Friday 22 July 2016

Renamo e Governo moçambicano trocam acusações de violência durante negociações de paz

Maputo, 22 jul (Lusa) - A Renamo denunciou hoje bombardeamentos na serra da Gorongosa, centro de Moçambique, onde se presume encontrar-se o líder do partido, Afonso Dhlakama, no dia em que as autoridades moçambicanas responsabilizaram homens armados da oposição pelo assassínio de um régulo.
"Estes ataques estão a ser feitos de forma generalizada à serra da Gorongosa, através de artilharia pesada, que está a lançar obuses de B11 em todas as direções, e visam irritar a Renamo [Resistência Nacional Moçambicana]", declarou hoje em conferência de imprensa em Maputo o porta-voz do maior partido de oposição.
Segundo António Muchanga, os ataques na serra da Gorongosa têm também como finalidade levar a que a Renamo "responda com ofensivas militares em todo o território nacional, incluindo a capital, de modo a declarar-se o fracasso das negociações".
O porta-voz da Renamo referia-se ao reatamento das negociações de paz entre o Governo e o maior partido de oposição, em Maputo, na presença de mediadores internacionais, e que está a ser acompanhado pelo relato de novos episódios de violência política no centro do país.
As autoridades moçambicanas acusaram hoje homens armados da Renamo, maior partido de oposição, pelo assassínio do régulo de Chibabava, província de Sofala, morto a tiro na quinta-feira à noite na sua residência.
"Estamos completamente angustiados pela forma como o incidente ocorreu", declarou Helena Taipo, citada hoje pela Rádio Moçambique, referindo-se à morte do régulo Muxúnguè, em frente dos seus familiares, e pedindo à Renamo para parar a violência.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, defendeu na quinta-feira a cessação imediata dos confrontos militares.
"O que os moçambicanos querem é a cessação imediata da matança e destruição de bens", afirmou Nyusi, falando num comício no distrito de Mopeia, província da Zambézia, centro do país.
Numa entrevista concedida hoje ao semanário Savana, Afonso Dhlakama afastou um cessar-fogo imediato e disse que a questão só se colocará no fim das negociações entre as partes.
"Se nós cessarmos fogo, significa que a guerra terminou. Mas como ainda não chegámos a um acordo, não nos reconciliámos, não nos entendemos, significa que, meses depois, voltaríamos ao conflito e estaríamos a dececionar o povo", afirmou.
Apesar do reatamento das negociações em Maputo entre Governo e Renamo, não cessaram os relatos de confrontações militares no centro de Moçambique, além de emboscadas nas estradas atribuídas ao braço armado da oposição e denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos.
Na entrevista ao Savana, Dhlakama voltou a justificar as emboscadas nas estradas no centro do país com a alegação de que os veículos atacados, mesmo os civis, transportam militares do Governo.
"A Renamo tenta reduzir a logística do inimigo. Digo inimigo porque vem nos atacar", declarou.
Embora Dhlakama tenha afirmado que não está pronto para um cessar-fogo, na conferência de imprensa hoje em Maputo, o porta-voz do maior partido de oposição apelou para "a cessação imediata dos atos hostis contra o presidente da Renamo e membros desta formação política".
O momento, disse ainda António Muchanga, "é de negociações e devemos dar oportunidade àquelas individualidades [mediadores internacionais] que de boa-fé aceitaram vir a este país para ajudar a encontrar o caminho da paz".
O Governo moçambicano e a Renamo iniciaram em Maputo na quinta-feira a discussão da exigência do principal partido de oposição de assumir a governação das seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.

A agenda integra ainda a cessação imediata dos confrontos entre as partes, a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança, incluindo na polícia e nos serviços de informação, e o desarmamento do braço armado da Renamo e sua reintegração na vida civil.
O principal partido de oposição recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, ameaçando governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.



No comments: