Monday, 29 February 2016

Quando é que Nyusi irá pôr ordem no Exército?



Por prerrogativas da Constituição da República, o Presidente da República, Filipe Nyusi, é, simultaneamente, comandante-em-chefe das Forças de Defesa e Segurança.
Desde os acontecimentos em que o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, escapou ileso a duas tentativas de assassinato, parece ter ficado claro que tais acções obedeceram a um comando paralelo no Exército.
Porque tal comando invisível está a usurpar claramente os poderes do seu chefe supremo, foi-nos dado a assistir, em plena luz do dia, ao assalto à residência de Dhlakama na Beira.
E porque não há bela sem senão, a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW), que se dedica à defesa dos direitos humanos, acaba de publicar um relatório sobre a situação dos refugiados
de guerra em Tete, onde o Exército é apontado como estando no epicentro de desmandos de vária ordem...
“O Governo deve iniciar, com urgência, uma investigação às alegações de abusos e garantir que as operações de desarmamento são conduzidas de acordo com a lei”, escreve a WRW.
São apontadas no relatório, com base em vários testemunhos, práticas de execuções sumárias, abusos sexuais e maus-tratos.
Quando as populações começam a fugir do país para o vizinho Malaui por estarem a ser perseguidas pelo Exército, é o mais claro sinal de decadência. Era suposto estas populações serem protegidas por
este mesmo Exército, composto por gente que jurou defender a pátria.
A apatia do mais alto magistrado nesta questão do Exército de que é chefe supremo é simplesmente assustadora.
Não vá o diabo fazer das suas e, qualquer dia, com estes níveis de impunidade, este Exército tome de assalto o poder, por se achar execessivamente poderoso.
A história, que também é uma sucessão de factos com encadeamento, tem exemplos que ilustram esse tipo de situações.
Ou Filipe Nyusi manda de facto nas Forças de Defesa e Segurança (FDS), como a Constituição lhe outorga, ou então com estes níveis ninguém ficará espantado se ele não renovar em 2019.
Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: Quando é que Nyusi irá pôr ordem no Exército?

Luís Nhachote, Correio da manhã, 25/02/2016

Sunday, 28 February 2016

Visíveis pilares da Ponte Maputo-KaTembe



Os primeiros pilares da ponte em construção, que vai ligar Maputo e Distrito Municipal da KaTembe, começam a ser visíveis do lado da Katembe, representando a concretização gradual daquele mega empreendimento.
O nosso semanário esteve na passada quinta-feira no Distrito Municipal da KaTembe, tendo verificado que acima de uma dezena de pilares encontram-se erguidos do outro lado da baía de Maputo.
A infra-estrutura, que está a ser executada pela empresa China Road and Bridge Company (CRBC), estender-se-á até a Praça 16 de Junho, próximo do Instituto Nacional das Comunicações, de onde partirá um viaduto de 1,09 quilómetro até à torre junto ao cais 5 do Porto de Maputo.
Está previsto um vão suspenso de 680 metros de cumprimento, a uma altura de 60 metros em relação as águas da baia de Maputo, de modo a permitir a navegabilidade no Porto de Maputo.
A construção da Ponte Maputo-KaTembe faz parte de um projecto que inclui estradas na parte Sul da província de Maputo, designadamente KaTembe-Ponta D´ouro e KaTembe-Bela-Vista-Boane, num investimento conjunto entre os governos de Moçambique e da China, orçado em 785 milhões de dólares americanos.



Domingo

Saturday, 27 February 2016

Posicionamento da Renamo face ao Comunicado de Imprensa da Presidencia da Republica




A Presidência da RENAMO escutou atentamente o Comunicado de Imprensa da Presidência da República sobre as decisões tomadas na reunião do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, realizada no dia 24 de Fevereiro de 2016.
Quanto a isto, a Presidência da RENAMO e o Partido RENAMO pronunciamse nos termos seguintes:
1) A RENAMO lutou sempre pela democracia e pelo estabelecimento do Estado de Direito em Moçambique.
2) A RENAMO acredita e acreditou sempre que os problemas e os conflitos nacionais só podem ser ultrapassados com um diálogo verdadeiro e sincero, mas, isto só é possível se o governo da Frelimo aceitar a democracia em Moçambique.
3) A RENAMO, através do seu Presidente, disse sempre não estar
interessada na guerra em Moçambique, porém tem o direito de se defender quando é atacada.
Por exemplo, neste momento, a região centro do País está cheia de
contingentes militares treinados por norte-coreanos, no sul do País, no quartel de Boquisso, província de Maputo, equipados com armamento pesado e despachados para o centro e norte do País onde protagonizam uma ofensiva de raptos e assassinatos aos membros e simpatizantes da RENAMO, o que a leva a defender-se dessas atrocidades do terrorismo da Frelimo.
4) Para a RENAMO, um diálogo verdadeiro e sério só é possível se a Frelimo aceitar uma mediação séria, posição já manifestada publicamente.
5) A RENAMO está disponível para dialogar com a Frelimo mas, exige em primeiro lugar a governação das seis províncias onde ganhou as eleições, por conseguinte, todo o diálogo a ser feito no futuro deverá acontecer quando a RENAMO estiver a governar efectivamente naquelas províncias, nomeadamente Niassa, Nampula, Zambézia, Tete, Sofala e Manica.
Maputo, aos 26 de Fevereiro de 2016
O Chefe do Gabinete
___________________________________


