porto com proporções criminais.
Apesar da CNE repugnar estas irregularidade e reconhecer que constituem um acto ilícito eleitoral, previsto e punível nos termos do artigo 175, da Lei n.o 18/2007, não diz o que irá fazer daqui em diante com vista ao esclarecimento deste crime e punição dos seus perpetradores, muito menos põe em causa a vitória do candidato da Frelimo.'
Perante este quadro, como pode Chale Ossufo ser declarado vencedor. e como é possível que os criminosos ainda nem sequer tenham sido interrogados?
Confira: www.opais.co.mz
‘We want Zuma, corrupt or not ’
Her deputy, Joe Seremane’s “ role . .. is to smile at the madam every time,” he said.
IFP leader Mangosuthu Buthelezi was “Mickey Mouse” and COPE consisted of “angryists” who “don’ t smile”.
He came to ANC president Jacob Zuma’s defence: “If Zuma is corrupt, then we want him with all his corruption. We want him with all his weaknesses. If he is uneducated, then we want him as our uneducated president. ” Zuma, he said, understood SA economics, which amounted to: “Put a bread on the table. We don’t want sophistication.”
Meditando...
Naquele momento, o marido da professora disse:
Chocolate quente
(Autor desconhecido)
Saturday, 21 February 2009
Frases do descontentamento popular
Em Moçambique temos os melhores gestores e administradores ... que o dinheiro pode comprar.
Já basta de realidades, queremos promessas.
O país estava à beira do abismo, agora deu um passo em frente.
A dívida que Moçambique tem não é externa, é eterna.
As inundações não se produzem porque os rios transbordam, mas porque o país se afunda.
Alguns nascem com sorte, ... outros em Moçambique.
É proibido roubar, o governo não admite concorrência.
Este governo é como um bikini, ninguém sabe como se aguenta, mas todos querem que caia.
Moçambique é uma horta encerrada por falta de tomates.
Eutanásia: relato de um homem
Então eu disse-lhe :Nunca me deixes viver num estado vegetativo, dependendo de uma máquina e de líquidos. Se me vires nesse estado, desliga tudo o que me mantém vivo, ok?
Vocês acreditam que a filha da p... se levantou, desligou a televisão e deitou fora a cerveja que eu estava a beber ?
Friday, 20 February 2009
Um novo partido politico em Moçambique – Será o fim da História?
Acompanhamos pelos meios de comunicação social e por todos o cantos de que está eminente a criação de um novo partido político em Moçambique. O novo partido, se for a surgir, será, provavelmente, liderado pelo actual presidente do município da Beira.
Leovigildo Novidades Juliasse
www.leoiuris.blogspot.com
Editorial do Zambeze
Porque não Ponte Urias Simango, entre Caia e Chimuara?
Na última edição do Semanário ZAMBEZE, Francisco Rodolfo, solicito funcionário do Ministério dos Transportes e Comunicações, membro activo do Partido Frelimo e cronista regular deste semanário, propôs na sua habitual rubrica “MAPUTADAS” que o nome do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique, Doutor Eduardo Chivambo Mondlane venha a ser atribuído ao Aeroporto Internacional de Maputo. A proposta veio em boa hora. E teve o mérito de fazer jus a um dos homens que conseguiu unir num só movimento os grupos que já pensavam em conseguir a auto-determinação e independência do País mas que, divididos, estavam a encontrar barreiras difíceis de transpor e a adiar a emancipação de todo um povo.
Tutu and tyranny in Africa
"For many of us, an upright US was a great inspiration in our fight against the iniquity of apartheid," he wrote.
"I pray that President Obama will come down hard on African dictators, especially because they cannot credibly charge him with being neo-colonialist."
Thursday, 19 February 2009
Nacala a ferro e fogo
Está vedado, por regras internacionais, o acesso ao poder por via de golpe militar. Sem igualdade de oportunidades para se beneficiar dos meios financeiros, humanos e outros disponibilizados pelo Estado, se se pretende evitar convulsões de graves proporções, tais regras continuam injustas. A alternância na governação é um pressuposto democrático que não deve ser impedido com recurso à força, intimidações ou chantagem. O ser funcionário público não implica que seja, só por si, membro do partido no poder. A adesão a um partido deve ser um acto voluntário.
Nos dias em que decorreu o processo eleitoral, a cidade de Nacala estava sitiada, como forma de intimidar que os eleitores votem em conformidade com os ditames da consciência. O SISE meteu-se no barulho, em Socorro do patrão. Não é tarefa dos Serviços de Informação e Segurança do Estado, SISE, ajudar o partido Frelimo. Nacala não tem presença significativa de militares, mas, era comum encontrar viaturas civis trans-portando soldados, portando capacetes com inscrição PM. O que faz a Polícia Militar num jogo que deve envolver, apenas, partidos e populações?
O Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique despachou um importante contingente para Nacala. Dos distritos vizinhos de Nacala, chegaram polícias e respectivos comandantes. Nos dias imediatos à divulgação dos resultados, viaturas, com timbres do partido Frelimo, carregavam pessoas trajadas a civil, porém, tratavam- se policias, de regresso, como foi o camião de marca TATA, MNP–11-20, cor branca, a 15 de Fevereiro, que monitorei até ao Comando Provincial. Um polícia disse que tinham ido à Nacala para bater! Nem mesmo os deputados da oposição escaparam à pancadaria e detenções.
