Monday, 19 August 2019

Mariano Nhongo é eleito líder da "Junta Militar da RENAMO"


Major-general foi escolhido por grupo de guerrilheiros que contesta a presidência de Ossufo Momade à frente do maior partido da oposição de Moçambique. "Junta Militar" considera acordo de paz com FRELIMO como nulo. 


O major-general Mariano Nhongo
O major-general Mariano Nhongo
Em Moçambique, a autointitulada Junta Militar da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que contesta a liderança do Presidente do partido, Ossufo Momade, anunciou esta segunda-feira (19.08) a eleição do major-general Mariano Nhongo como novo líder do maior partido da oposição.
O grupo contestatário anunciou a eleição do seu líder para assumir a liderança do partido num ato em que foi candidato único. O anúncio foi feito no final de uma conferência nacional de três dias realizada na serra da Gorongosa. Nhongo disse aos jornalistas que vai respeitar a trégua: "Eu sou presidente da RENAMO e já estou a tomar posse. Não vou fazer brincadeiras, vou defender o partido de toda a maneira. Quem vier com força também vou usar a força."
Por seu turno, o porta-voz da RENAMO, José Manteigas, reiterou que Ossufo Momade é o Presidente do partido, eleito pelo Congresso, e reafirmou o compromisso com o acordo de paz assinado  com o Governo.
"A RENAMO, partido político devidamente registado e representado pelo presidente eleito no Congresso este ano, o general Ossufo Momade é uma das partes que assinou o acordo definitivo de paz e reconciliação nacional. Outras vozes não vinculam à RENAMO", afirmou.
O grupo contestatário, que afirma ser a estrutura militar da RENAMO, se encontra nas matas com 11 unidades militares provinciais. A Junta Militar exige a renúncia de Ossufo Momade, acusando-o de isolar os oficiais que estiveram sempre ao lado do antigo líder do partido Afonso Dhlakama.


Excluídos
No sábado passado (17.08), o porta-voz da conferência, João Machava, disse que Ossufo Momade excluiu vários guerrilheiros do processo de desarmamento, desmilitarização e reintegração das forças da RENAMO.
"Ossufo Momade excluiu 60% dos militares, tem que reconhecer isso. Aqueles 60% dos militares excluídos em todo o processo amanhã o que é que fazem? Voltam às matas, porque não sabem fazer mais nada fazer senão pegar em armas", disse.
Segundo Machava, o objetivo do grupo não é retornar à guerra ou desestabilizar o país. "Queremos um processo justo onde os verdadeiros guerrilheiros da RENAMO e, sem exceção, sejam efetivamente reintegrados na sociedade e contribuam na reconciliação nacional. Queremos ser membros ativos neste processo", sublinhou.
O líder do grupo contestatário, Mariano Nhongo,informou que vai iniciar contatos com o Governo para prosseguir com o processo de desarmamento do braço armado do partido. Por seu turno, o porta-voz da RENAMO, José Manteigas, afirma que as informações indicando a exclusão de 60% dos guerrilheiros são falsas.
"É falso, porque o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) está em curso e, que eu saiba, não está concluído. Portanto, não corresponde à verdade. O que foi acordado é um DDR que está, neste momento, a ser executado", afirma.
Acordo de paz 'nulo'
A Junta Militar considerou nulo o acordo de paz assinado recentemente entre o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO, Ossufo Momade.
O grupo quer ainda o adiamento das eleições de 15 de outubro próximo e a realização de um novo recenseamento de raiz. Pede também aos Governos de Portugal e Ruanda e à Cruz Vermelha Internacional para mediarem o processo de pacificação do país junto da comunidade internacional.

A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder, apela à RENAMO para que encontre formas de resolver o problema com o grupo contestatário. "Esses são problemas internos da RENAMO, acredito que não são problemas do Governo. Esperamos que a RENAMO se reencontre e compreenda que o Presidente Nyusi está a fazer a sua parte, e eles também precisam de fazer a sua parte", afirmou o secretário-geral da FRELIMO, Roque Silva.
O ex-Presidente de Moçambique Joaquim Chissano e signatário do acordo geral de paz assinado entre o Governo e a RENAMO em Roma em 1992 considera que a situação do partido deve ser analisada para ver se há um real perigo de ameaça à paz e se as razões que possam levar a isso merecem ser respeitadas.
"Se merecem respeito, então, o caminho é mesmo de encontrar uma dissuasão pacífica conhecendo as razões profundas", disse. 
Já o porta-voz da RENAMO, José Manteigas, afirmou que "as portas da RENAMO estão abertas". "Esses são nossos irmãos e o apelo que o Presidente Ossufo Momade faz é que esses irmãos voltem para casa e nos unamos para trabalharmos no sentido de vencermos as eleições", finalizou.