Dr Augusto Mateus

Friday, 26 February 2016

Renamo continua a exigir governação em seis províncias para iniciar diálogo


A Renamo, principal partido de oposição em Moçambique, reiterou hoje que só aceitará dialogar com o Governo para o fim da crise político-militar no país se governar nas seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.
"A Renamo [Resistência Nacional Moçambicana] está disponível para dialogar com a Frelimo [partido no poder], mas exige, em primeiro lugar, a governação das seis províncias onde ganhou as eleições, por conseguinte, todo o diálogo a ser feito no futuro deverá acontecer quando a Renamo estiver a governar efectivamente naquelas províncias", diz um comunicado de imprensa da maior força de oposição, distribuído hoje à imprensa.
A posição da Renamo surge em resposta ao Conselho Nacional de Defesa de Moçambique, que, na Quarta-feira, manifestou o seu apoio aos apelos do chefe de Estado, Filipe Nyusi, para o diálogo com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
Na nota que divulgou hoje, o partido de Afonso Dhlakama reitera ainda que apenas aceitará negociar com o Governo da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), com "uma mediação séria".
"Para a Renamo, um diálogo verdadeiro e sério só é possível se a Frelimo aceitar uma mediação séria, posição já manifestada publicamente", diz o movimento, numa alusão ao seu pedido às autoridades moçambicanas para que um eventual reatamento do diálogo seja mediado pelo Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e pela Igreja Católica.
Hoje, falando numa cerimónia de graduação de quadros superiores da polícia moçambicana, o Presidente da República, Filipe Nyusi, reiterou a sua disponibilidade para dialogar "sem pré-condições" com o maior partido de oposição, apelando "a todos amigos de Moçambique" para não encorajarem o uso de armas. "Reiteramos a nossa abertura para o diálogo sem pré-condições", disse o chefe de Estado moçambicano.

No mesmo dia Conselho de Segurança recomenda encontro Nyusi/Dhalakama e Comissão Política chama Dhlakama de assassino





Maputo (Canalmoz) – Mais uma vez fica evidente que há duas forças concorrentes dentro do partido Frelimo. Uma que mostra sinais de diálogo e outra que não está interessada no fim da guerra. No meio disto tudo Filipe Nyusi aparece desnorteado ou a interpretar papéis estranhos. Esta segunda-feira teve lugar a reunião do Conselho Nacional de Defesa e Segurança (CNDS), convocada por Nyusi para discutir o espectro da guerra civil que se vive no País. Há muito CNDS não reunia e no consulado de Guebuza quase que nunca chegou a ser chamado.
O órgão deliberou a criação de condições de segurança para o encontro com o líder da Renamo, com vista a pôr termo às confrontações entre as tropas governamentais e os homens da Renamo e “consolidar definitivamente o ambiente de paz” lê-se no comunicado divulgado pela Presidência da República. 
Só que no mesmo dia, a Comissão Política (CP) do partido Frelimo reuniu logo depois do Conselho de Segurança e emitiu um comunicado a destratar a Renamo e o seu líder, não se percebendo de que lado está afinal Filipe Nyusi, pois é presidente do partido Frelimo também.


Segundo o comunicado da Comissão Política da Frelimo “Afonso Dlhakama ameaça e mata os cidadãos criando instabilidade e insegurança no seio da nossa sociedade”. 
Não se percebe agora que tipo de diálogo se pretende, visto que o partido Frelimo domina o Estado e o próprio Nyusi. 
Em relação ao encontro em si, a questão da segurança é fulcral para a Renamo que tem motivos mais do que suficientes para duvidar das intenções do Governo, se se tomar em conta que por duas vezes em Setembro do ano passado, o mesmo Governo tentou assassinar Afonso Dhlakama e em Janeiro deste ano o seu Secretário Geral Manuel Bissopo também escapou a um atentado. A confiança entre as partes está praticamente deteriorada. Há quem diga que o encontro deliberado pelo Conselho de Segurança, seja uma armadilha para apanhar de uma vez por todas Afonso Dhlakama.



( Canalmoz )

Que bela peça de teatro!