Jovens, apoiantes da Frelimo, conversam, orgulhosos de terem participado na distribuição de arroz, óleo e outros produtos, pelas mesquitas. Outros diziam ter introduzido, pelo menos, mais que um boletim de voto nas urnas, seguindo a instrução recebida de arregaçar a manga direita da camisa logo que se chegassem à mesa de votação. O sinal era conhecido dos presidentes de mesa.O uso de tinta, como foi na Mocímboa da Praia, em 2005, para inutilizar votos, voltou a funcionar, em Nacala. O presidente da mesa 1894 inutilizou 109 votos favoráveis a Santos. Noutra mesa vizinha, com o mesmo processo, anularam 149. O partido Renamo é incapaz de impedir que o seu adversário faça fraudes. O partido no poder, Frelimo, sempre, há-de fazer ilícitos em pleitos eleitorais até que apareça um adversário forte e organizado, capaz de evitá-los. O poder não se oferece.
NOTA: Edwin Hounnou é um respeitado e íntegro jornalista que esteve em Nacala para acompanhar todo o processo eleitoral, este relato é credível e estou certo que muitos outros observadores isentos se irão pronunciar.
Numa das postagens anteriores tive oportunidade de alertar para o que se passou em Nacala e manifestei a minha preocupação perante estas situações que fazem perigar a estabilidade nacional. Vamos ser honestos e questionar se é isto que pretendemos para Moçambique?
Wednesday, 18 February 2009
Pensamento do dia
( Lincoln )
Tuesday, 17 February 2009
Com Daviz Simango na liderança : Novo partido político começa a desenhar-se
Carvalho explicou que a criação da aludida formação política é fruto da pressão das bases da Renamo pró-Daviz. Assim, brigadas deste movimento efectuaram recentemente consultas populares em todas as províncias do país, uma acção que, segundo a nossa fonte, resultou na angariação de 292.000 assinaturas.
“O que mais nos encorajou foi o facto de na província de Gaza termos conseguido mais de nove mil assinaturas. Não era de esperar tendo em conta que é uma região onde a oposição não tem muita expressão. Sofala, Manica e Nampula foram as províncias em que mais assinaturas conseguimos. Em Manica, angariámos mais de 26 mil”- revelou.Geraldo Carvalho disse que concorrer às eleições provinciais e gerais deste ano é a grande aposta da formação política em formação.
“Está confirmado, o engenheiro Daviz Simango vai concorrer às presidenciais deste ano para satisfazer a vontade das bases. Por isso, a Assembleia Constituinte será realizada daqui a menos de 30 dias, para permitir que cumpramos com outros procedimentos legais em tempo útil e entrarmos na corrida eleitoral”- referiu.
O nosso informador assegurou que a confirmação da criação do partido político em referência marca oficialmente o divórcio entre os pró-Daviz e a Renamo, incluindo o seu líder, Afonso Dhlakama.
Questionado se Daviz vai ou não renunciar ao seu mandato no Conselho Municipal para acomodar essa intenção, Carvalho escusou-se a entrar em detalhes, mas assegurou que tudo será feito em cumprimento das leis vigentes.
Carvalho fez saber também que a base da criação deste partido está sediada na vila do Dondo, em Sofala.
Na vizinha África do Sul, para onde Daviz efectuou recentemente três viagens consecutivas, existe um núcleo forte deste movimento.
A actual chefe da bancada da Renamo na Assembleia da República e candidata derrotada à presidência do município de Cuamba, Maria Moreno, os ex-assessores de Dhlakama, Ismail Mussá e Agostinho Ussori, são, entre outras, as figuras que estão a dinamizar a criação deste partido.Para além destes, constam ainda nomes como o do presidente da MONAMO, Máximo Dias, e o advogado beirense Eduardo Elias, que estão a assegurar os aspectos jurídicosdo processo de formação do novo partido.
A Opiniao de Noe Nhantumbo
O subtítulo é um pouco uma força de expressão que alguns até podem considerar de bem colocado.
( Noé Nhantumbo, citado em http://www.manueldearaujo.blogspot.com/ )
Monday, 16 February 2009
Chale vence, a democracia perde!
Para além de a fraude ser sempre um crime, a vontade do Povo é atraiçoada e a imagem do País fica manchada. A longo prazo, as fraudes prejudicam a Frelimo, pois fica sempre a dúvida se os seus candidatos, mesmo aqueles com qualidade, se vencem honestamente ou fraudulentamente. Não interessa ao País que a CNE e STAE sejam desacreditadas e manipuladas pela Frelimo. O único meio de combater este cancro é denunciar e castigar severamente todos os que cometem ilegalidades nos processos eleitorais.
Em ano de eleições, é preocupante constatar que a Frelimo continua a apostar em campanhas sujas e na fraude eleitoral!
O guarda-chuva da moçambicanidade!
A imensa e exuberante figura de Eduardo Mondlane constitui a sombra refrescante e o cobertor aconchegante que a todos os moçambicanos acolhe e conforta, independentemente do pluralismo das visões político-ideológicas que os possam caracterizar na prossecução da sua vida diária.
Eduardo Mondlane foi o catalisador e aglutinador, não só dos três movimentos então existentes, mas, sobretudo, das esperanças e das expectativas libertadoras do povo moçambicano, rumo a um futuro inteira- mente dependente da sua capacidade criadora.
Mais do que o timoneiro da luta pela liberdade do seu povo. Mondlane foi um líder inspirador de uma vasta teia de gerações de combatentes por um Moçambique melhor.
Mondlane foi o moldador da consciência libertadora do povo moçambicano.
Mondlane foi aquele homem que disse ao povo moçambicano que sim, "nós podemos vencer o colonialismo Sim. nós podemos ser donos do nosso próprio destino. Sim, nós temos capacidade para construirmos o nosso próprio caminho de liberdade e de felicidade".
