Maputo (Canalmoz) – A presidente da Liga dos Direitos Humanos de Moçambique, Alice Mabota, disse na quarta-feira em Maputo que, se o país precisa de paz, tem que haver unificação das forças militares do Governo e da Renamo, que actualmente estão em conflito armado.
Numa conferência de imprensa na sede da LDH, após uma audiência que concedeu a uma delegação da Renamo, Alice Mabota afirmou que não vê problemas quanto à unificação das forças militares de ambas as partes.
“Temos que ter unificação das forças, se queremos ter a paz”, disse a activista dos Direitos Humanos, e questionou: “O que que custa unificar?”.
Segundo a presidente da LDH, as famílias entendem-se melhor quando estão unidas e não quando estão divididas. Alice Mabota disse que a instituição que dirige apresentou à delegação da Renamo o interesse pela realização, dentro de dias, dum diálogo com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, envolvendo outras correntes da sociedade civil.
Esta é a primeira declaração da Liga dos Direitos Humanos sobre a questão da unificação de forças e partilha de comandos, quer das Forças Armadas de Defesa de Moçambique quer da Polícia da República de Moçambique, questão que tem ditado o impasse nas negociações em curso entre o Governo e a Renamo.
O Governo e os seus agentes ideológicos têm advogado que uma união de forças e partilha de comandos com a Renamo não seria aceitável, porque tal colocaria em vulnerabilidade a soberania do Executivo.
Uma delegação da Renamo dirigida pelo negociador-chefe, Saimone Macuiana, e que incluía António Muchanga, membro do Conselho de Estado e porta-voz do presidente da Renamo, e Jeremias Pondeca, membro dirigente daquele partido, deslocou-se na terça-feira à sede da Liga dos Direitos Humanos, onde foi manifestar a sua preocupação sobre o estágio das negociações e sobre a evolução da situação militar no centro do país.
O encontro tinha sido solicitado pela própria Renamo, que quer a intervenção da LDH para se ultrapassar a crise. No encontro, segundo a presidente Alice Mabota, a Renamo reiterou que não é um movimento armado e que, por isso, quer a intervenção da Liga, face à recusa do Governo na unificação das forças em conflito.
“O grande problema, segundo nos disse a Renamo, é a paragem da guerra e os passos subsequentes. A Renamo quer um cessar-fogo imediato das partes e o acompanhamento do processo de unificação pelos observadores internacionais”, explicou a presidente da LDH.
Acrescentou que a Renamo pediu para o Governo parar de enviar forças para a Gorongosa, uma vez que não se justifica, porque não haverá nenhum ataque.
Preocupação com a situação militar
Alice Mabota disse que a LDH está preocupada com o desenrolar da situação militar no terreno e das negociações entre o Governo e a Renamo no Centro de Conferências “Joaquim Chissano”.
Outra preocupação da LDH, segundo a sua presidente, é a falta de informações sobre as mortes, sobretudo de civis, nas zonas do conflito.
“Quisemos saber da Renamo as razões de ataques a civis. A Renamo nega estar a atacar civis”, disse Alice Mabota.
A Liga dos Direitos Humanos diz que está em contacto com organismos das Nações Unidas em Genebra, para esta instituição levar em consideração o actual conflito militar.
“A comunidade internacional tem um papel a desempenhar na resolução desta crise. Não pode deixar que a situação degenere numa matança ou numa guerra total, para, depois de tudo estar estragado, vir com argumentos de querer apoiar-nos. Pensamos que os apoios da comunidade internacional devem ser já”. disse.
Por outro lado, referiu que tem sido questionada pelas embaixadas baseadas em Maputo sobre porque é que a Liga não se pronuncia acerca desta guerra.
“As embaixadas perguntam por que não nos pronunciamos sobre esta guerra. Em resposta, eu tenho dito que não podemos pronunciar-nos porque, como activistas dos Direitos Humanos e como cidadãos, não sabemos das causas desta guerra, e ninguém nos disse até agora. Por isso não podemos pronunciar-nos sobre uma guerra de que não sabemos as razões”, explicou.
Internacionalização do conflito
A presidente da LDH manifestou-se apreensiva com informações dando conta da entrada de forças militares zimbabweanas, tendo anunciado que vai procurar mecanismos para falar com o presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, para se esclarecer.
“Estamos apreensivos com a entrada de zimbabweanos. Queremos falar com o presidente Mugabe, para sabermos se são mercenários ou forças militares do Governo zimbabweano”, disse.
Por outro lado, a Liga dos Direitos Humanos vai escrever brevemente, para saber do Presidente da República sobre o envio de tropas para a Gorongosa e sobre as colunas de veículos.
“Vamos escrever ao Presidente e ao Governo. Não sabemos se seremos respondidos, ou não, para sabermos o porquê do envio de tropas e das colunas”, garantiu a presidente da LDH, explicando que isso poderá acontecer na próxima semana.
No encontro com a delegação da Renamo, a LDH aconselhou a Renamo a não atacar civis e a evitar discursos incendiários que têm caracterizado aquele partido, sobretudo o seu porta-voz, António Muchanga, quando reage às investidas das tropas governamentais.
“Queremos unificação de forças para todos nos sentirmos representados”
Por sua vez, o chefe da delegação da Renamo, o deputado Saimone Macuiana, disse: “Viemos à LDH para conversarmos sobre as nossas preocupações em torno da situação político-militar e do andar das negociações”.
Macuiana disse que as partes têm muitos dias sem se reunir por causa da agenda do Governo. Acrescentou que a Renamo está disposta a trabalhar com o Governo e mais intervenientes para uma solução que leve o país às eleições em pé de igualdade e sem que haja represálias.
Mas reiterou que a Renamo quer unificação das forças militares, para garantir que todos os moçambicanos se sintam representados e seguros, obedecendo ao princípio do Estado de Direito.
Disse que, no encontro com a LDH, a Renamo manifestou preocupação sobre a situação de tratamento dos membros deste partido, dando como exemplo os 30 membros presos em Nampula e que até agora não têm julgamento.
Sobre os ataques a civis a Renamo, segundo Saimone Macuiana, explicou à LDH que em nenhum momento a Renamo atacou civis.
“O presidente Afonso Dhlakama viveu cerca dum ano em Sandjundjira, mas nunca houve ataque a nenhum civil. Por isso, repito, a Renamo não tem nenhum plano para atacar civis.”
(Bernardo Álvaro, Canalmoz)
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