Dissemos, neste mesmo espaço, vezes sem conta, que os acontecimentos dos últimos dias, que têm vindo a ceifar vidas humanas e destruir bens, eram motivos mais do que suficientes para o Chefe de Estado, Filipe Jacinto Nyusi, pôr a mão na consciência. Mas parece-nos que o senhor Nyusi, telecomandado por uma horda de esquizofrénicos, está motivado a empurrar este país para o abismo, à semelhança do seu antecessor.
A título de exemplo, a reunião do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, convocada e dirigida pelo Presidente da República esta semana, pareceu, à primeira vista, uma acção sensata de se louvar. Até porque se deliberou a criação de condições para um encontro com o líder da Renamo, com vista a pôr termo aos ataques e consolidar definitivamente o ambiente de paz e de estabilidade. É sabido que todos os moçambicanos, sobretudo aqueles que, neste momento, sentem na pele os efeitos dessa guerra não declarada, desejam a paz para voltarem a desenvolver as suas actividades e contribuirem para o crescimento do país.
Porém, ficou claro que as intenções do Governo de turno em reunir com a Renamo não passa de uma peça de teatro mal encenada por profissionais de muito mau gosto para os jornalistas anotarem, reportarem e distrairem os moçambicanos dos reais problemas que enfermam o país. A prova disso é que, na mesma semana, a Comissão Política, por sinal dirigida pelo Chefe de Estado, veio afirmar situações diferentes do que foi deliberado na reunião do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, dando a entender que existem dois poderes de decisão dentro do partido.
No seu comunicado, a Comissão Política acusa a Renamo e o seu lider, Afonso Dlhakama, de ameaçarem e matarem os cidadãos, através dos seus homens armados, criando instabilidade e insegurança no seio da nossa sociedade. Após a reunião do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, esperava-se uma postura mais séria e íntegra da parte do partido Frelimo, e não uma tentativa de atiçar o conflito. Na verdade, as acusações levantadas pela Comissão Política revelam que não há vontade de se colocar um ponto final a este conflito armando que tem vindo a tirar o sossego dos moçambicanos.
Portanto, infelizmente, o povo moçambicano continuará a ser usado como besta de carga para legitimar os interesses inconfessáveis dos promotores dessa guerra. Tudo indica que o conflito armado que o país atravessa não é preocupação para o Governo de turno, até porque, dentro do partido Frelimo, prevalece ainda o objectivo de satisfazer os interesses pessoais e partidários em detrimento dos legítimos interesse da maioria.




Editorial, A Verdade, 26 Fevereiro 2016

Cartaz do Bloco de Esquerda

Inaceitavel esta forma de fazer politica! Pobre Portugal com gentinha deste nivel no Poder!
 

Thursday, 25 February 2016

Moçambique: paz com balas, guerra com palavras


As notícias já não deixam dúvidas: a paz está ameaçada em Moçambique.