DW

Tuesday, 6 August 2019

O Governo e a Renamo assinam hoje o acordo final de paz e reconciliação, na capital do país.

Governo e Renamo assinam hoje acordo final de paz
Lusa
A assinatura está marcada para as 16:00 na Praça da Paz, e contará com a presença da Alta Representante da União Europeia para a Política Externa, Federica Mogherini.
Portugal estará representado pela secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro.
O acordo terá de ser depois ratificado no parlamento.
Na passada quinta-feira, o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Ossufo Momade, assinaram o acordo de cessação das hostilidades na Gorongosa, província de Sofala, centro do país, para acabar, formalmente, com os confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Trata-se do terceiro acordo entre o Governo e a Renamo, depois da assinatura do Acordo Geral de Paz de Roma de 1992 e do acordo de cessação das hostilidades militares em 2014, na sequência de uma nova vaga de confrontos entre as duas partes.
No domingo, o líder do braço armado da Renamo que contesta a liderança do partido recusou entregar as armas no quadro do acordo de cessação de hostilidades assinado com o Governo sem que seja eleito um novo presidente da formação política.
“Nós vamos eleger o nosso presidente e só depois é que vamos entregar as armas”, disse Mariano Nhongo, general da Renamo, que deixou um aviso ao Governo e ao actual líder do partido, Ossufo Momade: “Não [nos] enganem, os militares estão do meu lado”.


Lusa

Monday, 5 August 2019

A FRENAMO e os novos “bandidos armados” da Renamo



Com o acordo de cessação das hostilidades, rubricado pelo PR Filipe Nyusi e pelo líder da Renamo Ossufo Momade, surgiu um grupo se colocando como o único empecilho para que Nyusi celebre eternamente o estatuto do derradeiro pacificador de um conflito que mergulhou Moçambique no sangue durante décadas a fio: os dissidentes da Renamo. Há quem acredita que estes dissidentes têm potencial para perigar a paz. Até é possível.
O grupo é composto por generais do “innner circle” da guerrilha de Afonso Dhlakama, que deram seu corpo e alma às “causas” da luta. Queriam o poder de veto no processo decisório interno, mas Ossufo Momade deu-lhes costas. Têm armas e controlam bases do interior. Mas as possibilidades da sua persistência na hostilização violenta contra o poder do Estado (reivindicando um poder dentro da Renamo) parece-me limitada.
O acordo Nyusi-Momade carimbou também uma aliança FRENAMO (Frelimo/Renamo), que agora se junta, em coligação, contra os dissidentes. Ou seja, o grupo que insiste na rebeldia tem agora o Estado e boa parte da Renamo do outro lado da barricada. O acordo Nyusi-Momade foi celebrado por parte da facção guerrilheira da Renamo e pela totalidade da facção política da Renamo, desde os “tachistas” parlamentares a toda uma panóplia de políticos, dhlakamistas ou não, espalhados pelas capitais provinciais.
Por outras palavras, os dissidentes actuais da Renamo não têm suporte político (a não ser que depois das eleições apareçam políticos se juntando aos guerrilheiros nas matas numa reivindicação contra a fraude – coisa que só Afonso Dhlakama sabia fazer). Mas ainda ontem vimos a Ivone Soares marchando em celebração do acordo. Os dissidentes têm, pois, uma capacidade de barganha limitada. A opinião pública é contra mais matança nas estradas e a comunidade internacional também está cansada das nossas desavenças de sangue.
Os anteriores acordos entre o Governo e a Renamo, como o de 2014, falharam por causa da capacidade de Afonso Dhlakama de enxergar a maracutaias da Frelimo e mobilizar, ao mesmo tempo, suas energias políticas e militares. Dhlakama foi-se e não deixou um sucessor com sua dimensão e carisma para dar continuidade ao seu estilo de luta.
Os dissidentes reivindicam um espaço dentro da Renamo, acusando Momade de falta de legitimidade. Mas o acordo FRENAMO mostrou que isso já não interessa. Quem da Renamo não entrou na onda do acordo não passa agora de um bandido atirando contra a segurança do Estado. São os novos “bandidos armados”, sem qualquer tipo de legitimidade. Depois da assinatura em Chitengo, quando se soube de novos ataques nas estradas, Nyusi frisou que esse banditismo vai ser combatido ferreamente. Aliás, tudo vale agora para que a paz aconteça dentro dos anos de vigência do nyussismo.
a dissidência na Renamo vai ser mesmo capitalizada pela Frelimo, para eliminar todos os vestígios bélicos da guerrilha. Simbolicamente, para os novos “bandidos armados”, seria como que uma segunda morte de Dhlakama, com o beneplácito de toda a facção política traidora da Renamo, que ambiciona o conforto de Maputo.
Nos próximos meses, vamos ter algum sangue nas matas, com eleições de permeio. Depois o teste crucial será ver com que armas é que a Renamo fará a reclamação da fraude eleitoral, de que é useira e vezeira. A Renamo da FRENAMO está mesmo preparada para fazer a luta política nos espaços tradicionais, tal como em Angola a Unita aceitou as benesses do poder e se restringiu ao parlamento, ou vai tentar fazer renascer, depois de Outubro, o novo “banditismo armado”? Alô Novembro!



