Tuesday, 24 June 2014

MARCO DO CORREIO, por Machado daGraça



 Olá Amélia

Como estás, amiga? E a tua família? Do meu lado está tudo bem, felizmente.
Mas, mais uma vez, muito preocupado. É que acabo de ver, numa reportagem de uma das nos­sas televisões, mais um caso de abuso de poder de agentes da nossa Polícia. Dos chamados cin­zentinhos.
Na reportagem aparece um cidadão, que admite ter cometido uma infracção, a contar q...ue, quando queria pagar a multa respectiva, viu, espantado, o agente policial disparar quatro tiros contra a roda da sua viatura, danificando a jante, o pneu e uma conduta de óleo dos travões.
Nem ele nem as várias testemunhas presentes conseguem entender por que razão o polícia dispa­rou. Talvez ele tenha ficado aborrecido por o cidadão querer pagar a multa em vez de resolver o problema de outra maneira...
Mas a questão é que casos destes, ou parecidos com este, se estão a repetir com demasiada fre­quência. As pessoas já têm medo de ser mandadas parar, à noite, mesmo que tenham tudo em ordem. Em muitos casos são verdadeiros assaltos.
E nós só ficamos a saber dos casos em que as vítimas fazem circular a informação, o que é, certa­mente, uma minoria dos casos que acontecem.
Ficámos a saber que foram assaltados por cin­zentinhos dois pilotos da TAP. Ficámos a saber de idêntico assalto a oficiais de um navio de guerra italiano que estava atracado no nosso porto e mais alguns casos que são colocados, como avisos, nas redes sociais.
Há dias li as declarações de um cidadão sul-afri­cano, grande apreciador de Maputo, que dizia que não ia voltar à nossa capital. A razão era estar farto de ser incomodado pela nossa Polícia ao longo das estradas, sempre à espera de receberem uma gorjeta.
E é lamentável que estas autênticas extorsões sejam feitas por agentes policiais ameaçadoramente munidos de armas de guerra.
Eu creio que a primeira medida para acabar com estes abusos era desarmar a maioria dos polícias. Para manter a ordem no trânsito ou nas ruas da cidade a Polícia não necessita para nada de armas, especialmente de AKMs. Que usem armas em mis­sões especiais, em que se receia reacções violentas, muito bem. No dia-a-dia, não.
E outro aspecto importante é que estes agentes que se dedicam a incomodar os cidadãos, acusando­-os de não estarem a cumprir a lei estão TODOS ELES a não cumprir o preceito legal que obriga a que tenham a sua identificação bem visível no far­damento. Não aparece um a cumprir essa norma. De forma que somos assaltados e nem sequer podemos identificar quem nos assaltou.
Será que os comandantes destes polícias ignoram o que se está a passar? Se ignoram é porque andam muito distraídos. Sabe-se lá com quê...



Um beijo para ti do

Machado da Graça

CORREIO DA MANHÃ – 24.06.2014

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