“Os níveis de fraude eleitoral em Moçambique têm sido muito preocupantes, é claro que tem havido acusações de fraude em todas as eleições desde a implementação da democracia multipartidária, mas as notícias que tenho recebido de Moçambique durante os últimos dias são particularmente preocupantes”, disse o académico.
Em entrevista à Lusa em Lisboa, onde participou num encontro da rede académica angolana, o investigador britânico focado em assuntos africanos, e especializado nos países lusófonos, exemplificou com os “ativistas impedidos de fazer campanha” e com as “notícias sobre votos falsos depositados nas urnas” para sustentar as dúvidas sobre o resultado eleitoral.
“Acho que esta eleição não dá confiança no processo democrático em Moçambique”, disse Justin Pearce, respondendo em português às perguntas colocadas pela Lusa.
Para o professor do Centro de Estudos Africanos da Universidade de Cambridge, há a possibilidade de a Resistência Nacional de Moçambique (Renamo, na oposição) “voltar a pegar em armas”, razão pela qual diz que “o processo de paz liderado pelo Presidente Nyusi e por Ossufo Momade já está em perigo por causa de uma fação que não está a respeitar o processo de paz”.
Assim, afirma: “Moçambique ainda não está em paz, além do conflito no centro do país, há a insurgência no norte do país, em Cabo Delgado, e todas estas situações violentas significam que o futuro de Moçambique está muito imprevisível”.
Questionado sobre as competências do país para gerir os milhões de dólares que vai receber em receitas da exploração de gás natural e como isso vai influenciar o futuro, Pearce respondeu que o importante é a gestão económica dessas verbas.
“O que a história nos diz é que o importante não é a presença ou a ausência de recursos naturais, mas sim a qualidade da gestão dos recursos naturais”, apontou, acrescentando: “A revelação da existência de dívidas ocultas, há poucos anos, não deu um bom sinal para o futuro em termos de gestão económica, por isso não tenho muita confiança nos resultados positivos do crescimento económico”.
O escândalo das dívidas ocultas “não inspira confiança para a gestão económica do futuro”, disse o investigador, concluindo que “muito do que foi descoberto aconteceu durante a Presidência de Armando Guebuza, portanto não se pode necessariamente culpar Nyusi pelo que aconteceu há dez anos”, apesar de ter sido ministro da Defesa nesse período.



Lusa