Desse modo, Eduardo Mondlane entrou nos anais da História Nacional como o arquitecto da cidadania moçambicana, o fundador e o patrono da nossa identidade, enquanto elementos do povo moçambicano.
Por isso, celebrar a passagem dos 40 anos após a morte, em combate, de Eduardo Mondlane é reviver momentos empolgantes da gesta libertadora do povo moçambicano, é relembrar a História recente de Moçambique, é esboçar uma reflexão profunda, necessariamente crítica, sobre como este País tem tratado o legado intelectual e político do guarda-chuva da moçambicanidade
Dos diversos depoimentos, transmitidos pelos diferentes órgãos de comunicação social do País, ressalta a triste realidade de que parte significativa do povo moçambicano, sobretudo nas camadas mais jovens, não possui uma informação oficial correcta sobre a vida e obra de Eduardo Mondlane, porquanto as pessoas exprimem uma vaga ideia de um Eduardo Mondlane qualquer de quem ouviram falar, apenas na escola primária, sem nenhuma continuidade, quer através de livros retratando a sua vida e obra, quer através de filmes e/ou outros meios de transmissão habitual de informação
Aliás, convém dizer, aqui e agora, que a visão religiosa de Eduardo Mondlane chocou, profundamente, nos primeiros anos da Independência, com a ideologia marxista-leninista, oficialmente adoptada como sendo a do Partido Frelimo, em Fevereiro de 1977, no decurso do seu congresso constitutivo, realizado em Maputo.
Talvez tenha sido por isso que não era conveniente, para a Frelimo marxista-leninista, divulgar, em pormenor, o pensamento político, social e cultural de Eduardo Mondlane, na nova realidade moçambicana. Talvez tenha sido por isso que. nos primeiros anos da Independência, sobretudo entre os anos 1977 e 1987, se não tenha dado ênfase, quer nas escolas, quer no discurso politico oficial, então vigente, ao pensamento político de Eduardo Mondlane
Aliás, em Fevereiro de 1979, o Departamento do Trabalho Ideológico do Partido Frelimo mandou confiscar, das bancas e das pessoas, na rua a edição da revista Tempo comemorativa do décimo aniversário da morte de Mondlane, pois essa edição trazia uma entrevista inédita de Mondlane, concedida a Aquino de Bragança, em que Mondlane declarava não ver nenhuma contradição entre religiosos e marxistas e que na óptica dele os religiosos também podiam ser marxistas e que os dois grupos podiam colaborar na construção de uma sociedade socialista!
Isso entrava em flagrante contradição com a prática ideológica de uma Frelimo anti-religiosa, uma Frelimo que pregava que a religião era "ópio do povo", uma Frelimo que devido à sua intolerância religiosa, tinha vários religiosos detidos e marginalizados da vida pública, só porque eram religiosos! Então, a entrevista de Mondlane, a ser amplamente consumida pelo público, iria subverter a ordem política estabelecida, iria desacreditar o discurso dos "continuadores" de Mondlane, pelo que a Única saída encontrada foi a recolha compulsiva de uma edição inteira da revista Tempo, nas bancas e na rua para os armazéns do tenebroso Serviço Nacional de Segurança Popular (SNASP).
Portanto, comemoremos os 40 anos da morte de Mondlane, mas sem passar por cima de factos históricos sérios, que indicam que houve, num certo período da História do País, um esforço oficial visível para se apagar a imagem e o pensamento político de Mondlane por o mesmo colidir com ideologias políticas abraçadas após a morte do arquitecto da Unidade Nacional.
Por isso mesmo, seria curial, em nossa opinião, que o "Ano Eduardo Mondlane", oficialmente, declarado peio Governo, não se cingisse a eventos folclóricos de tipo festa "com cerca de 30 mil pessoas" aqui e acolá, mas que fosse uma oportunidade soberana para a reposição da verdade sobre o pensamento político, económico e social de Eduardo Mondlane, reposição essa incentivada pelo Governo, mas a ser efectivada por intelectuais honestos e com alguma independência, política e económica, em relação ao próprio Governo, pois, de contrário, continuaremos a ter versões convenientes e "autorizadas" sobre quem foi Mondlane e o que ele realmente, pensava sobre a organização e administração do Pais após a Independência Nacional.
Por exemplo, nós pensamos ser insultuoso para o gabarito académico e intelectual de Eduardo Mondlane que a única Universidade com o seu nome esteja a ser gerida como se de uma barraca se tratasse, esforçando-se mais por produzir quantidades de doutores ignorantes do que por aprofundar conhecimentos científicos que possam dignificar o perfil académico, político e intelectual do seu patrono e do Pais
Eduardo Mondlane era um homem muito sério, organizado e profundo em tudo o que pensava e fazia. Como é que, em homenagem a esse homem tão sério, o Governo consegue encontrar gestores aventureiros, que mais não fazem que vilipendiar o nome de Eduardo Mondlane na maior universidade pública do País, introduzindo licenciaturas de carácter duvidoso? Como é que se faz uma Licenciatura em três anos? Como é que a Licenciatura dura o mesmo tempo que um curso médio de ensino técnicoprofissional? Em quê e a quem é que prejudica o modelo actual de uma Licenciatura de quatro anos?
Qual é a razão desta pressa toda, na formação de quadros? Será porque o País precisa, urgentemente, de licenciados? Ou será porque os actuais gestores da UEM tem pressa, eles próprios, de mostrar serviço a alguém7
No tempo em que o País, de facto, carecia de quadros, porque só havia um único estabelecimento do ensino superior, a Licenciatura fazia-se em cinco anos e era bastante difícil à maioria chegar ao fim.