As notícias já não deixam dúvidas: a paz está ameaçada em Moçambique. Ao contrário do período em que decorreu a guerra civil, que durou 16 anos, matou milhões de pessoas e provocou milhares de deslocados e refugiados, agora o país não está em guerra. É verdade. Mas também não está em paz. A expressão utilizada quer pela Renamo quer pelo Governo é ‘conflito político militar’. Para além da guerra das balas, em Moçambique sempre existiu, e mantem-se até hoje, a guerra lexical. Se o moçambicano for Frelimo dirá, quando se referir à guerra civil, ‘guerra da destabilização’, explicitando desta forma o apoio e interesse da África do Sul do Apartheid em desestabilizar; se o Moçambicano for da Renamo dirá a ‘guerra pela democracia ou contra os comunistas’, explicitando a escolha inicial da Frelimo pelo lado comunista da guerra fria. Os neutros tentam evitar a expressão ‘guerra civil’ e refugiam-se na expressão ‘guerra dos 16 anos’.
Esta guerra de palavras nota-se também nas expressões utilizadas para falar dos diversos combatentes. ‘Combatente pela liberdade’ quer dizer que é contra o poder colonial e combateu na guerra colonial. ‘Guerrilheiro’ ou ‘bandido armado’ é usado para os homens da Renamo. ‘Comunistas’ é como a Renamo ainda muitas vezes se refere aos combatentes Frelimistas. Estas diferenças são normais em conflito e em pós-conflito, mas não são normais após mais de 20 anos de Acordo de Paz. Esta falta de consenso na linguagem é apenas um sintoma de que a reconciliação não tinha na verdade acontecido. Em 1992 o desespero do povo e a vontade dos dirigentes em terminar com a guerra levou a adoptar a política do ‘não falar sobre o passado’. Os possíveis crimes dos dois lados eram enterrados e o país virava-se para o futuro. Amnistia sem condições e para todos.No país vizinho, África do Sul, o processo de reconciliação pós-apartheid teve como lema ‘perdoar, mas não esquecer’. A receita levou à constituição da famosa comissão da Verdade e Reconciliação presidida por Desmond Tutu. Esta Comissão composta por vários juízes e psicólogos foi de terra em terra e ouviu culpados e vítimas. As sessões eram públicas e televisionadas. Os camiões e os carros da Comissão chegavam à mais remota aldeia e os processos começavam. Muitas mães e filhas compareciam perante a Comissão e revelavam os desaparecimentos, as mortes, choravam e pediam pelo menos para saber do corpo do filho, marido ou pai, que numa qualquer noite nos anos 80 tinha sido levado por homens quase sempre brancos e quase sempre sem farda, mas que falavam como polícias. O polícia que tinha cometido o crime tinha duas opções: ou vinha perante a Comissão e confessava e pedia perdão ou recusava falar perante a Comissão e passava a ser julgado por crime. As sessões televisionadas foram contextualizadas por um dos jornalistas mais importantes na luta contra o apartheid, o branco Max du Preez. O pormenor de ser branco e afrikander foi importante para a construção da reconciliação. Ele era supostamente dos ‘maus’ mas nunca o foi e agora era ele que nas televisões falava dos crimes, denunciava, investigava, chorava. Muitas vezes os perpetradores levavam a Comissão ao local do crime e a identificar o local onde os corpos estavam enterrados.Todos os modelos de reconciliação têm problemas e não se podem exportar para outros países. Cada caso é um caso. A dimensão da violência e das mortes em Moçambique não pode ser comparada com a da África do Sul. E a singularidade de transmitir em directo na televisão, mesmo agora, não chegaria a muitos cantos de Moçambique. Mas os dois modelos tiveram, na minha opinião, um efeito antagónico nas pessoas. Durante os seis anos que vivi na África do Sul (depois de 2004), qualquer sul-africano que se referisse ao apartheid fazia-o na primeira pessoa. Tinha sido o drama dele. Da sua família, da sua rua, do seu bairro, do seu grupo. Pelo contrário, em Moçambique sempre encontrei a descrição da guerra na terceira pessoa. No abstracto. Nunca até esta semana um moçambicano me tinha falado da guerra com ‘eu sofri…’. A guerra afectou quase todas as famílias moçambicanas, mas a descrição foi me sempre feita como‘ o país sofreu muito, o povo sofreu muito. Houve muitas mortes’. Na África do Sul, mesmo que na família não tenha existido algum activista ou vítima, o sul-africano contará a desgraça do seu vizinho como a sua desgraça. O moçambicano não falará da mãe, ou do pai, ou irmão que perdeu. Falará das mortes, que houve muitas mortes.Há meses que os incidentes violentos se reiniciaram. Alegados ataques a dirigentes da Renamo, alegados ataques de homens da RENAMO às forças governamentais... Cada parte culpabiliza a outra. E os media inventaram mais uma expressão para o que se está a passar: ‘recrudescimento da tensão político-militar’. Em qualquer intervenção de dirigentes de Estado, de igrejas ou da sociedade civil apela-se à paz mesmo não havendo guerra. O tal recrudescimento poderia ser substituído pela simples palavra ‘retoma’. Seria mais fácil para uma população em que mais de 50% tem dificuldade com a língua portuguesa e confesso que mesmo eu, para dizer ‘recrudescimento’, tenho de pensar para não perder nenhuma sílaba.Esta semana, na estrada nacional no centro do país, tal como em 2013, passou a ter de se integrar uma coluna militar para se poder fazer o percurso. Carros e camiões de civis aguardam horas para que possam ser acompanhados por uma coluna militar, medida preventiva e de resposta do Governo a mais ataques da Renamo a carros nesta estrada.A guerra que não existe actua como na outra guerra: cria medo, paralisa o país, acorda fantasmas… Sábado preparava-me para conduzir da cidade de Quelimane para o Malawi. Já fiz este percurso no passado. Ao longo da semana fui perguntando a alunos e ex-alunos que vivem neste percurso como estava a situação. A resposta era que ‘para já está tudo calmo’, mas existiam rumores de ‘movimentos de homens’. Quando se utiliza esta expressão, normalmente as pessoas referem-se a homens da Renamo, mas também já a usam para falar dos homens das FADM. Como não se verificaram incidentes neste percurso, mantinha-se o plano da viagem. Até que, no dia anterior ao da minha partida, chegou o medo. ‘Não pode viajar, não é seguro nesta situação’. Desabafei com ex-alunos o que me tinha sido dito e, pela primeira vez, durante quase uma década de ensino e trabalho em Moçambique, ouvi falar da guerra na primeira pessoa. Com ar calmo, um dos ex-alunos perguntou-me “A Professora já viveu num país em guerra?” Respondi que não, só em pós-guerra e sempre em missões curtas. E, sem eu perguntar nada, ouvi “Eu vivi coisas que não quero ver mais. Batiam, cortavam um braço, ou matavam, levavam-nos. A Renamo vinha da periferia e atacava os distritos. Fugíamos para onde podíamos.” Perguntei que idade tinha nessa altura. “Eu tinha sete anos, lembro-me porque foi quando já podia correr, já podia fugir”. A conversa continuou comigo a tentar respeitar o que sabia ser uma conversa nada fácil. Fiz poucas perguntas, mas também não eram precisas. O desabafo tinha começado e continuou. Foi como se uma cortina de silêncio tivesse sido rompida. “A professora sabe? Eu já fui a um funeral numa vala comum! Há uma zona na Maganga da Costa (na Província da Zambézia) chamada Zona Verde. Nessa zona colocavam-se corpos lado a lado. Trezentos, quatrocentos… Os que coubessem…”. Eu não disse nada, mas o nome zona verde para tal sítio pareceu-me inapropriado. Continuei calada.“Na altura, os centros das vilas e das cidades estavam com a Frelimo e o mato com a Renamo. Quando a Renamo atacava vinha buscar bens, levava tudo e depois queimava o que não podia levar. Quem carregava as coisas era muitas vezes quem não tinha conseguido fugir e era levado para as bases da Renamo. Eu vivi no centro de uma vila, mas, se a professora falar com quem viveu no mato, provavelmente contarão o que ali sofreram com as Forças do Governo. Foi mau. Os corpos eram de todos os lados.” Havia alunos mais jovens a ouvir este relato, mas não comentavam e nem perguntavam nada. São os jovens pós-guerra. Nasceram depois de 1992 e da guerra, ouvem falar muito pouco dela, apenas sabem que existiu. Perguntei a esses alunos-pós-guerra ‘e vocês têm histórias?’. Riram-se… ‘Professora, nós nascemos na paz’. Insisti: ‘sim… e lá em casa a família não fala da guerra?’  Primeiro veio um não. Depois uma lá disse ‘bem… sei que uma tia minha foi levada pela Renamo porque não conseguiu fugir e ainda hoje é Renamo”. E afinal havia mais uma ou outra história: ’A minha mãe também conta que incendiaram um posto médico e houve um bombardeamento quando a minha avó tinha acabado de ter uma criança. A minha avó pegou no recém-nascido e fugiu”. O outro aluno, quase que orgulhosamente, dizia ‘não, na minha casa não há histórias de guerra. Viviam aqui na cidade’. Não lhe disse, mas não há família que não tenha histórias de guerra. Foi uma conversa com intervalos de silêncio.Depois, o mais velho, desta vez a rir, contou mais um episódio da sua memória: ’Numa das vezes que tínhamos fugido e regressávamos a casa (a professora sabe como é… coisa de miúdos…) eu era o mais novo e corri para casa para chegar antes de todos. Quando cheguei à varanda apercebi-me de que estava lá um homem gordo deitado… fiquei com medo e corri de volta. Pensei que eram homens da Renamo. Já não voltámos. O meu pai só teve coragem de regressar no dia seguinte e foi quando soubemos que afinal era só um vizinho embriagado, que não tinha conseguido fugir e ali tinha ficado.’ Riram todos. Uma das mais novas disse que, se estava ali, em parte tinha de agradecer à Renamo porque, se a família não tivesse fugido do mato, ela talvez não tivesse nascido na cidade, mas, sim, na machamba. E todos rimos a imaginá-la de enxada na mão e vestida com uma capulana, no meio do mato, em vez da senhora doutora, que hoje conhecemos, com as suas unhas pintadas, roupas sempre último grito de moda e cabelo impecável. Dizem que rir é a melhor cura para os males. Talvez. Despedi-me e fui-me embora.E na minha cabeça só ouvia a primeira pergunta: ‘a professora já viveu num país em guerra?’ Talvez o ‘não’ que respondi, afinal, já não seja verdade. Se pensar no ‘recrudescimento da tensão político militar’ e no facto de eu residir grande parte do ano na cidade de Quelimane, no centro de Moçambique, uma das Províncias que a Renamo diz que irá governar à força já a partir de Março, talvez já não possa responder que nunca vivi num país em guerra.




