O AMBIENTE que rodeou o recenseamento eleitoral do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, na quinta-feira, ocorrido numa das margens do rio Nhadue, posto administrativo da Casa Banana, distrito de Gorongosa, foi marcado por várias etapas, algumas das quais espinhosas e com algum “suspense”.
Nesse dia, penúltimo do censo eleitoral, previa-se que as brigadas partissem da sede distrital de Gorongosa logo às primeiras horas da manhã. Todavia, a partida acabou sendo atrasada porque as autoridades eleitorais entenderam que deviam tratar até ao pormenor a questão de segurança.
Enquanto um grupo de peritos na área da defesa e segurança se reunia o semblante dos outros intervenientes na jornada, entre os quais os brigadistas, os jornalistas e os agentes policiais parecia tenso, porque circulavam informações de que a segurança no terreno estava comprometida.
Às 14.00 horas veio finalmente a ordem de partida. Não se sabia ao certo para onde, mas as informações no terreno indicavam que o líder da “perdiz” iria se recensear em Vunduzi, na área de Sandjundjira.
Uma comitiva composta por brigadistas, jornalistas e agentes policiais partiu para percorrer mais de 60 quilómetros até Vunduzi, onde pensavam que Afonso Dhlakama os aguardava. Chegados aqui a comitiva permaneceu aproximadamente 20 minutos, mas de Dhlakama nem rasto!... mais tarde o grupo foi convidado a partir em direcção ao posto administrativo da Casa Banana…
FADM QUE NÃO ERAM FADM
Cerca de 10 quilómetros depois as seis viaturas que faziam parte da comitiva são abruptamente forçadas a interromper a marcha para atender a uma ordem emitida nesse sentido por quatro indivíduos que repentinamente saíram “do nada”, numa mata cerrada. Eram homens trajados a rigor, com o uniforme militar semelhante ao usado pelos membros do Exército governamental, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), facto que não provocou nenhum alarido nem temor no grupo.
No entanto, já com as viaturas completamente imobilizadas, começaram a emergir, também “do nada”, os “verdadeiros” guerrilheiros da Renamo, trajados com o seu habitual uniforme totalmente verde. Ai sim, começou a notar-se um ambiente de apreensão e de calafrios entre os membros da comitiva, até que um dos guerrilheiros da Renamo se apercebeu do mal-estar que se vivia naquele instante e prontamente tranquilizou o grupo.
Momentos depois iniciou-se um processo de revista a pente fino a todos os membros da comitiva que se deslocava ao encontro do líder da Renamo.
Porém, antes do início da revista os homens da Renamo avisaram os presentes que na eventualidade de se detectar algo perigoso no grupo o seu portador não voltaria jamais para a sua proveniência e será “o nosso convidado à base” (da Renamo).
Os elementos da Polícia da República de Moçambique (PRM) que garantiam a segurança da comitiva não foram revistados pelos homens da Renamo e mantiveram as suas armas.
Antes de se retomar a viagem ao encontro de Afonso Dhlakama, que se encontrava a uma distância de quase um quilómetro e meio do lugar onde o grupo foi interceptado, viveu-se um momento de espanto e fortes emoções entre os jornalistas, quando, de repente, viram os homens da Renamo cumprimentando-se, com sorrisos, com os membros da PRM, gesto que incluiu a troca de cigarros e conversas amenas.
Houve até sessões de fotos entre as duas forças e os jornalistas também se juntaram ao “convívio fraterno”. Foram dez minutos de confraternização que incluiu troca de lembranças e presentes…
DHLAKAMA REAPARECE
Deste local até ao encontro com Dhlakama o percurso foi feito a pé. Entre os atalhos percorridos em fila indiana, caminhava-se para um lugar desconhecido. O capim alto cortava o horizonte e aumentava a ansiedade do grupo de brigadistas, jornalistas e dirigentes dos órgãos centrais eleitorais.
Naturalmente que a passada dos guerrilheiros da Renamo não era a mesma dos membros da comitiva. Enquanto eles andavam, nós, os restantes, corríamos, tal era a velocidade dos seus passos. Escalavam ravinas e desciam-nas com tanta perícia, apenas possível para quem domina totalmente o ambiente em que se encontra. Finalmente chegámos a um ponto de árvores frondosas, onde foi dada uma ordem para pararmos. Neste lugar estava improvisada uma cadeira e uma mesinha.
Montou-se o cenário para se recensear Afonso Dhlakama e cinco minutos depois ei-lo a descer de um ponto relativamente alto do local onde nos encontrávamos, acompanhado por uma cidadã identificada apenas por Lúcia, e a desejar as boas-vindas à comitiva.
Depois era, finalmente, a consumação do recenseamento eleitoral de Dhlakama, apesar de uns 15 minutos de espera devido a uma ligeira avaria de uma das máquinas.
A seguir falou aos jornalistas e depois voltou a sumir pelo mesmo caminho em direcção à parte incerta onde se encontra escondido, enquanto os brigadistas, jornalistas e membros da CNE e do STAE tomavam o caminho de regresso à procedência, neste caso a vila de Gorongosa.
RODRIGUES LUÍS, Noticias
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