Agora que o País conta com mais de 25 instituições de ensino superior, entre públicas e privadas, oferecendo uma variada gama de cursos com a duração de quatro anos, surgem aventureiros "revolucionários", altamente patrocinados pelo MEC, a escangalhar a maior universidade pública do Pais. por sinal, tudo isso a acontecer no "Ano Eduardo Mondlane!
Nós exigimos que o Governo intervenha, urgentemente, na UEM, exonerando o actual reitor e mandando restaurar a paz e a solenidade académicas que devem caracterizar uma universidade séria.
Não se pode gerir seriamente uma universidade moderna com pessoas apressadas em mostrar serviço a alguém, com pessoas dispostas a trocar a qualidade académica por modelos, economicamente, mais lucrativos, porque tiram muitos ignorantes em pouco tempo para o mercado de trabalho, onde vão matar pessoas, umas nos hospitais, outras debaixo de prédios que desabarão, outras, : ainda, na travessia de pontes mal feitas ou que vão levar empresas e governos à falência, porque mal administrados.
Afinal, o que é que este País quer?
Será verdade que o Pais pretende, realmente, homenagear Eduardo Mondlane este ano?
Então, se sim, aguardemos por actos concretos, condizentes e dignificantes da personalidade política, académica e humana do guarda-chuva da nossa moçambicanidade! Não se pode aceitar que, precisamente, no ano da sua homenagem nacional, Eduardo Mondlane seja vilipendiado por actos irresponsáveis, que acabam por transformar a universidade tom o seu nome numa fábrica de produção rápida de enchidos sem garantia de qualidade.
Quem quer experimentar se a sua cabeça está boa ou não, que crie a sua própria escola e não faça isso com a maior referência universitária deste País.
É verdade que nos devemos inspirar em Nachingweia, mas não para tudo!
DIÁRIO INDEPENDENTE – 04.02.2009
Sunday, 15 February 2009
Silêncio...
Embora esta frase do Fernando Pessoa faça sentido, vou ter de recuperar rapidamente o tempo perdido lendo notícias, comentários e dando atenção a cerca de uma centena de e-mails recebidos.
Wednesday, 11 February 2009
Nacala: Disputa-se hoje a segunda volta
Frente-a-frente estão os candidatos Manuel dos Santos, da Renamo, e Chale Ossufo, da Frelimo. A campanha decorreu com varios incidentes de violencia e a Frelimo usou todos os truques para influenciar a população.
Acredito na vitória de Manuel dos Santos pois o Povo desconfia da mentira e da demagogia.
A contagem dos votos deverá ocorrer logo após o fecho das assembleias de votos, pelo que talvez seja possível sabermos a tendencia do voto ainda no final desta noite.
Azagaia escreve
De 2 a 6 de Fevereiro na cidade da Praia-Cabo Verde, jovens activistas, juristas, economistas, jornalistas, estudantes (e eu músico) de todos os países lusófonos, sendo que Moçambique e Angola tiveram maior representatividade em termos de número, estiveram reunidos para discutir direitos humanos. Irmanados pela língua e pela mesma causa, trocamos experiências enriquecedoras e interessantes. Senão vejamos: fiquei a saber que em Guiné-Bissau também trafica-se crianças, e conscidentemente, são levadas para aprender o Alcorão nas Madrassas em Dakar-Senegal. Essas crianças são posteriormente obrigadas (pelos Sheikes) a mendigar nas ruas, chegando estes a estipular um valor base que cada uma deve trazer ao fim do dia e claro, as que não cumprem as “metas” são violentadas. Fiquei a saber que em Angola, as sessões do parlamento não são exibidas em directo pela televisão nacional e que pela maioria parlamentar que a MPLA detém, chega a ficar com 80% do tempo durante as sessões…imaginem o que resta para a oposição. Fiquei também a saber que provavelmente, o parlamento angolano é que vai passar a eleger directamente o Presidente da República, parece que a lei já foi proposta, e como o MPLA tem a maioria, penso que o Zédu vai continuar a mandar por lá. Imaginem só se a FRELIMO decide fazer o mesmo!!...Um pouco por toda a lusofonia existem coisas do género que merecem toda a nossa atenção.
Foram dias de discussão e acredito que para além da carta ou comunicado de Praia que foi produzido, penso que através dos órgãos de informação chegará a si, cada um dos participantes tirou as suas próprias conclusões sobre o encontro. De entre as várias conclusões, penso que as mais importantes são: a necessidade urgente de fortalecer a sociedade civil para poder fiscalizar a governação, visto que a democracia em África é usada para favorecer apenas a classe governante. Atenção, isto não é pessimismo, é realidade. Os processos eleitorais, alicerces da democracia em África, são extremamente fraudulentos e o povo não participa na governação desta maneira. O Zimbabué é um exemplo disto. Angola e Moçambique também. Esses políticos não hesitam em trapacear, comprar votos e até mesmo ignorar relatórios internacionais sobre os processos eleitorais, só para se manterem no poder. Por isso, urge a criação de uma nova maneira de nós, povo, participarmos da governação de nossas nações. Fortalecer a sociedade civil é essencial. A regra é: PARA CADA LADRÃO(seja ele político ou não), UM CIDADÃO-POLÍCIA. Isso implica a denúncia constante dos desmandos, roubos e rombos, crimes contra os direitos humanos. Temos jornais independentes (queremos acreditar!), temos a Internet, tudo isto para facilitar o fluxo de informação alternativa, uma vez que os governos africanos controlam boa parte da imprensa. Quem sabe escrever,escreve. Quem sabe falar, fala. Quem sabe fazer, faz. Desde os meios clássicos ao mais tradicionais, podemos e devemos dar o nosso contributo, disseminando informação útil para o cidadão. Sim, esta é a era da informação. De que estamos a espera para usá-la em nosso benefício? O que preocupa não é grito dos maus, mas o silêncio dos bons. Já dizia Martin Luther King. E digo-vos, o silêncio é uma arma a favor dos maus, quando quebrado, encomenda a todos eles. Esse é o nosso objectivo como sociedade civil, ENCOMODAR. Como num jogo de futebol onde não se deixa o adversário respirar, pensar, e quanto mais atacar.
