Inflexibilidade, arrogância, desespero de causa, vazio estratégico
Joaquim Chissano ausente do CCJC, mas pivot e conselheiro
Beira (Canalmoz) – A cada dia que passa se pode verificar que as negociações no Centro de Conferências “Joaquim Chissano” são algo necessário, mas ao mesmo tempo supérfluo, se atendermo...s à sua génese. Tudo o que se está discutindo ou negociando já o havia sido feito em Roma.
Na verdade, o que está acontecendo é uma tentativa de aproximação de posições onde cada uma das partes joga os seus trunfos.
Ao Governo da Frelimo importa conseguir que das negociações não saia um acordo que coloque em risco a sua supremacia.
À Renamo importa corrigir os erros cometidos no passado e garantir uma saída que signifique o cumprimento das cláusulas ou pontos pendentes de um AGP que até conseguiu calar as armas durante muito tempo. A sua massa crítica militar foi flagelada e escorraçada das FADM. Nunca conseguiu integrar a PRM. Não possui nenhum dos seus no SISE.
Alguma indecisão estratégica ou inexistência dum “plano B” terá jogado contra as pretensões da Renamo de tomar o poder por via da vitória eleitoral.
Aquilo que foi manifestamente declarado pela Renamo como fraude eleitoral, ao fim de alguns anos se confirmou. Terminologicamente denominado de “irregularidades”, ficou na percepção pública que se tratava de algo que essencialmente não afectava os resultados finais. Esse era o objectivo dos observadores eleitorais e órgãos de comunicação social afectos ao regime da Frelimo, quando bombardeavam os cidadãos com tais informações e posições.
Das chancelarias internacionais com interesse firmes em Moçambique o diapasão também foi o mesmo.
Hoje alguns dos antigos defensores acérrimos do regime da Frelimo, mesmo destacados estudiosos provenientes da “esquerda europeia”, já conseguem vir a público e dizer que a Frelimo fez fraude em pleitos eleitorais.
Quando um ex-chefe de Estado com culpas expressa no desenrolar de todo o processo pós o AGP vem a público alegar que chegará o dia em que o Governo se fartará de ceder, é preciso ler isso como um desespero de causa. Ele manifesta que está profundamente preocupado com a possibilidade de o edifício favorável montado sofrer alterações profundas e “deitar tudo a perder”.
Evitar as confrontações militares é algo que exige coragem e decisão firme de defesa dos interesses dos moçambicanos.
Proclamações de cariz alegada e pretensamente constitucionalista de políticos ou governantes do dia não correspondem à verdade, pois se sabe de fonte limpa que estas mesmas pessoas não conseguiram fazer cumprir os postulados acordados no AGP.
Quando cumprirem na íntegra o AGP, podem falar de Constituição ou da sua violação. Quem violou o AGP não pode trazer a Constituição como seu cavalo de batalha.
Os moçambicanos já entenderam que a questão não tem nada a ver com cedências. A protecção dos “ganhos” ilicitamente adquiridos ao abrigo de uma política de Empoderamento Económico Negro está na ordem do dia. Como não iria um agente da PRM proteger a sua empresa de segurança privada? Como iria um governante esquecer as suas acções neste ou naquele projecto ou megaprojecto? Como é que os gestores de topo de empresas associadas a parceiras público-privadas na apoiariam a teimosia do regime? Há moçambicanos que têm objectivamente medo figadal de um arranjo ou acordo político com a Renamo que traga para o terreno novas regras de jogo.
Os privilégios e vantagens antecipadas de muitos “empresários” seriam colocados em risco. A impunidade judicial, o tráfico de influências, uma vez banidos, acabaria com o espectáculo de fortunas adquiridas e acumuladas sabe-se lá como.
Cumpra-se o ASGPO e acabe o jogo de inventar termos que politicamente são um fracasso e clara intenção de continuar a enganar os moçambicanos.
É a dignidade de todo um povo que está em causa. São os direitos políticos e económicos de todo um povo que estão em causa.
A história saberá julgar os actores políticos de hoje e tirar a limpo quem são os culpados dos atrasos que hoje se verificam numa frente negocial que poderia ter sido evitada.
Sensatez e visão estratégica entre os interlocutores são urgentemente necessários para se ultrapassem impasses sem sentido.
Mas convenhamos que há gente obtusa que não deveria pertencer a equipas negociais, pois carecem da diplomacia e tacto fundamentais.
Passar para o público uma mensagem de contenção, de compreensão, de sensatez, de sensibilidade, de flexibilidade, de patriotismo é mais importante do que exibir dotes de uma oratória medíocre, lesiva do diálogo.
Convençam-se todos de que Moçambique não é quintal privado de A ou B.
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
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