Quem não tem cão caça com gato ou junta os dois
Jogadas de propaganda da comunicação social pública
Beira (Canalmoz) – É outra face da guerra que se desenrola em Moçambique. Perde-se no terreno e compensa-se com vitórias nos jornais e nas estações televisivas. Ganha-se na arena internacional quando se filtra o que sai, e jamais aparece nos principais canais televisivos algo sobre o espectro da guerra. Quem olha para os noticiários nacionais e internacionais pode ser levado a crer que tudo se resume a escaramuças numa só província do centro do país.
E como os investimentos internacionais de vulto não estão sendo afectados, os colossos da mídia internacional não têm jornalistas no terreno.
Na outra guerra civil, era comum que tudo o que chegava à opinião pública internacional fossem notícias cozinhadas previamente pelos serviços de informação governamentais. A AIM e os jornais governamentais eram praticamente os únicos a veicularem os acontecimentos do país.
Hoje, quando alguma imprensa “conveniente” diz alguma coisa, nunca se detém a tratar da génese do actual conflito. O que agora dizem é atribuir tudo a supostas aberrações negociais apresentadas à última hora pela Renamo.
Querem fazer crer que os combates de hoje são entre os defensores do povo e supostos assassinos sem agenda de interesse nacional. Jamais se referem que ao longo do “tortuoso caminho da democracia nacional” já se assistiu à asfixia em massa de prisioneiros políticos. Ninguém se atreve a dizer que a perseguição e intimidação da oposição política no país tem sido o meio privilegiado de forças policiais instruídas e obedientes ao partido no poder.
As reclamações contínuas da oposição, quanto ao impedimento das suas actividades políticas normais, não são obra do acaso ou invenção de gente mal-intencionada. São factos reais e concretos testemunhados por inúmeras pessoas.
A tristemente famosa intervenção de milícias do partido no poder na província de Gaza, incendiando bandeiras da oposição e sedes, é conhecida em todo o país. Os ataques coordenados por políticos afectos ao partido no poder, executados pela PRM/FIR, não são produto de sonhos de agentes provocadores.
O recurso a profissionais de propaganda, mesmo de países estrangeiros, já foi executado noutros tempos. Relatórios de atrocidades foram encomendados e realizados. Massacres perpetrados por forças desconhecidas foram atribuídos com algum êxito à Renamo.
Da guerra civil passada, que ainda continua sendo denominada “de desestabilização” por alguns comunicadores sociais e políticos, muita coisa ainda não foi escrita e uma delas é que em guerra “não há santos e demónios”.
As ofensivas das FPLM e dos seus serviços de inteligência e contra-inteligência não eram feitas com balas de borracha ou com luvas de pelúcia.
Não há democracia que se implemente com jogos fraudulentos.
Se das negociações actuais não sair um acordo vinculativo que respeite os preceitos democráticos, terá sido tempo e recursos perdidos, pois não se terá alcançado aquele nível de confiança que promova as instituições democráticas.
Não se pode promover a democracia quando o STAE funciona com máquinas avariadas a norte do rio Save. Alocar recursos de maneira desigual e desequilibrada, contrariando aspectos demográficos importantes, esconde ou se faz ao abrigo duma agenda específica. Gaza e Nampula em termos populacionais são bastante diferentes, pelo que não se justifica que haja mais equipamento em Gaza sendo esta muito menos habitada do que Nampula.
As hesitações no processo negocial são fruto duma desconfiança efectiva entre as partes. Parece que estes negociadores necessitam dum “puxão de orelhas” muito forte para que se desfaçam de sonhos ditatoriais.
Importa fazer ver a esta gente que nada vale mais do que os legítimos e genuínos interesses dos moçambicanos.
Paz, concórdia, tolerância, partilha, democracia política e económica fazem parte da fórmula resolvente dos problemas do país.
Não se pode avançar com um jogo que o STAE quer realizado em condições desiguais.
Quem se queixa de aberrações negociais foi quem fomentou a partidarização das FDS.
Quem não sabe que uma PRM/FIR longe das Assembleias de Voto teria significado outros resultados nas últimas eleições autárquicas?
Quem ignora que os cargos de chefia no STAE são atribuídos segundo o princípio da confiança política? Já vimos governadores, e mesmo a antiga primeira-ministra Luísa Diogo o afirmou por diversas vezes: “Os cargos de chefia devem ser ocupados por pessoas da 'nossa confiança política’”. É por isso que o STAE se tem inclinado a seguir orientações ou instruções. Fica cego sempre que a oposição reclame. Fica surdo e não ouve a voz da razão. Nem a AIM (Agência de Informação de Moçambique) ou o jornal “Domingo” ignoram que a verdade não mora do lado da CNE/STAE. Estes órgãos foram concebidos para dirigir processos eleitorais, mas só servem enquanto garantirem as vitórias “retumbantes” do partido vermelho.
Sabe-se que tem sido frequente o recrutamento de editores de jornais e de estações televisivas para conselheiros e assessores eleitorais da Frelimo. Logicamente que essa gente, paga com recursos públicos, não irá pintar a oposição com cores alegres.
Quando se fala do exercício de intoxicação de massas a favor da Frelimo, não se está longe da verdade. Consumir a imagem de Filipe Nyusi antes do tempo legalmente previsto faz parte disso mesmo.
A arrogância e a prepotência manifestadas ao longo de dois mandatos consubstanciados por atitudes e decisões conhecidas pelo público em geral, por desrespeito aos preceitos de boa governação e austeridade, têm sido a base de actuações merecedoras de “impeachement”.
Dizem e acreditam que não importa o que digam os críticos, pois o poder está seguro nas suas mãos e não há força que os faça vacilar na sua agenda de manutenção e controlo do poder.
O antagonismo prevalecente, os conflitos e escaramuças têm uma génese que importa descobrir em nome dos interesses nacionais.
Não há imperativos nacionais, como se propalava quanto à permanência da Frelimo no poder. Nem esta nem nenhum outro partido político estão talhados para governarem à margem do mandato popular, que só é conferido através de votos nos pleitos eleitorais.
Sejamos concisos, concretos, “curtos e grossos”: a tese de Maputo e dos seus porta-vozes é a da manutenção do status, é pela vitória do Empoderamento Económico Negro Ilícito – EENI.
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
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