Chegados aqui, é altura de falar-vos como o Acampamento de Praia está ligado a vitória da Beira. Muito simples: a Beira só conseguiu eleger a pessoa que confiava porque tem um povo vigilante, soberano. Uma sociedade civil forte, controladora, atenta. Sim, esses são os adjectivos de que nós precisamos. Não duvido das tentativas de fraude que lá ocorreram. Resultados preliminares contraditórios. Mas a vontade daquele povo foi tão grande e esmagadora, que foi impossível enganá-los. Sim, esse é o exemplo a seguir. É de actos dessa natureza que vos falo. Desde as eleições ao dia a dia. Não basta eleger, é preciso também fiscalizar, estarmos atentos e denunciarmos as irregularidades, exigirmos a punição. Estes sãos os nossos deveres que salvaguardam os nossos direitos.
Por último, quero dizer duas coisas: uma é, que a Corrupção passe a ser considerada Crime Contra os Direitos Humanos porque promove a pobreza, a desigualdade de oportunidades para as pessoas. A segunda é: parabéns à Beira e ao Daviz Simango, continue fiel ao povo que te elegeu e a todos os moçambicanos. É para todos os beirensesses e moçambicanos a música “Corre e avisa”*.
Mano Azagaia
*"Corre e avisa", estará disponível para download aqui no blog da Cotonete já amanha.
Tuesday, 10 February 2009
Daviz Simango
Monday, 9 February 2009
Obama errou! E em Moçambique?
O Presidente Obama afirmou publicamnete que tinha errado e que é importante para a sua administração apresentar a imagem de que todos são iguais perante a lei. Isso mesmo, para Obama ninguém está acima da lei!
Ao admitir o seu erro, Obama mostra que afinal errar é humano, fiquei muito impressionado com a sua honestidade. Eu desconfio muito dos políticos que pensam que são perfeitos e que nunca erram. Porque não vemos esta atitude em outras latitudes?
No caso concreto de Moçambique, será possível que o Presidente venha a público reconhecer que errou na sua política em relação a Mugabe e ao Zimbabwe?
Podemos esperar que Armando Guebuza admita que foi um erro grosseiro a partidarização da sociedade, os abusos dos direitos humanos, a tentativa de silenciar a Oposição, a fraude e manipulação das eleições e a interferencia no poder judicial?
Guebuza vai admitir que errou em certas nomeações e que falhou no combate ao crime e à corrupção?Se estamos felizes com a eleição de Obama, penso que deviamos copiar os seus bons exemplos.
Sunday, 8 February 2009
Recordando...
Saturday, 7 February 2009
O circo da Frelimo chegou a Nacala
“Chale Ossufo goza de popularidade, pelo seu carácter sério, na interpretação clara do manifesto do partido Frelimo, que tem linhas de força viradas para a promoção do bem-estar social dos munícipes e isso já está a acontecer. Basta olharmos para os esforços visando ampliar o acesso ao consumo de água potável por parte das comunidades da cidade de Nacala” — disse Paunde, falando, numa Conferência de Imprensa, frisando que notou uma grande motivação, no seio dos militantes do partido e da população, no geral, na cidade de Nacala-Porto, o que o leva a acreditar que haverá uma grande afluência às urnas e todos estão animados em eleger a figura que vai mudar a face daquele município. “Voltaremos um dia a esta cidade para festejar juntos a vitória do candidato da Frelimo, nestas eleições, que ocorrem em segunda volta”, reiterou Filipe Paunde. ( A TribunaFax, com data de 04/02/09 ).
As declarações de certos brincalhões da Frelimo não deixam de ser curiosas, ficamos a saber que afinal Chale Ossufe tem feito muito por Nacala e continua a fazer. Não percebo, onde estao as obras de Chale Ossufo? Será que ele faz parte da administração paralela em Nacala? Afinal, essa não é uma ideia original da Renamo, a administração paralela já está implementada pela Frelimo em Nacala.
Uma coisa é certa, esta campanha promete ser bem divertida, espera-se a chegada de outros pesos-pesados da Frelimo, aguardo impacientemente pelas suas declarações.
Friday, 6 February 2009
É preciso reflectir sobre este caos em ano de eleições
(Canal de Moçambique e Zambeze), 5/2/09 )
Thursday, 5 February 2009
“Não existe liberdade dos povos sem liberdade dos indivíduos”
Os mesmos invocam a seguinte passagem do livro Lutar por Moçambique, como o único texto de Eduardo Mondlane:
“Uma vez que a finalidade da guerra é construir um Moçambique novo, e não apenas destruir o regime colonial, todos temos que ter ideias acerca do modo de organizar a futura nação; mas isso ainda está muito longe para podermos discutir formalmente nesta fase.
A nossa política quanto às questões imediatas pode apenas dar alguns tópicos para o futuro. A estrutura da FRELIMO pode também ser olhada como precursora dum corpo político nacional. Faz parte da essência desta estrutura, porém, que as ideias venham do povo; que os membros dos Comités Executivo e Central sejam livremente eleitos e possam, portanto, mudar.