( Marcelo Mosse )

www.cartamz.com

Thursday, 1 August 2019

Peritos militares no terreno para identificar autoria de ataque armado no centro do país

O secretário-geral da Renamo disse hoje à Lusa que peritos militares do partido, Governo e da comunidade internacional estão a trabalhar para a identificação dos autores de um ataque armado na quarta-feira a dois veículos, no centro de Moçambique.
Peritos militares no terreno para identificar autoria de ataque armado no centro do país
Lusa
Homens armados atacaram na quarta-feira um autocarro de passageiros e um camião em Nhamapadza, distrito de Marínguè, província de Sofala, centro do país, ferindo o motorista e o ajudante de um dos veículos, disseram à Lusa testemunhas.
O local do ataque localiza-se a 200 quilómetros do distrito de Gorongosa, onde o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, principal partido da oposição, Ossufo Momade, assinam hoje o acordo de cessação das hostilidades militares.
Em declarações hoje à Lusa em Gorongosa, o secretário-geral da Renamo, André Majibire, disse que peritos militares do seu partido, do Governo e do Grupo de Contacto Internacional estão a trabalhar na identificação dos autores do ataque.
"A Renamo não tem conhecimento dos autores dessa acção, mas sabe que o Grupo de Verificação de Cessação das Hostilidades militares está a trabalhar para a identificação dos autores", declarou André Majibire.
O camião ficou imobilizado na sequência dos tiros e o autocarro conseguiu seguir viagem, mas foi atingido por balas, apresentando furos de projécteis nos lados.
O troço onde ocorreu o ataque foi palco de ataques regulares a veículos durante os confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Renamo, entre 2013 e 2015.
Os veículos alvejados seguiam na direção Nhamapadza - Gorongosa.
Um jornalista que vive na Beira, capital da província de Sofala, disse à Lusa que, na sequência do ataque ocorrido em Nhampadza, a tripulação de um autocarro de passageiros que devia ter viajado para a cidade de Quelimane, província da Zambézia, também na região centro, adiou a viagem por medo.
O ataque ocorreu algumas horas após o Presidente moçambicano ter anunciado no parlamento que vai assinar hoje o acordo de cessação das hostilidades militares com o líder da Renamo.
Nas últimas semanas, um grupo de guerrilheiros do braço armado do principal partido da oposição alertou o Governo para a continuação da instabilidade militar no país, caso assine o acordo de cessação das hostilidades militares com Ossufo Momade, exigindo a renúncia deste do cargo de presidente da Renamo.
O grupo avisou que não vai aceitar o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração que se iniciou na segunda-feira, enquanto Momade continuar presidente da Renamo.


Lusa