Tuesday, 5 November 2013

Um presidente que vive noutro planeta!

Causaram muita estranheza, os recentes pronunciamentos públicos do Presidente da República, Armando Guebuza, durante a conferência de imprensa concedida no final da Presidência Aberta e Inclusiva à província de Manica.

Na conferência de imprensa dois momentos foram marcantes, quanto a nós, não pela postura que é ou deve ser recomendada a um Chefe de Estado, mas por um tipo de respostas e pronunciamentos que, nalgum momento, fizeram os presentes pensar que estavam a tentar dialogar com alguém que vive noutro planeta. Primeiro o presidente mostrou-se revoltado com os jornalistas e não poupou criticas que se consubstanciaram em acusações de que a actual tensão político-militar também era obra e resultado daquilo que os jornalistas (alguns) escrevem e difundem nas televisões, jornais e rádios. Para Guebuza, os que os jornalistas dizem e escrevem são verdadeiras incitações à violência. Depois o presidente juntou (na mesma panela) jornalistas e outros críticos da sua governação com o simplista, estranho, infeliz e incompreensível argumento de que as pessoas só criticam por criticar.
“Não dizem o que está mal para nós podermos corrigir”, citamos de memória o Chefe de Estado.
Portanto, aqui o Presidente da República pareceu estar a dizer aos moçambicanos que ele não vive neste país; que apesar de percorrer o país de les a les não tem a real dimensão das preocupações que tem estado a ser apresentadas pelo “maravilhoso povo”. Ou então, o Chefe de Estado percorre o país já com ideia pré concebida de que as reclamações que forem apresentadas pelo “maravilhoso povo” são simplesmente resultado da maquinação estrangeira, de ONGs e de alguma imprensa. Daí está a razão de não saber o que está mal para ser corrigido.
Mas, se formos a olhar com atenção o discurso do PR também pode provar aquilo que Jorge Rebelo, Graça Machel e outros críticos de dentro (da Frelimo) tem estado a dizer em relação a actual Frelimo.
Esta Frelimo que se acredita ser tão diferente da Frelimo idealizada por Eduardo Mondlane. Que esta Frelimo é avessa à critica e muito menos a auto critica.
Entretanto, porque a psicologia e a teologia explicam que momentos há em e fisicamente a nossa frente, mas que, mental e espiritualmente estão ausentes, queremos dar ao presidente o beneficio da dúvida no sentido de aceitarmos que efectivamente o presidente tenha razão quando diz que não sabe o que está mal para corrigir.
Assim, sentimo-nos na obrigação moral e profissional de listar aqui e agora aquilo que é uma pequeníssima parte dos grandes problemas que afectam os moçambicanos do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Indico.
Começando: Os raptos e a incapacidade de as autoridades encontrarem solução; a participação de agentes policiais nos raptos, incluindo a guarda presidencial (o que é gravíssimo); a delapidação diário do erário público, incluindo em instituições que era suposto haver moral e obrigação profissional de mostrar outro e diferente comportamento; a corrupção que grassa a maior parte (senão todas) das instituições públicas, realidade que faz com que tenhamos cada vez ricos mais ricos e cada vez pobres mais pobres; o alto nível de corrupção na polícia que faz com que a situação dos raptos não seja esclarecida e que resultou na fuga espectacular de um dos acusados de sequestros (Bakir Ayoob) e, mais recentemente, resultou na morte do menino Ahmad Abdul Rachid apenas porque a sua mãe arriscou confiar na policia; a manipulação política do judiciário que faz com que o quadro sénior da Renamo, Jeronimo Malagueta, esteja a morrer aos poucos na cadeia sem qualquer processo a andar; a desestabilização das pessoas que todos os dias recebem chamadas telefónicas anónimas com o objectivo de os extorquir através de ameaças de que “se não paga atempadamente os valores exigidos ele ou membro da família serão raptados”; a noção de que os problemas da policia partem da base (posto policial), em que as autoridades passam a vida a guarnecer carros privados para receberem pagamentos privados deixando a população ao “Deus dará” nas ruas e residências; que as cobranças diárias e ininterruptas da polícia aos automobilistas são um verdadeiro empecilho para a atracção de turistas e para o desenvolvimento do país; que o exército de licenciados desempregados continua a crescer que nem cogumelos em época chuvosa; que a intolerância política está a ganhar mais adeptos a cada dia que passa; que em tempos de campanha eleitoral, os candidatos da Frelimo usam ilegal e criminosamente bens e meios do Estado (…)
Porque pensamos ter feito a nossa parte, ajudando o presidente a identificar problemas reais, assumimos desde já, o compromisso de, muito brevemente, questionarmos os passos que sua Excelência terá já dado para a correcção destas situações que tanto preocupam os moçambicanos.

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