O eleitorado vai crescendo à medida que novas áreas vão sendo libertadas e que novos chefes vão surgindo a todos os níveis. Daqui por dez anos todo o executivo pode ter mudado. Assim, ao discutir o futuro, posso apenas invocar as minhas próprias convicções; não posso predizer o que será decidido por um Comité Central que ainda não existe”.
Todavia, a visão subjacente no texto supracitado, que é, sem dúvidas, bastante elegante para um político hábil como Mondlane, testemunha uma fé inquebrável na democracia e na capacidade do povo de Moçambique para se regenerar e decidir o seu próprio destino.
Mondlane aparece na visão de Alexandrino José como claudicante, devido ao facto de a abundante obra que nos deixou escrita carecer de uma divulgação adequada, facto que também serviu para ocultar o seu verdadeiro projecto político e atrelá-lo, de forma velada, ao marxismo que tomou o país logo após a independência.
Na verdade, basta o sobredito para se adivinhar que Mondlane é um pensador político liberal, cujas teoria e acção se enquadram e se percebem só num contexto de liberalismo político de feição americana progressista. Mas, felizmente, Mondlane foi suficientemente claro e legou-nos por escrito a sua perspectiva filosófica e política, pelo que não existem margens para dúvidas nem lugar para especulações.
Assim, ao falar de um Mondlane liberal em oposição aos clichés marxistas a que quiseram associar-se-lhe, embora possa parecer para alguns exagerado, na medida em que devido ao silêncio que se criou à volta das suas ideias políticas, desenvolveu-se a ideia de que morreu sem ter tido tempo para clarificar o seu posicionamento político e filosófico.
Esta é uma opinião defendida, como disse, até por alguns estudiosos, como Alexandrino José que diz: “embora não tivesse arquitectado um modelo da sociedade pós-colonial, deixou algumas indicações das perplexidades que tinha quanto aos males que caracterizavam a sociedade e o Estado pós-colonial em África ”.
Pedro Borges Graça, que fez um estudo apreciável sobre Eduardo Mondlane, embora com o mérito de denunciar o silêncio cúmplice que se instalou à volta do ideário político de Mondlane, não foi para além de especulações acerca do projecto político de Mondlane, como pôde sugerir esta passagem da viúva de Mondlane, Janet Mondlane, citada por Graça: “Com base no seu livro, não é possível dizer o que teria acontecido em Moçambique se ele tivesse sobrevivido, e não é importante sabê-lo” .
Para nós, é importante sabê-lo e não só com base num único livro, por cima organizado, embora tenha sido revisto pelo autor e por Sérgio Viera, um político conhecido.
Sem sombra de dúvida, este estudioso não poderia ter sido mais contundente e estar mais certo. Não obstante, não deixa de se mostrar bastante equivocado, quando sugere que sobre o projecto de Mondlane apenas é possível especular. Diz mesmo que os seus conhecimentos, enquanto psicólogo social e antropólogo, teriam-no conduzido para uma orientação diferente daquela que foi seguida depois da independência.
Desta feita, longe de confrontar o liberalismo tal como fez a geração de políticos que comandou o país depois de Mondlane, as suas aspirações estavam de comum acordo com esta teoria social e é ela que vai orientar e inspirar Mondlane na formação da primeira força política que dirigiu, mesmo antes de embarcar aos Estados Unidos: o Núcleo dos Estudantes do Ensino Secundário de Moçambique (NESAM).
Eduardo Mondlane era entre todos, o único líder africano formado em ciências sociais, por isso mesmo, teoricamente, o mais capacitado para pôr e discutir a questão colonial não só em termos políticos da partilha de poder, mas também em termos filosóficos e intelectuais de toda a problemática que ora se impunha, que era a das relações internacionais entre povos, por um lado, e, por outro, a das relações no interior dos estados, de nações e povos de raças e etnias diferentes, bem como entre as várias classes sociais que se instauram dentro de uma sociedade complexa.
Para Mondlane, o problema colonial não era uma extensão da luta de classes, como queriam aqueles jovens próximos do partido comunista português e inspirados pela resistência portuguesa contra o regime de Salazar. Na óptica de Mondlane, a questão colonial revestia-se de uma forte componente racial e a sua solução não estava fora, mas sim dentro do liberalismo. A questão colonial não era económica como queria Marx, mas sim, tinha que ver com a liberdade e a igualdade entre todos os seres humanos.
Isto explica a razão pela qual Marcelino dos Santos, que já tinha ocupado postos de relevo no contexto dos movimentos de libertação da África, dita portuguesa, só conseguiu maior visibilidade, para não dizer um controlo absoluto da Frelimo, depois da morte de Mondlane. A sua visão marxista e leninista entrava em rota de colisão com o chefe tradicional e ideólogo liberal que era Mondlane.
Para todos os efeitos, Mondlane ficou conhecido como o primeiro presidente da Frelimo, Movimento de Libertação de Moçambique, que, dez anos mais tarde, exactamente em 1975, proclamou a República de Moçambique e, dois anos depois, em 1977, adoptou o marxismo como sua política oficial.
Aqui está o pano de fundo com o qual é preciso lidar sem preconceitos nem complexos, se quisermos repor a verdade sobre esta personalidade histórica e lendária do nacionalismo africano, em geral, e moçambicano, em particular.
Mondlane, primeiro presidente da Frelimo, afigurar-se como o pai da pátria moçambicana, apesar dessa ideia ser, hoje em dia, muito discutida e posta em causa.
Embora, a verdade seja dita, Mondlane não seja o fundador único daquele movimento político, ao menos, é um dos seus co-fundadores.
João M. Cabrita, no seu livro Mozambique, The Tortuous Road to Democracy, tem o mérito de demonstrar, uma vez por todas, dissipando todas as dúvidas, que Eduardo Mondlane é, de facto, um nacionalista moçambicano de inspiração americana e com ligações muito fortes com a administração Kennedy. Mondlane sente-se ligado à América mais pelas ideias do que por agendas políticas.
Assim, quando, em Abril de 1962, Eduardo Chivambro Mondlane, numa dissertação acerca da melhor forma de Governo, como se depreende no título mais que sugestivo desse seu trabalho, Woodrow Wilson and the Idea of Self-Determination in África, apenas concretiza, politicamente, aquilo que já estava cristalizado na sua mente, fruto de muitos e aturados anos de socialização americana e liberal, na verdade, nesse seu trabalho emblemático, declara sem rodeios:
“Defendemos que um Estado moderno deve conter na sua Constituição o seguinte: a) divisão de poderes; b) garantia dos direitos básicos; c) garantir aos tribunais um desempenho o mais independente possível do Governo; d) duas câmaras legislativas, uma na Câmara dos Representantes a ser eleita directamente, e um Senado ou Câmara dos Deputados representando as regiões, esta última com poder de veto para impedir determinadas propostas de lei de serem aprovadas prematuramente; e) finalmente, deve haver um governo central forte, que estaria encarregue de cumprir as decisões quer da legislatura, quer dos tribunais, bem como desenvolver políticas para todo o país.
Por isso, o pensamento político de Eduardo Mondlane tem que ser feito, parafraseando o documento supracitado, porque pode ser considerado a chave das suas ideias políticas, não só em virtude de ser o mais completo e rico em pormenores daquilo que ele sonhava vir ser Moçambique do futuro, mas também e, sobretudo, porque foi escrito em 1962, o ano em que nasce a Frelimo, tendo Mondlane se tornado o seu primeiro presidente. por isso é considerado um texto programático e fundacional. Na verdade, o documento em causa é escrito em Abril de 1962 e, dois meses depois, em Junho, a Frelimo, Frente de Libertação de Moçambique, é constituída formalmente como instrumento de pressão para a independência de Moçambique.
Nesta óptica, podemos afirmar, sem margem para dúvida, que Woodrow Wilson and the Idea of Self-Determination funciona como testamento do pensador que, nesse mesmo ano, vai dar lugar ao guerrilheiro. Este artigo é, portanto, portador das ideias e dos ideais que Mondlane quis ver aplicados num Moçambique independente. É assim que o primeiro parágrafo deste último artigo será o manifesto que o presidente da Frelimo colocará no seu livro de combate Lutar por Moçambique:
“É costume entre os Europeus e Americanos conceber todo o pensamento humano como derivado do pensamento Ocidental. Os não europeus, especialmente os africanos, são supostos como não tendo tido nenhuma contribuição para o pensamento moderno, excepto aquele adquirido no período colonial. Pelo contrário, os intelectuais africanos têm uma opinião muito diferente da dos europeus. Uma grande parte dos conhecimentos científicos e humanísticos foram descobertos e iniciados em África milhares de anos antes do desenvolvimento da civilização europeia. Quando os Europeus ainda vegetavam nas cinturas das florestas nórdicas, os Africanos do Norte estavam usando métodos complicados da matemática para dominar a técnica e o movimento das estrelas” .
Assim, no documento Woodrow Wilson and the Idea the Self-Determination of África, que Mondlane nos legou, a sua visão política mostra-se bastante próxima de um sistema político bastante descentralizado, com largos poderes para as bases, conseguidos através de um sistema federalista à semelhança do que acontecia nos Estados Unidos e, por conseguinte, bastante afastada do centralismo soviético. Na verdade, Mondlane depois de apresentar alguns princípios gerais para assegurar uma boa autodeterminação para a África moderna, admite o federalismo como resposta.
Para o fundador da nacionalidade moçambicana, “não existe liberdade dos povos sem liberdade dos indivíduos”. Quer dizer, a liberdade dos povos tem de ser a soma, se bem que não necessariamente aritmética, das liberdades individuais. É, por isso, que Liberdade e Democracia estão em Mondlane estreitamente ligados: “O mais básico princípio donde proveio a ideia de autodeterminação deriva das proposições do século dezoito, de que os governos devem apoiar-se no consentimento do governado, com a pretensão adicional de que, já que o homem é um animal nacional, o governo para o qual ele dará o seu consentimento é aquele que representa a sua própria nação” .
Portanto, fica a indicação de que a escolha do liberalismo, que a temática da liberdade nos moldes que temos vindo a descrever supõe, não se cinge numa preferência política, mas sim é consequência de uma visão do homem e da sociedade. Assim sendo, são os seguintes os princípios que, na óptica de Mondlane, deveriam presidir a constituição de um governo, verdadeiramente, democrático: “sistemas de governo que tivessem em conta, primeiro que tudo, os direitos humanos gerais; em segundo lugar, os direitos das várias secções geográficas, assim como os agrupamentos étnicos que compõem a maioria dos estados modernos de África. E, em conexão com estes princípios, Mondlane retoma a clássica divisão de poderes proposta por Montesquieu.
É esta partilha de poderes por vários órgãos independentes que permitirá uma maior transparência e, consequentemente, uma maior participação dos indivíduos, bem como um controlo mais eficaz sobre os detentores dos cargos públicos. Aliás, a colegialidade foi a nota dominante do exercício do seu mandato enquanto presidente da Frelimo.