ELISABETE AZEVEDO-HARMAN

Politóloga e Professora na Universidade Católica de Moçambique

Frelimo organiza mini-manifestação, enquanto académicos e religiosos pedem por paz




Marcha da Frelimo repudia ataques da Renamo
Marcha da Frelimo repudia ataques da Renamo




Cerca de uma centena compareceram ao pedido do partido no poder.



Numa altura em que a confrontação armada marca o dia-a-dia no centro de Moçambique, membros da Frelimo convocaram para esta quarta-feira, 24, uma manifestação pública pela paz no país....
Era para ser um movimento massivo, a avaliar pelo partido que organizava, mas ao invés disso, pouco mais de uma centena de pessoas aderiram à marcha, que percorreu algumas ruas de Maputo, e culminou na Praça da Paz, com as palavras de ordem.
"Queremos a paz de volta. Queremos apelar aos nossos irmãos que teimam em viver no mato para que venham juntar-se a nós para desenvolvermos Mocambique", diziam os manifestantes.
Enquanto decorria a marcha, religiosos, partidos políticos, académicos e sociedade civil reuniam-se noutro lugar para reflectir sobre a paz e estabilidade no país.
O arcebispo católico da Beira, Dom Cláudio Zuana, descrevia assim a situação do país: "A Paz em Mocambique tem os seus inimigos, aqueles cujos interesses acabam favorecidos pela guerra".
A injustiça, intolerância política, a exclusão social e a falta de transparência são os actuais elementos descritos pelo Arcebispo Zuana, como factores da instabilidade, que mereceram alguns recados para o governo.
Da reflexão emergiu como uma das principais palavras de ordem, a necessidade de uma acção mais vigorosa da sociedade para persuadir os políticos.





A opiniao do Arcebispo da Beira




"A Paz em Mocambique tem os seus inimigos, aqueles cujos interesses acabam favorecidos pela guerra".


( Dom Cláudio Zuana, Arcebispo católico da Beira )

Assuntos do dia


Wednesday, 24 February 2016

Ultima Hora; Conselho de Defesa e Segurança delibera encontro entre Nyusi e Dhlakama

Maputo (Canalmoz) - Terminou há momentos em Maputo, a reunião do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, convocado por Nyusi para discutir o espectro de guerra civil que se vive no País. Há muito que o órgão não reunia e no consulado de Guebuza quase que nunca chegou a ser chamado....
O órgão deliberou a criação de condições de segurança para o encontro com o líder da Renamo, com vista a pôr termo às confrontações entre as tropas governamentais e os homens da Renamo e “consolidar definitivamente o ambiente de paz” lê-se no comunicado divulgado pela Presidência da República.
A questão da segurança é fulcral para a Renamo que tem motivos mais do que suficientes para duvidar das intenções do Governo, se se tomar em conta que por duas vezes em Setembro do ano passado, o mesmo Governo tentou assassinar Afonso Dhlakama e em Janeiro deste ano o seu Secretário Geral Manuel Bissopo também escapou a um atentado. A confiança entre as partes está praticamente deteriorada,



( Canalmoz )

