Friday, 25 January 2008

Poema do Mia, recebi agora

Moçambique sai do chão !
E vai no porão
Caiu a sombra, tombou no chão
Fica um buraco no pé da nação
Lá vai a tábua de um caixão
O morto é a floresta de uma nação
Toda a riqueza para exportação
Não fica nada para nós, não, não
Não fica nada para nós, não, não
Já está mais que na hora, põe a mão na cabeça
E vê agora como a terra chora
A moto-serra, serra, serra
Rouba o verde, numa outra guerra
Lá vai a umbila
Lá foi o jambirre
Caiu a chanfuta
Caiu pau-preto
E voa a mssassa
Voou a mbaúa
Quem canta agora
É a moto-serra
Quem canta agora é a moto-serra
Parando a árvore, despindo a terra
Roubando o verde, numa outra guerra
Quem toca agora é a moto-serra
A música que agora toca no mato
Não é xigubo, makwaela, nem campo adubado
Não é enxada, não, não, não
Não é nem fumo de xitimela, my brother
Oh Papá, oh Titio
Corta aqui, mas depois planta ali,
Oh!Oh Papá, oh Vovô
Corta aqui, mas depois planta ali, Oh!
A música, agora, não é a canção
É o simples ronco do camião
Lá vai o tronco, lá vai a madeira
Lá vai a riqueza sem algibeira.

Mia Couto

(Préstimos de Ivone Caldeira)

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