Friday 15 February 2008

Quando o governo se demite do seu papel!



Em países democráticos, os governos, por terem sido eleitos, têm as suas responsabilidades acrescidas de servir melhor o povo que os legitimam. Os governos não são eleitos para organizar seminários e workshops, onde os participantes bebem água mineral e estimulam o apetite com rebuçados, enquanto aguardam pelo manjar recheado de iguarias. Ninguém elege um governo ineficaz,
que incuba problemas, agravando-os ou que vem adiando a sua resolução A única razão de ser de qualquer governo é resolver os problemas do povo - saneamento, transporte, abastecimento de água, electricidade, centrosde saúde, escolas, estradas, organizar a rede comercial, construir pontes e infra-estruturas essenciais à vida dos cidadãos. Para que isso seja possível, é condição fundamental, que o governo tenha políticas sectoriais exequíveis e bem delineadas. Os recentes distúrbios, que abalaram Maputo, são uma ponta do iceberg de problemas muito mais profundos, que não foram resolvidos, durante vários anos. Foi uma oportuna medida, autorizar transportes semi-colectivos, chapa-100, porém, a intervenção do governo não foi mais por além. A única coisa que se vê é o movimento frenético de polícias de trânsito e municipal, nas ruas, à caça de refresco e mata-bicho.
Agora que a bomba explodiu, fala-se do Estado subsidiar combustível. Como será feito, se os chapas, de modo geral, não têm a contabilidade organizada? Como se pode subsidiara um informal? Este problema não deve ser menosprezado, porque os grandes tumultos começam por pequenos levantamentos populares, a que os políticos oportunistas chamam de vento num copo. Nem sempre o mais fácil é o melhor. O governo deixou o problema de transporte, em particular nas grandes cidades, entregue aos informais e foi-se entretendo com soluções paliativas que, hoje, se provam insuficientes.
Vem, agora, ao de cima a questão da ausência de políticas sectoriais de que ninguém se lembra fazer. Os problemas sociais não se resolvem atirando polícia anti-motim contra a população furiosa. Quem assim o fizer, se compara a um louco que atira petróleo à fogueira na expectativa dever as chamas apagadas. Os tumultos sociais resolvem-se com soluçõespacíficas e não com tiros. A França, em 2006, com Nicolas Sarkozy como ministro do Interior, agiu quando Paris e outras cidades pegaram violência, devido a problemas de discriminação e recalcamentos dos jovens franceses de origem africana. Ninguém foi morto. Isto seria uma boa lição para os nossos governantes. A subida constante do preço do pão pode desembocar num problema bicudo,se medidas sérias não forem acauteladas. Subsidiar o custo do pão, quanto a nós, não pode ser uma solução definitiva. Moçambique deve ter políticas agrárias bem claras. O País tem condições agro climatéricas propícias para produzir trigo. Gaza, Manica, Tete, Zambézia e Niassa produziam, outrora, muito trigo e, se se tivesse continuado, poderiam aliviar o problema. Quando o Governo se demite das suas funções, dá, sempre, no torto.

( Comentário da autoria de Edwin Hounnou, retirado, com a devida vénia, do “A Tribuna Fax”, de 08-02-08).

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