Desde esta segunda-feira (25) vários jovens de ambos os sexos, ao que tudo indica com idade para prestarem Serviço Militar, estão a ser recrutados compulsivamente por grupos das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e outros agentes militares, alguns mesmo à paisana, na cidade da Beira para a "prestação de serviço militar e ao cumprimento das obrigações militares dele decorrentes" " segundo estabelece a Lei 32/2009 de 25 de Novembro.
@Verdade tem estado a receber centenas de relatos de quem viu amigos, familiares e outros jovens a serem levados por estas "brigadas" que simplesmente abordam os jovens na rua, nos mercados e os colocam em viaturas para serem levados para instalações militares na região. Há relatos de jovens que foram levados mesmo do interior das suas residências em vários bairros periféricos da cidade da Beira.
O nosso jornalista na capital da província central de Sofala presenciou nesta terça-feira, no bairro da Manga, na zona da vila Massane, o recrutamento compulsivo de dezenas de sete jovens. A mesma acção foi desencadeada na Praia Nova e no bairro de Macurungo. Neste último bairro, os jovens já estão a manifestar-se contra a ofensiva.
Outros jovens foram compulsivamente recrutados no bairro de Maquinio, concretamente nas proximidades do mercado. Esta operação tende a estender para além da cidade da Beira, afectando, neste momento, os postos administrativos de Tica e Mafambisse.
Há informações que dão conta de que os tais homens encarregues pelo recrutamento até mandam parar viaturas na via pública para deter jovens. Dois agentes PRM também fora recolhido e posteriormente restituídos à liberdade quando já se encontravam no quartel de Matacuane, na cidade de Beira.
Nesta quarta-feira, um chapa que fazia o trajecto Búzi/Beira não seguiu a viagem por se temer que os ocupantes, por sinal na sua maioria jovens, podiam ser recrutados. A embarcação que faz Búzi/Beira também não leva jovens devido ao medo instalado na zona.
Sobre este facto, o @Verdade ouviu um jurista, o qual explicou que o recrutamento é legal se se tratar de jovens refratários, ou seja, aqueles que foram incorporados para o Serviço Militar e não se apresentaram na devida altura. Segundo o mesmo jurista, para além do recrutamento, se forem mesmo refratários a medida pode estender-se para uma pena de prisão.
De acordo com a Lei que estamos a citar, no seu artigo 2, "Todos os cidadãos moçambicanos dos 18 aos 35 anos de idade, estão sujeitos ao dever de prestação de serviço militar e ao cumprimento das obrigações militares dele decorrentes."
Refira-se que Moçambique está a viver um situação de guerra, envolvendo Forças Governamentais e homens armados alegadamente do partido RENAMO, com incidência nas regiões de Gorongosa e Chibabava, na província de Sofala, e que apesar dos contínuos desmentidos do Governo vários confrontos armados tem acontecido e resultado em muitas baixas nas fileiras das FADM.
Ministério da Defesa desmente
Em comunicado o Ministério da Defesa desmente o recrutamento militar compulsivo "não constitui Verdade que o Ministério da Defesa Nacional ou outras Forças de Defesa e Segurança estão a fazer o recrutamento militar compulsivo para o cumprimento do serviço militar, trata-se de boato visando desacreditar o cumprimento deste dever sagrado para com a pátria pelo jovem".
Segundo o referido comunicado, assinado pela Chefe de Gabinete do Ministro da Defesa de Moçambique, Amelta José Matavel Muiquija, "o Ministério da Defesa Nacional apela a todos os jovens que se sentirem coagidos ou obrigados a ir para o Serviço Militar devem dirigir-se ao Centros Provinciais de Recrutamento e Mobilização ou as forças de lei e ordem públicas locais da sua província a fim de denunciar."
Recorde-se que no ano de 2013 o período oficial do Recenseamento Militar decorreu entre 2 de Janeiro e 28 de Fevereiro.
Jovens revoltam-se
Inconformados com este recrutamento - que em condições normais deveria ter sido tornado público nos órgãos de comunicação e afixadas listas dos jovens que deveriam apresentar-se para o cumprimento do Serviço Militar -, centenas de jovens armaram-se com paus, pedras, garrafas de vidro e catanas e revoltaram-se com os militares e as "brigadas" que estão a fazer o recrutamento compulsivo.
Depois de se organizarem, nos bairros da Munhava, Manga e Matacuane, os jovens decidiram manifestar-se defronte do Governo Provincial mas encontraram resistência de agentes das Forças de Intervenção Rápida (FIR) na Estrada Nacional nº6, que dá acesso ao coração da cidade da Beira.
Os agentes das FIR dispararam gás lacrimogéneo e balas de borracha para conter a fúria dos populares. Um sector da EN6 está condicionado ao trânsito de automóveis devido a colocação de caixote de lixo, pneus a arderem e outros objectos na via.
No seguimento dos tiros disparados pelos agentes da Polícia da República de Moçambique, que também acorreram para estancar a manifestação dos jovens, há a lamentar uma vítima mortal, um adolescente que foi atingido por mais de dois tiros, na cabeça e na região do abdómen, e jaz sem vida na EN6 entre os bairros da Munhava e dos Pioneiros.
Desde o final da manhã que os munícipes da cidade da Beira abandonaram os seus afazeres normais, as ruas e outros locais públicos estão desertos inclusive os mercados de Maquinino e do Goto, onde o comercio informal quase nunca pára.
No seio dos jovens corre a ideia que este recrutamento compulsivo é uma retaliação do partido no Governo devido a vitória esmagadora do partido da oposição nas eleições autárquicas de 20 de Novembro passado, o Movimento Democrático de Moçambique de Daviz Simango, sobre o partido Frelimo. Até ao momento só temos indicação que o recrutamento compulsivo acontece na cidade da Beira.
A Verdade
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