Moçambique: Fuga em Massa após Alegados Abusos do Exército



6000 trocam Moçambique por condições precárias no Malawi


(Joanesburgo, 23 de Fevereiro de 2016) – O governo de Moçambique deve investigar com urgência as alegações de execuções sumárias, abusos sexuais e maus-tratos por parte das suas forças armadas na província de Tete, anunciou hoje a Human Rights Watch. Desde outubro de 2015, pouco depois de começarem as operações do exército para desarmar milícias ligadas ao principal partido da oposição de Moçambique, Resistência Nacional Moçambicana ou RENAMO, pelo menos 6000 pessoas fugiram para o Malawi.
Em meados de fevereiro de 2016, várias dezenas de requerentes de asilo no campo improvisado de Kapise, no Malawi, relataram à Human Rights Watch ter fugido dos abusos do exército e que por isso, têm medo de voltar para casa. Mulheres descreveram como os seus maridos foram sumariamente executados, ou amarrados e levados para paradeiro desconhecido por soldados de uniforme, alguns deles transportados por veículos do exército. Em vários casos, os soldados incendiaram casas, celeiros e campos de cultivo, acusando os residentes locais de alimentar e apoiar as milícias.
“O exército de Moçambique não pode usar a desculpa de desarmar as milícias da RENAMO para cometer abusos contra as mesmas ou contra os residentes locais”, afirmou Zenaida Machado, pesquisadora da Human Rights Watch para Moçambique. “O governo deve iniciar, com urgência, uma investigação às alegações de abusos e garantir que as operações de desarmamento são conduzidas de acordo com a lei.”
As tensões entre o partido do governo, Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e o partido da oposição, RENAMO, têm vindo a aumentar desde que a FRELIMO ganhou as eleições em Outubro de 2014. Antes disso, duas décadas após a guerra civil que devastou o país, a RENAMO iniciara uma insurgência de baixo nível. Em 2014, houve um novo acordo de paz, mas a RENAMO afirma que o governo não foi capaz de integrar os soldados rebeldes no exército e na polícia, nos termos do acordo. O governo diz que a RENAMO se recusou a entregar uma lista das milícias a integrar no exército nacional. A província de Tete é um reduto da RENAMO rico em carvão na fronteira com o Malawi.
Uma mulher de 20 anos da aldeia de Ndande disse que, em 7 de fevereiro, a sua família foi acusada de alimentar a milícia da RENAMO, por cinco soldados do governo. Relatou que o marido foi preso e agredido na cabeça com a coronha da arma de um soldado, tendo ficado a sangrar. Pouco depois, ela ouviu tiros e viu que o marido tinha sido alvejado à queima-roupa pelos soldados. Ela fugiu com os dois filhos e escondeu-se nas proximidades, perto do rio Mpandwe, tendo atravessado a fronteira para o Malawi na mesma noite.
Uma mulher de 22 anos de Ndande disse ter visto o marido ser detido por soldados. Quando, mais tarde, encontrou a roupa do mesmo perto do local onde fora capturado, acreditou ter sido assassinado. “Os meus familiares disseram-me para guardar a roupa porque ele ainda podia andar por lá”, disse. “Mas quando lhe ligo, não atende o telefone.” Ela acabou por fugir para o Malawi com os filhos.
Um homem de 33 anos afirmou ter sido detido durante várias horas a 5 de Fevereiro, em Ncondezi, distrito de Moatize. Disse ter sido repetidamente agredido com um sjambok, um chicote de couro pesado, por soldados que o acusaram de roubar e de pertencer à milícia da RENAMO. Mais tarde, conseguiu fugir e atravessar a fronteira para o Malawi. Na aldeia de Madzibawe, em Dezembro de 2015, os soldados detiveram um homem que acusaram de ser membro da milícia da RENAMO, colocaram-lhe uma corda ao pescoço e infligiram-lhe cortes na cabeça com uma faca de grande dimensão, ferindo-o com gravidade, relatou uma testemunha.
Um homem de 74 anos de Ndande, que estivera refugiado no Malawi durante a guerra civil de Moçambique que terminou em 1992, disse: “Agora que voltaram os confrontos, a vida perdeu o valor. Por isso, decidimos partir para o Malawi em busca de segurança. […] Cheguei no mês passado só com a roupa do corpo. Os soldados do governo incendiaram-me a casa e tudo o que tinha. Também incendiaram muitas outras casas e campos de cultivo na minha aldeia.”
A Human Rights Watch também ouviu relatos credíveis de violência e abusos sexuais, embora as mulheres e raparigas tivessem demonstrado relutância em falar sobre o que lhes aconteceu com medo do estigma. Uma mulher de 19 anos, grávida, da aldeia de Madzibawe, relatou ter-se cruzado com dois soldados a caminho do mercado, em Outubro, que lhe ordenaram que se deitasse, levantaram-lhe a saia e abriram-lhe as pernas. Um dos soldados utilizou um pau para tocar nos órgãos genitais e seios da mulher, ordenando-lhe que dissesse o nome de cada uma das partes. Eventualmente, deixaram-na levantar-se, pontapearam-na nas costas e mandaram-na embora. Posteriormente, a mulher fugiu para o Malawi, tendo passado mais de um mês no mato até alcançar a segurança.
Em 18 de Fevereiro, o Alto Comissariado das Nações Unidos para os Refugiados (ACNUR) declarou que mais de 6000 requerentes de asilo, na sua maioria mulheres e crianças, foram registados no Malawi desde meados de Dezembro. A maioria está alojada num campo improvisado em Kapise, no distrito de Mwanza, a 300 metros da fronteira com Moçambique. Este campo sobrelotado é de difícil acesso e, aquando da visita da Human Rights Watch, dispunha apenas de dois furos de água e quatro latrinas de fossa para atender às necessidades do número crescente de residentes. O campo não tinha quaisquer instalações escolares.
O governo do Malawi não está a registar os recém-chegados como requerentes de asilo, nem tem envidado quaisquer esforços para melhorar as condições do campo. Pelo contrário, os oficiais têm deixado claro que querem que os residentes regressem à casa. Um alto oficial do Ministério da Administração e Segurança Interna, Beston Chisamire, disse à Human Rights Watch: “Verificámos que os refugiados vêm do distrito moçambicano de Moatize, na província de Tete. Não temos intenção alguma de abrir um campo de refugiados. O nosso foco é a sua repatriação.”
Na sua declaração de 18 de Fevereiro, o ACNUR instou tanto Moçambique como o Malawi a respeitar o direito dos recém-chegados de requerer asilo, e levantou preocupações sobre a pressão a que estão sujeitos para regressar à casa. Funcionários do governo moçambicano já visitaram o campo de Kapise pelo menos três vezes desde meados de janeiro para falar com os requerentes de asilo.
Os residentes do campo com quem a Human Rights Watch falou afirmaram que não querem regressar a Moçambique por temerem a violência e o assédio dos soldados estatais. Negaram as alegações do governo de Moçambique de que é seguro regressar. “Por que razão deixaria a minha casa, os meus campos e os meus bens para vir viver para este campo sobrelotado se fosse seguro ficar em Moçambique?”, disse uma idosa.
Em Janeiro, o governo de Moçambique negou que os recém-chegados ao Malawi fossem refugiados de Moçambique, alegando tratarem-se de agricultores que atravessavam a fronteira regularmente. Em 17 de Fevereiro, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, embaixador António Matonse, disse à Human Rights Watch que, no seguimento de uma visita de alto nível à província de Tete e ao campo de Kapise em Malawi, o governo concluiu que “tensões militares, confrontos esporádicos e a seca grave” podem ter levado as pessoas a fugir.
“O governo do Malawi deve permitir de imediato que os requerentes de asilo apresentem pedidos de proteção e facilitar ajuda de emergência num campo de refugiados funcional e seguro”, afirmou Dewa Mavhinga, investigador sénior da Human Rights Watch para o sul de África. “Os governos de Moçambique e do Malawi não devem tentar enviar as pessoas para casa sem primeiro garantir que é seguro fazê-lo.”



