Saturday 20 May 2017

Comunicação social & comunidade britânica


Num telegrama Confidencial expedido a 27 de Outubro de 1986, o embaixador James Allan refere-se à “intensificação da campanha na imprensa visando implicar o governo da África do Sul” nas causas do desastre de Mbuzini. O diplomata disse que “certos jornalistas, especialmente o director da AIM, provavelmente o editor do Notícias, apoiados pelo director (britânico) da Rádio Moçambique estão a trabalhar afincadamente para promover a ideia de que o governo sul-africano foi responsável” pelo sucedido. Allan acrescentou que “o ministro da informação, Teodato Hunguana, sob considerável pressão de jornalistas locais, disse a 25 de Outubro que o governo não excluía a possibilidade de acção criminosa, e em resposta a uma outra pergunta (creio que de Iain Christie, Rádio Moçambique), afirmou que do mesmo modo o governo não excluía o envolvimento sul-africano”. O embaixador britânico salienta que “jornalistas de visita comentaram ser claro que o governo recusava-se a dar luz verde a jornalistas locais para avançarem com uma campanha desinibida sobre o envolvimento do governo sul-africano”.
O embaixador John De Vos, em telegrama Confidencial datado de 25 de Novembro, informou os seus superiores ter “escrito uma enérgica carta ao ministro da informação” depois do diário Notícias ter reproduzido, na edição de 21 do mesmo mês, um artigo da agência de notícias soviética, Novosti, intitulado, Imperialismo contra lutadores pela paz e libertação nacional, a insinuar o envolvimento dos Estados Unidos na morte do Presidente Samora Machel. O artigo alegava que nos últimos 25 anos, os Estados Unidos haviam sido directa ou indirectamente responsáveis pelo assassinato de líderes mundiais, incluindo o primeiro presidente da Frelimo, Eduardo Mondlane. Refere De Vos que “como consequência (da carta), o editor do Notícias, Mário Ferro, contactou o embaixador a fim de discutir o assunto e solicitar um artigo sobre as relações americano-moçambicanas a ser publicado em destaque” naquele diário.
Lynda Chalker, que representou o Reino Unido nas exéquias do chefe de Estado moçambicano, é citada numa nota do seu secretário particular com a data de 5 de Novembro como tendo dito “estar convicta que a campanha de desinformação soviética já obteve considerável sucesso junto dos líderes dos Estados da Linha da Frente”. Uma outra nota do secretário particular de Chalker, diz que “a comunidade britânica com quem ela se reuniu em Maputo, e que era sobretudo, mas não exclusivamente, de esquerda, recusava-se a aceitar como despropositadas as suspeitas de envolvimento sul-africano” na morte de Samora Machel. A nota, datada de 30 de Novembro, não identifica os membros da referida comunidade.



Joao Cabrita, Savana 12-05-2017

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