Friday, 30 May 2014

Um Governo autoritário e incompetente

Todas as vezes que o ministro da Agricultura, José Pacheco, vem a público em nome do Governo de turno surpreende na demonstração exibicionista e monumental da sua incapacidade e de todo o Executivo moçambicano de lidar com os assuntos que inquietam o povo. Nesta terça-feira (27), Pacheco, que é um invejável poeta quando não abre a boca, disse, à saída de mais uma ronda de negociações com a Renamo, que Afonso Dhlakama está a ser apenas protegido pelas Forças de Defesa e Segurança e que, se não fossem estas, o líder da “Perdiz” poderia já estar morto. É, na verdade, um disparate, de proporções gigantescas, sublinhe-se.
Como sempre, Pacheco saiu-se mal, mas muito mal. É sempre assim quando está diante de alguns pés de microfone e gravadores. O seu comentário baratinado, que revela o pensamento colectivo do Executivo moçambicano, é um exercício vergonhoso de tentativa de venda duma imagem que não corresponde ao que o Governo tem vindo a mostrar desde a “eclosão” da tensão político-militar. É, no mínimo, estranho e, ao mesmo tempo, caricato o conceito de protecção do chefe da delegação do Governo nas negociações com a Renamo. Sabe-se que, durante alguns meses, tem-se assistido a acções militares cujo objectivo último é aniquilar o presidente da Renamo e os seus seguidores.
Assistimos, impávidos, à invasão a Sathunjira e ao bombardeamento à serra da Gorongosa. Quase todos os dias, dezenas de militares são enviados para a região centro, particularmente o distrito de Gorongosa, facto que ilustra as intenções maléficas do Governo de Guebuza. Terão sido, essas acções, uma forma de proteger o líder da Renamo? Como é possível garantir a segurança de um indivíduo lançando obuses contra ele?
O discurso segundo o qual o Governo deseja que Afonso Dhlakama esteja saudável e não seja sacrificado pelos seus homens no diálogo político é demagógico. É uma atitude de indivíduos que estão fora da realidade do país. Pacheco vai ainda mais longe com o cinismo que caracteriza os membros do Executivo de Guebuza ao afirmar que o Governo pode suportar todos os custos decorrentes da deslocação do líder da Renamo à capital do país. O ministro da Agricultura deve ter-se esquecido de que o povo já não embarca nesse tipo de conversa, pois tem a consciência de que se trata de mais um teatro mal encenado para os jornalistas, desatentos, anotarem e divulgarem para o inglês ver e aplaudir.
Portanto, diga-se, em abono da verdade, que esta é mais uma cena triste e repugnante de um Governo autoritário a quem falta competência para gerir um país como o nosso.



Editorial, A Verdade

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