( Relatorio da Human Rights Watch )


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Contingente da Polícia volta a cercar delegação da Renamo na cidade de Maputo

Tensão político-militar



Gás lacrimogéneo, bombas de água, tanques de guerra e viaturas ligeiras. Estes foram os meios com que os agentes da Unidade de Intervenção Rápi­da e da Polícia da República de Moçambique se apresentaram em mais um cerco à delegação da Renamo na cidade de Mapu­to.Era para ser um simples en­contro entre os militantes e uma brigada central do partido, enviada para avaliar a saúde das actividades na capital, mas logo às primeiras horas de ontem e, debaixo de chuva, um forte contingente posicionou-se nas proximidades da delegação, localizada na esquina entre as avenidas Filipe Samuel Magaia e Emília Daússe, e permaneceu no local, enquanto no interior decorria a reunião.Os membros do partido de Afonso Dhlakama mostraram­-se surpreendidos com a presen­ça do contingente, no dia em que se reuniam para reflectir sobre a vida o partido e dese­nhar estratégias de mobilização na capital do país.



 O País

Tuesday, 23 February 2016

Homens da Renamo atacam colunas de escoltas militares no centro de Moçambique

Homens armados da Renamo atacaram hoje duas colunas de viaturas escoltadas pelos militares em dois troços da N1, a principal estrada de Moçambique, ferindo uma pessoa e danificando pelo menos três veículos, disse à Lusa fonte policial.



Cerca das 10:00 (menos duas horas em Lisboa), uma coluna de 90 viaturas foi metralhada na zona de Zove, no distrito de Chibabava, quando fazia o sentido Save-Muxúnguè, tendo uma pessoa sido atingida com gravidade e a viatura em que seguia sofrido danos ligeiros, declarou à Lusa Sididi Paulo, oficial de informação no comando da Polícia da Republica de Moçambique (PRM) da província de Sofala.
Uma hora depois, na zona de Nfuza, mais de 300 quilómetros a norte de Muxúnguè, no segundo troço das escoltas militares na N1, uma coluna de 61 viaturas que fazia o trajecto Nhamapadza-Caia foi parada com tiros, tendo duas viaturas sofrido danos ligeiros.
Uma testemunha deste ataque disse à Lusa que também um blindado das forças de defesa e segurança, que fazia a escolta neste troço, ficou imobilizado pelos disparos, mas a polícia não confirma este relato.
"Estes são os primeiros ataques às colunas perpetrados por homens armados da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana)", assinalou a porta-voz da PRM.
As forças de defesa e segurança, disse Sididi Paulo, responderam "prontamente a estes ataques nos dois troços" e permaneceram no local para permitir que as escoltas decorram de forma tranquila.
As forças de defesa e segurança, prosseguiu, continuam engajadas para "repelir" os ataques dos homens armados da Renamo, assegurando que está em curso um trabalho para "garantir a ordem e tranquilidade públicas nestes locais".
As forças de defesa e segurança reactivaram na semana passada as escoltas militares obrigatórias no troço Save-Muxúnguè, província de Sofala, devido uma nova vaga de emboscadas e ataques desde o dia 12 de Fevereiro que atribuem à Renamo.
No sábado foi montada um dispositivo similar num segundo troço da N1, no percurso Nhamapadza-Caia, também em Sofala, e que foi palco recente de violentos ataques a viaturas civis, segundo informou a Polícia.
Nos dois troços de cerca de cem quilómetros cada, as forças de defesa e segurança garantem escoltas em colunas com os militares distribuídos entre as viaturas, mas chegam relatos de sucessivos atrasos devido a problemas logísticos das autoridades.
Esta medida já tinha sido aplicada no troço Save-Muxúnguè, entre 2013 e 2014, na última crise política e militar entre Governo e Renamo, e, apesar disso, foram registados vários ataques que deixaram um número desconhecido de mortos e feridos, incluindo civis, e fortes danos na economia do país.
Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de outubro de 2014.
Esta é a pior crise em Moçambique desde o Acordo de Cessação de Hostilidades Militares, assinado a 05 de Setembro de 2014 pelo ex-Presidente Armando Guebuza e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, colocando termo aos ataques na N1.
A violência política voltou no entanto a Moçambique a seguir às eleições, agravando-se nos últimos meses, com acusações mútuas de ataques, raptos e assassínios.
A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo, que se encontra bloqueado há vários meses.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição e que só retomará o diálogo após a tomada de poder no centro e norte do país


