Olá Ana
Como vais de saúde? E os teus filhos? Do meu lado tudo bem, felizmente.
Só que cada vez mais confuso fico com esta situação que se vive no país.
Estou a chegar à conclusão que, neste momento, não se vive uma guerra em Moçambique mas sim duas, diferentes.
Senão, vejamos.
A acreditar nas declarações dos representantes do Governo, e das suas trombetas nos órgãos de propaganda do sector públ...ico, há uma guerra em que os “bandidos armados” da Renamo (sim, voltou a ser usada esta expressão...) atacam e matam, sem nenhuma razão, civis, polícias e militares. Só pelo prazer de matar e destruir. Nesta “guerra A” as forças governamentais nunca disparam um tiro, se
se deslocam é só para reabastecer os seus postos e o espírito é o mais pacífico do mundo.
Mas depois temos a “guerra B”, de que nos falam os porta-vozes da Renamo e do seu dirigente, Afonso Dhlakama, e nos chega através dos órgãos de informação independentes. Nesta outra guerra as forças governamentais acumulam cada vez mais meios bélicos na zona da Gorongosa, apertam cada vez mais o cerco, fazem incursões à serra para capturar, ou matar Dhlakama e fazem constantes
bombardeamentos com artilharia pesada.
O mesmo em termos de baixas. Na “guerra A” os mortos são, principalmente, civis e um ou outro militar. Já na “guerra B” as baixas entre as forças governamentais são às dezenas em cada combate.
São, portanto, claramente, duas guerras diferentes as que se travam, por coincidência, na mesma zona do país.
Ao certo, ao certo, o que os jornalistas podem ver é hospitais cheios de cadáveres e feridos, todos moçambicanos.
De uma forma geral a impressão que dá é que os confrontos são sempre vencidos pelas forças da Renamo. Mesmo nos casos como Sandtundjira, em que as forças governamentais ocuparam a base da Renamo, encontram-nas vazias.
Isto torna um pouco irónico o argumento governamental de que muitos homens da Renamo não podem ocupar lugares de direcção nas Forças de Defesa e Protecção porque não têm preparação para isso. Imagina tu se tivessem...
De qualquer forma, nem a “guerra A” nem a “guerra B” são feitas para o bem do povo moçambicano. Pelo contrário, só servem para a sua desgraça.
É preciso, portanto, que parem. As duas!
Sem me preocupar muito com pruridos de soberania, cada vez me parece mais que deveríamos ter uma força internacional neutra, interposta entre as posições das duas partes para evitar que os militares, dos dois lados, façam o gosto ao dedo no gatilho, criando uma situação muito pior do que aquela, bastante má, em que já estamos.
Um beijo para ti do
Machado da Graça
Correio da manhã, 10/06/14
Como vais de saúde? E os teus filhos? Do meu lado tudo bem, felizmente.
Só que cada vez mais confuso fico com esta situação que se vive no país.
Estou a chegar à conclusão que, neste momento, não se vive uma guerra em Moçambique mas sim duas, diferentes.
Senão, vejamos.
A acreditar nas declarações dos representantes do Governo, e das suas trombetas nos órgãos de propaganda do sector públ...ico, há uma guerra em que os “bandidos armados” da Renamo (sim, voltou a ser usada esta expressão...) atacam e matam, sem nenhuma razão, civis, polícias e militares. Só pelo prazer de matar e destruir. Nesta “guerra A” as forças governamentais nunca disparam um tiro, se
se deslocam é só para reabastecer os seus postos e o espírito é o mais pacífico do mundo.
Mas depois temos a “guerra B”, de que nos falam os porta-vozes da Renamo e do seu dirigente, Afonso Dhlakama, e nos chega através dos órgãos de informação independentes. Nesta outra guerra as forças governamentais acumulam cada vez mais meios bélicos na zona da Gorongosa, apertam cada vez mais o cerco, fazem incursões à serra para capturar, ou matar Dhlakama e fazem constantes
bombardeamentos com artilharia pesada.
O mesmo em termos de baixas. Na “guerra A” os mortos são, principalmente, civis e um ou outro militar. Já na “guerra B” as baixas entre as forças governamentais são às dezenas em cada combate.
São, portanto, claramente, duas guerras diferentes as que se travam, por coincidência, na mesma zona do país.
Ao certo, ao certo, o que os jornalistas podem ver é hospitais cheios de cadáveres e feridos, todos moçambicanos.
De uma forma geral a impressão que dá é que os confrontos são sempre vencidos pelas forças da Renamo. Mesmo nos casos como Sandtundjira, em que as forças governamentais ocuparam a base da Renamo, encontram-nas vazias.
Isto torna um pouco irónico o argumento governamental de que muitos homens da Renamo não podem ocupar lugares de direcção nas Forças de Defesa e Protecção porque não têm preparação para isso. Imagina tu se tivessem...
De qualquer forma, nem a “guerra A” nem a “guerra B” são feitas para o bem do povo moçambicano. Pelo contrário, só servem para a sua desgraça.
É preciso, portanto, que parem. As duas!
Sem me preocupar muito com pruridos de soberania, cada vez me parece mais que deveríamos ter uma força internacional neutra, interposta entre as posições das duas partes para evitar que os militares, dos dois lados, façam o gosto ao dedo no gatilho, criando uma situação muito pior do que aquela, bastante má, em que já estamos.
Um beijo para ti do
Machado da Graça
Correio da manhã, 10/06/14
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