A emissora pública Rádio Moçambique (RM) coloca em vantagem Paulo Vahanle, candidato da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição.
Vahanle soma 55,8% de votos, contra 44,5% de Amisse Cololo, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), quando faltam verificar os votos de 60 das 401 mesas.
Na noite de quarta-feira, o Centro de Integridade Pública (CIP) adiantou com base na contagem acompanhada por observadores que o candidato da Renamo ganhou a segunda volta da votação com 58% dos votos, enquanto o candidato do partido no Governo obteve 42%.
Em declarações à Lusa, Fernando Lima, analista político, afirmou que o triunfo de Paulo Vahanle é um castigo para o Governo central pela crise económica que o país enfrenta.
"Mais do que simpatia pela Renamo, trata-se de um voto contra a Frelimo pela dramática situação económica em que o país está mergulhado e que tem sido muito associada ao escândalo das dívidas ocultas", declarou Fernando Lima.
A eleição de Paulo Vahanle também demonstra que quando a oposição se une pode conseguir resultados interessantes, dado que o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido, declarou apoio à Renamo.
"O apoio do MDM pode ter tido o seu peso, mas é um peso que deve ser relativizado, porque o candidato da Renamo conseguiu na segunda volta um resultado superior aos votos que a Frelimo e o MDM obtiveram na primeira volta", assinalou Fernando Lima.
O analista considera que a vitória em Nampula pode significar o regresso da Renamo à governação em vários municípios no Norte, quando o país realizar a 10 de outubro as quintas eleições municipais nas 53 autarquias.
"Nampula, como um importante centro eleitoral, pode dar um grande ímpeto ao eleitorado nas zonas tradicionalmente favoráveis à oposição", frisou.
Por seu turno, Juma Aiuba, analista político residente em Nampula, considera que o voto a favor da Renamo revela a desilusão do eleitorado em relação à pobreza urbana e ao desemprego, bem como a crença numa mudança de rumo.
"Há muita pobreza urbana e muito desemprego e o eleitorado jovem culpa a Frelimo por isso, mas também há este desejo de manter a oposição no poder em Nampula, depois de alguns avanços conseguidos pelo anterior edil", disse Mahamudo Amurane.
A manutenção do poder pela oposição em Nampula, prosseguiu Juma Aibua, desafia Frelimo a redefinir-se e a reorganizar-se para um novo contexto, porque o eleitorado mudou muito e é cada vez mais heterogéneo nas zonas urbanas.
"É um erro confiar-se no voto étnico nas zonas urbanas, porque a população, nessas regiões, muda muito rapidamente, devido à exposição a outras realidades", assinalou.
Com a vitória em Nampula, a Renamo volta a governar uma autarquia, o que não acontecia desde 2013, quando boicotou as quartas eleições autárquicas.
A primeira vitória da Renamo em municípios aconteceu em 2003, quando conquistou vários conselhos municipais do Norte e depois de ter boicotado a votação de 1998 nas primeiras autárquicas na história do país.
O município de Nampula era dirigido desde 2014 por Mahamudo Amurane, autarca assassinado em outubro de 2017, num crime que ainda está sob investigação e que levou à eleição intercalar realizada na quarta-feira.


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