Fasquia subiu e os moçambicanos já acordaram




Toda a gente já abriu os olhos.



A TVM, STV, RM e as suas congéneres até podem esforçar-se em apoiar ofensivas mediáticas e dedicar tempo de antena mais do que merecido a cultores daquilo que chamam “agenda nacional”.
O que se esperava da comunicação social pública deixa muito a desejar, e isso já foi sobejamente comentado.
Mas não se pode deixar de apontar o dedo ao que se tem revelado como um serviço contra a justiça, contra a paz e o desenvolvimento nacional.
Aqueles comentaristas e analistas convidados pela RM, TVM e STV quase sempre, com raras e conhecidas excepções, alinham por um diapasão semelhante à tristemente famosa “Rádio das Mil Colinas”, incentivando acções que acabaram por ser um genocídio. A ONU, a UA, a Bélgica, a França e os vizinhos fizeram vista grossa ao que se passava, e deu no que deu.
Hoje, quase todo o mundo faz vista grossa ao que acontece em Moçambique, em que já há refugiados de guerra no Malawi.
Os porta-vozes e outros dignitários repetem-se, mentindo que está tudo bem.
Os que hoje dizem que a Renamo é a causa da instabilidade esquecem-se que, nos dias de ontem, o Departamento de Trabalho Ideológico da Frelimo vendia aos moçambicanos a ideia de que aquele movimento rebelde era unicamente uma criação dos regimes racistas da região. Jamais explicaram aos moçambicanos sobre a razão da rebeldia, nem deram a conhecer que, num passado recente, sangue de irmãos tinha sido derramado por motivos oficialmente nunca esclarecidos. Uns falam de alegada traição, mas escusam-se a dizer que foi uma luta interna pelo poder que separou compatriotas. Nunca conseguem trazer à luz do dia os graves acontecimentos que minaram aquilo que não se cansam de pregar como “Unidade Nacional”.
Em nome de uma ideologia que “compraram” em campos de treino de guerrilha ou em seminários e conferências com os seus compadres do Leste europeu, nos cafés de Paris ou algures na China Popular subjugaram compatriotas e foram juízes e algozes de compatriotas.
Agora que se sonhava com as recentes descobertas de riquezas minerais e outras, muitos afiavam os dentes para abocanharem em exclusividade o que descoberto e redescoberto.
É daí que se devem tirar ilações sobre o que está acontecendo. Não vale a pena inventar ou tentar encontrar explicações complexas para algo que é relativamente simples.
Um país que recusa reconciliar-se e em que as assimetrias regionais pontificam numa abordagem de cegos é um país em perigo permanente, como se pode ver.
Um país em que se repetem tentativas de alguns apropriarem-se da sua história, em detrimento de uma larga maioria, é um vulcão adormecido, mas não extinto.
Como diz o ditado, a mentira tem pernas curtas, da mesma maneira que “fintar” os adversários é de utilidade temporária.
Há batalhões colocados no terreno em defesa de uma suposta pureza do regime.
Aqui não se trata de defender ou de apoiar as partes em conflito.
O apelo e os esforços devem ser feitos no sentido de prestar ajuda aos nossos compatriotas desavindos. Há tendência de fingir que não vemos aquilo que afectaria o nosso ganha-pão, e isso tem prejudicado o país.
O nosso país já deu passos, e os resultados alcançados demonstram que é possível fazer muito mais e melhor. É preciso que, enquanto compatriotas, aprendamos a aceitar que isso é inalienável e tudo deve ser feito para que salvemos o nosso país daqueles que pretendem que mergulhemos em mais uma guerra.
Não podemos descair para Estado-falhado só porque alguns dos compatriotas têm um apetite exacerbado no que diz respeito às possibilidades e riquezas nacionais. O “bolo até chega para todos”.




(Noé Nhantumbo)




CANALMOZ – 23.02.2016, no Moçambique para todos!