Depois de descrever o seu sistema de governo e de indicar a sua finalidade, Mondlane termina o documento que temos vindo a citar, por uma definição da democracia: “Democracia é um sistema de Governo onde a sociedade é ordenada por meio de leis feitas e interpretadas por indivíduos que são, em última instância, responsáveis e renováveis na comunidade. Logo, apesar de afirmar o primado das leis que garantam um tratamento igualitário e justo, não descura a influência dos indivíduos que são, em última instância, os juízes dessas mesmas leis. E o indivíduo aqui é entendido nas suas várias manifestações e especificidades individuais concretas”.
Fontes:
Ronguane, Samuel. Pensamento Político Liberal de Eduardo Mondlane;
Graça, Borges Pedro. O projecto de Eduardo Mondlane”, Edição da Universidade Técnica, 2000;
Mondlane, Eduardo. Woodrow Wilson and the ideia of self Determination in Africa; Boston, 1962;
José, Alexandrino. (Nota introdutória de)in: Lutar por Moçambique de Eduardo Mondlane, Edição dos CEA.
José Belmiro - O PAÍS – 03.02.2009
África do Sul
Wednesday, 4 February 2009
Tuesday, 3 February 2009
Uma história mal contada
Cidadão português “manda passear” Pacheco
Um cidadão português que residia, ilegalmente, na Beira, onde trabalhava, supostamente, no Município, está a contas com as autoridades moçambicanas, por ter violado um despacho exarado pelo ministro do Interior, José Pacheco, que o interdita entrar, em Moçambique, por um período de 10 anos.
Trata-se de Alexandre Júnior, de 55 anos de idade, mais conhecido por Alex, que, em Agosto do ano passado, foi expulso de Moçambique, alegadamente, por não possuir autorização para fixar sua residência.
Segundo dados em poder do A TribunaFax, nos últimos quatro anos, Alex era visto, constantemente, no edifício do Conselho Municipal da Beira, CMB, onde trabalhava, presumivelmente, exercendo funções de assessor do presidente daquela autarquia, Daviz Simango.
O Jornal apurou que Alex partilhava um apartamento com outros assessors do edil da Beira e era tratado como chefe, por funcionários daquela edilidade.
“Alex trabalhava na área do Marketing e Imagem do CMB e, embora não tendo firmado contrato de trabalho, auferia salários, no Município”, contam fontes do CMB, que solicitaram anonimato.
Contra todas as expectativas, nos finais de Julho de 2008, Alex foi detido, pelas autoridades policiais de Sofala, acusado de residir, ilegalmente, em Moçambique. Na altura da sua detenção, Alex foi encontrado na posse de documentos que o atribuíam as nacionalidades portuguesa e angolana.
Também, estava na posse de um certidão de nascimento falso, que o identificava como natural de um dos distritos da província de Zambézia e uma declaração passada, pelo CMB, que o autorizava a tratar uma outra certidão de nascimento, como tendo nascido na cidade da Beira.
Das investigações feitas, apurou-se que Alex já residiu na Holanda, onde se formou num curso de televisão.
Em Agosto do ano passado, as autoridades moçambicanas concluíram que Alex era de nacionalidade portuguesa, vivia, ilegalmente, em Moçambique, dai que foi expulso e repatriado para o seu País de origem.
Quando das investigações, o CMB negou, a pés juntos, que Alex fosse seu funcionário, exercendo funções de assessor de Simango. O chefe dos Recursos Humanos negou, igualmente, que aquele português tenha auferido salários, no Conselho Municipal da Beira.
Alex havia sido repatriado para o seu País, mas, volvidos dois meses depois da sua expulsão, regressou, a Moçambique, com documentos falsos e, na cidade da Beira, está detido, nas celas da Polícia de Investigação Criminal, PIC, onde decorrem investigações para a posterior remissão do processo, ao Ministério Público, instituição que vai encaminhá-lo, ao Tribunal, onde o cidadão português será julgado, acusado de uso e falsificação de documentos.
Para entrar novamente, em Moçambique, Alex obteve dois vistos de entrada, nas fronteiras de Ressano Garcia, em Maputo e na de Machipanda, em Manica. “Alex foi detido na posse de um passaporte falso e dois vistos de permanência, em Moçambique, cujo prazo expirou”.
A directora dos Serviços de Migração, em Sofala, Maria Hamede, confirmou a detenção de Alex, por ter sido surpreendido com documentos falsos e dois vistos de permanência, em Moçambique, mas que se encontravam fora do prazo. De acordo com Maria Hamede, os vistos foram forjados, dai que aquele cidadão vai ser julgado e responderá pelos crimes de que lhe são acusados.
Usando das competências que lhe são conferidas, pelo nº 4 do artigo 36 do Decreto 38/2006, de 27 de Setembro, o ministro do Interior exarou o despacho que interdita Alexandre Júnior de voltar à Moçambique, por um período de 10 anos, mas este conseguiu voltar à “Pátria Amada”, violando, deste modo, a medida de Pacheco.
“O caso foi entregue à Procuradoria Geral da República e, ao que tudo indica, depois de julgado, Alex sera repatriado, novamente, para Portugal”. Alexandre Júnior foi detido, no dia 1 de Dezembro de 2008, no luxuoso bairro do Macuti, na cidade da Beira, a partir de onde a Polícia da República de Moçambique, PRM, já tinha informações das suas movimentações clandestinas”.
( A TribunaFax, de 19/01/09 )
Cidadão português detido pela segunda vez na Beira
Contradições em volta da detenção de assessor de Daviz Simango
( Eurico Dança, no Savana de 30/01/09 )