Quarta-feira, 20 de Novembro de 2013, foi um dia de festa para os cidadãos das autarquias de todo o país que acolheram as quartas eleições municipais. Os residentes viram-se, mais uma vez, chamados a exercer o seu direito de escolher os edis para os próximos cinco anos, uma prática supostamente democrática. No município de Angoche, este cenário foi diferente. Para além da turbulência registada ao longo do processo, foram registados actos ilícitos que se tornaram normais.
Muitos cidadãos identificados como “gente grande”, pessoas de bom status social e espelhos da sociedade chegaram a descer até o nível de molwenes para dar suporte ao processo de deposição de boletins de votos extras em quase toda a autarquia. E assim começava a histórias do nosso país. Tios, líderes e irmãos, o que se espera destes vossos filhos, sobrinhos, sem reputação?
É com grande sentimento de revolta que escrevo este excerto. Fico triste por saber que aquelas pessoas que sempre admirei eram na verdade um bando de mentiroso e hipócritas e que fizeram com que Angoche fosse hoje conhecido como o centro legal de práticas ilícitas pelos media do país e do mundo. Será que é essa reputação que vocês queriam?
O mais caricato ainda é que este tipo de actos é protagonizado por pais e encarregados de educação, docentes, académicos e líderes religiosos, dos quais se espera que sejam transmissores de boas práticas e valores socais. Hoje são eles mesmos que introduzem ou mandam introduzir nas urnas boletins de voto a favor do partido no poder e dos seus candidatos como forma de viciar os resultados. E agora milhares de nossos irmãos estarão a viver debaixo de mentiras. Se não conseguimos ter um peso de consciência pelos actos ilícitos que cometemos então somos selvagens.
O que esperamos da sociedades que lideramos? Qual é a credibilidade que pode ter um membro que chega à Assembleia Municipal por estas vias? Nós não temos integridade, fomos capazes de assumir isso perante tudo e todos. O mais complicado ainda é imaginar que alguns cidadãos tiveram acesso aos boletins de voto muitas horas antes do processo de votação iniciar, como mostram as imagens que circulam nos telemóveis de muitos munícipes de Angoche, nas redes sociais, etc.
Quem terá passado este material aos cidadãos? Para e com que propósito? Se calhar porque não conheço as regras de jogo do processo de votação em Angoche, mas honestamente pensei que os concorrentes fossem entrar mesmo em pé de igualdade, mas, infelizmente, esta realidade veio fazer-me entender que ainda tenho muito por apreender nestes assuntos.
Só nos resta saber como iremos gerir os fundos da autarquia, uma vez que a nossa conduta é duvidosa. Nós somos cobardes com estatuto. Meus senhores, Deus castiga esse tipo de práticas. Ele não é cobarde para ficar indiferente a isto, tarde ou cedo isto vai-se reflectir nas nossas vidas e até no dia do juízo final. Devemos abdicar e desencorajar este tipo de práticas se queremos uma sociedade sã e livre dos males mundanos.
Aos irmãos muçulmanos:
Em nenhum momento Allah ficou a favor do dhulma (a injustiça), mas ontem foram milhares de nós que se converteram em Dwaalims (injustos) Maunnafiks (hipócritas) em função dos seus interesses mundanos. E este Imán (Fé) que você cultivou durante o tempo todo?
É desta forma que você quer que o seu swalat (oração) seja válido? E ao Sheikh, o que espera que seja da sua reputação perante o Jammat que você dirige?! Isto é Kufr. “Que Allah puna severamente todos os que se envolveram nestas práticas, pois ele é o justo dos justos”.
Ao STAE-Angoche
Em que condições e circunstâncias o material de votação pode estar na posse de cidadãos eleitores? Qual é a credibilidade que o Secretariado Técnico da Administração Eleitoral e a Comissão Nacional de Eleições estão a transmitir aos munícipes de Angoche?
Enfim.... Sei que nada disso será suficiente para mudar algo, mas pelo menos fiz conhecer a minha posição. Tenho orgulho de ser angocheano e sonho um dia mudar os destinos da minha terra. Até um dia, se Deus quiser.
“Que Allah castigue devidamente os praticantes e encorajadores destas práticas”.
Nurdine Rajabo, A Verdade
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