Friday, 20 June 2014

Reféns de Guebuza e Dhlakama

Durante 21 anos, julgámos que as nossas desinteligências sobre a governação do país estavam ultrapassadas e o rumo que este devia tomar era o certo. O nosso alento assentava no Acordo Geral de Paz. Todavia, o mesmo entendimento que se acreditava ser uma panaceia volta a estar, hoje, na origem da nossa rixa. Os motivos que nos fazem transformar vias de acesso em campos de combate e as matas em esconderijos de armas e de nós próprios sob o pretexto de estarmos ameaçados de morte, como o faz Afonso Dhlakama, são indiscutivelmente fúteis quando temos gente a morrer e infra-estruturas a serem destruídas.
O conflito armado que durou 16 anos em Moçambique, do qual poucos compatriotas se querem lembrar, começou da mesma forma: Um tiro aqui, outro ali e outro ainda acolá. No passado foi assim e, agora, também, guerreamo-nos pela ganância de controlar o país, e fazemos tudo em nome da democracia, advogando um pretenso bem-estar para o povo.
Invariavelmente, os nossos direitos preexistentes à vida, à liberdade e à propriedade são infringidos por duas pessoas – o Presidente da República, Armando Guebuza; e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama – e pelos seus sequazes. Guebuza ama a paz mas apenas nos discursos porque na prática os seus actos contrariam a si próprio. Ele não faz fé aos ensinamentos que nos tem dado sobre a unidade nacional. Por acreditar que o nosso inimigo está lá, insiste em ordenar o avanço do Exército para Gorongosa para transformar Dhlakama num homem igual a um rato encurralado numa toca.
Neste clima de cortar à faca em que estamos, não restam dúvidas de que vivemos duas décadas enganados em relação à nossa própria realidade e não faz sentido, pedra a pedra, continuarmos a construir um novo dia sem garantia de paz. E Guebuza e Dhlakama podem libertar-nos desta melancolia, bastando para tal olharem para as suas cabeças esbranquiçadas e apertarem as mãos. Chega de andarmos aos tiros.
Guebuza reafirma, de forma ensurdecedora, que apesar da postura belicista da “Perdiz”, o Executivo está predisposto a encontrar uma solução pacífica para a guerra que se alastra mas encara o diálogo com Dhlakama como um acto de caridade e não um assunto de interesse da nação; por isso, promete fundos ao general para se deslocar a Maputo antes de o mesmo se queixar da falta de meios.
Sabemos que os impasses nas negociações em curso entre o Governo e a Renamo não passam de um jogo político e de um entretenimento gratuito. A recente história em relação ao Pacote Eleitoral é uma das provas disso depois de nos terem deixado meses a fio receosos e desesperados devido ao rumo que as discussões seguiam. Quantos diálogos e apelos são necessários para haver paz no país?
Além dos apupos à Renamo, as Organizações da Sociedade Civil abandonam as suas tocas para apelar para que Dhlakama pare com a guerra. Aqueles que entendem melhor sobre os direitos humanos já pedem a intervenção da ONU no sentido de se evitar a eclosão de mais uma guerra civil iminente. Afinal nós não somos adultos, sensatos e cientes das nossas acções? E é estranho que nesse processo de sensibilização o alto magistrado da nação esteja a ser excluído.
Depois das eleições de 15 de Outubro próximo não sabemos o que será de Dhlakama, mas estamos convictos de que Guebuza vai deixar de nos dirigir; por isso, que nos devolva a tranquilidade antes de se ir embora.



Editorial, A Verdade!

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