Vários empresários já deixaram o país, devido à insegurança. Bispos pedem ao Presidente Guebuza "sinais visíveis" de vontade de diálogo.
A maior conferência patronal de Moçambique alertou nesta sexta-feira para o risco de uma “grave crise económica” associada à saída de empresários do país.
A posição patronal junta-se ao coro de preocupações sobre a insegurança provocada pelos raptos e a tensão político-militar em que o país mergulhou nas últimas semanas.
Na quinta-feira, a Conferência Episcopal de Moçambique, que reúne os bispos moçambicanos, apelou ao Presidente da República, Armando Guebuza, para dar “sinais visíveis” de vontade de diálogo com Afonso Dhlakama, líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), antiga guerrilha e principal partido da oposição.
Até à tarde desta sexta-feira, não havia novidades de dois portugueses raptados nas últimas semanas no país. Tentativas de contacto telefónico com a polícia moçambicana revelaram-se infrutíferas. Na noite de quinta-feira, foi anunciada a libertação de um terceiro, um jovem de 17 anos, que, segundo informação adiantada ao PÚBLICO pelo secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, deverá deixar Moçambique.
O alerta para o risco de “grave crise económica” foi dado pela CTA (Confederação das Associações Económicas de Moçambique), num comunicado enviado à Lusa. “Vários colegas do sector empresarial já se viram obrigados a abandonar o país, familiares de trabalhadores dos grandes projectos abandonam o país. Este clima não é saudável à atracção de investimentos e, por essa via, à criação do tão almejado emprego no país. Os prejuízos a nível da comunidade empresarial poderão degenerar em grave crise económica.”
Um primeiro sinal de preocupação nos meios empresariais que trabalham em Moçambique foi dado pela multinacional anglo-australiana Rio Tinto, que, há uma semana, aconselhou os funcionários estrangeiros que trabalham em Moçambique a retirarem temporariamente as famílias do país.
Tal como a brasileira Vale, a Rio Tinto explora carvão na província de Tete, no Nordeste, transportado por caminho-de-ferro através da Linha do Sena, que liga as zonas mineiras ao porto da Beira, por onde é exportado. A empresa chegou, em Junho, a suspender temporariamente o transporte de carvão, devido a ameaças da Renamo.
A instabilidade no Centro do país, com a sucessão de escaramuças e o risco de regresso da guerra que devastou o país entre 1976 e 1992, levou a uma redução ao mínimo das deslocações nas últimas duas semanas, após a ocupação pelas Forças Armadas de Satungira, província de Sofala, principal base da Renamo, de onde fugiu Dhlakama. Mesmo caravanas com escoltas militares têm sido atacadas.
Nos últimos anos, principalmente após a descoberta de importantes reservas de gás, somadas aos importantes recursos de carvão, o investimento estrangeiro em Moçambique aumentou. Previsões do Fundo Monetário Internacional divulgadas no início de Outubro apontavam para um crescimento de 7% este ano e de 8,5% em 2014. Mas tudo isso pode agora ficar ameaçado.
A tensão político-militar que o país está a viver – traduzida em episódios de violência que se acentuaram nas últimas semanas – é, segundo a Economist, explicada em boa medida pela perspectiva de crescimento económico. “É agora mais importante do que antes estar em posição de fazer contratos”, escreveu a revista.
No apelo a Guebuza, os bispos consideram necessário que “o chefe de Estado demonstre comprometimento com a causa do povo moçambicano, através de acções visíveis, que vão levar à realização do encontro” com Afonso Dhlakama, disse, numa conferência de imprensa, D. Carlos Nunes, bispo auxiliar de Maputo.
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