Monday, 26 May 2014

Marchar contra os “impasses” hoje e todos os dias


Ultrapassar as limitações programáticas e agir de verdade
“Quem quiser ver, é só subir ao monte”, como diz o ditado.


Beira (Canalmoz) – Ultrapassar os impasses na mesa das negociações é a preocupação dos amantes da paz em Moçambique. Esta é a prioridade do momento e nada mais conta ou tem importância na arena nacional.
Politiquices e desmancha-prazeres, agentes furtivos do “empoderamento económico negro”, escribas mercenários, ministros-empresários ou líderes de partidos políticos-empresários, todos estes juntos não têm o direito de parar o processo político nacional e desviar o país da rota da paz e do desenvolvimento.
A emergência duma situação de conflito aberto neste país deve ser atribuída a políticos, mas também a organizações da sociedade civil e organizações religiosas. Sempre que os protagonistas sociais e políticos se calem e optem por uma diplomacia silenciosa, que ignorem a agenda nacional e se entreguem ao verbo enganoso de legalismos incoerentes, contribuem decisivamente para a eclosão de conflitos. Batotas eleitorais e eleitoralistas, fraude da mais abjecta, maquinações enquadradas em esquemas elaborados ao nível de órgãos de soberania e de administração eleitoral, rotura de protocolos importantes do AGP foram paulatinamente separando os moçambicanos, no lugar de uni-los.
O momento é de vermos a verdadeira sociedade civil e as organizações religiosas se batendo pela verdade.
Nada é mais importante do que o alcance dum acordo político que redima o país e dinamize a vida social e económica.
É preciso conceber as marchas pacíficas como instrumentos para alcançar objectivos concretos, e, nesse sentido, nada mais importante do que avaliar detalhadamente a situação que se vive. Não se pode marchar por indução e por decisão que não pertença às organizações envolvidas ou tidas como organizadoras. Não se pode marchar por encomenda de segundos e terceiros.
No país há um “deficit” grave de entendimentos mínimos sobre problemas claros e simples.
O que se discute no Centro de Conferências “Joaquim Chissano” é realmente importante e crucial, mas, em certa medida, é redundante, se tivermos em conta que se trata de revisitar o AGP.
Afinal qual é a dificuldade de entender e perceber que o AGP está sendo posto em causa? Que o AGP foi posto em causa a partir da altura em que não foi cumprido na íntegra?
Doutores e leigos, legistas e figuras religiosas já vieram a público manifestar a sua opinião sobre os assuntos em discussão. Em certos círculos, é unânime opinião de que o AGP tem pendentes, e daí depreende-se que a sua inclusão na Constituição da República de Moçambique não significa que tenha sido cumprido.
Quem “foge com o rabo à seringa” não quer resolver o assunto em disputa. Quem age como avestruz é movido por energias negativas ou que não são úteis aos moçambicanos.
Onde andam os doutos conselheiros e participantes das equipas negociais do AGP? A maioria está viva e decerto que bem se recorda dos contornos e conteúdos do acordo que ajudaram a construir.
À sociedade civil de hoje cabe a nobre e patriótica tarefa de contribuir com todo o seu saber e arte para que as partes em litígio se entendam e assinem rapidamente um acordo político abrangente e conclusivo. Não se pode adiar aquela única solução que todos querem e anseiam.
Se as organizações da sociedade civil não entenderem que sem demarcação estratégica dos políticos desavindos dificilmente terão a credibilidade e apoio fundamentais, desse modo estaremos perdendo precioso tempo.
Há gente que não se importa nem deseja que haja acordo entre o Governo e a Renamo. Há gente que anseia que tudo continue na mesma e que as coisas descaiam para o desastre total. Há gente que acredita que a sua salvação económica só pode acontecer com o reacender da guerra. Há gente que teme a normalização da vida governativa e política em Moçambique.
Compreender em profundidade a razão dos impasses, a sua natureza e conteúdo vai melhorar a capacidade de intervenção da sociedade civil.
Há um batalhão de emergência pronto para pôr em perigo a paz, e os que se negam à conclusão consensual das negociações de Maputo fazem parte desse batalhão.
Tal como “paus mandados”, vemos gente brilhando nas câmaras de televisão, inventando terminologia política incaracterística dos que buscam a paz e a concórdia.
O apelo é para que a razão e a justiça iluminem os negociadores, mas, ao mesmo tempo, vai para as organizações da sociedade civil, para apontarem as suas baterias para a casmurrice política que pode trazer a guerra de volta para o país.
Os mandantes, as hierarquias dos partidos que negoceiam algo já acordado e não cumprido apresentam alguns sintomas preocupantes de doença política chamada megalomania. Querem que todos dancem a musica que tocam, mesmo quando desafinada e sem ritmo. Música que não é musica…
É possível muito mais e melhor no campo negocial, na necessária pressão de natureza urgente que as organizações da sociedade civil podem e devem exercer.



(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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