Podem e devem fazer muito melhor. Só equidistância trará credibilidade e confiança.
Beira (Canalmoz) – As organizações da sociedade civil moçambicana têm a sua razão de existir e disso ninguém tem dúvidas. Mas sem nos referirmos à sua génese e desenvolvimento, precisa ficar estabelecido que a sua missão fica envenenada, quando limitam a sua acção a espectáculos reivindicativos que surgem como que encomendados pelo regime do dia.
Muitas têm credibilidade conquistada à custa dum trabalho digno de apreço e consideração. Muitas comportam-se como prostitutas, saltando de cliente em cliente, conforme quem paga mais.
Face ao recrudescer do conflito que opõe o Governo de Moçambique e a Renamo, e que outros dizem ser entre a Frelimo e a Renamo, é de louvar e saudar que as organizações da sociedade civil de manifestem e dêem a conhecer o seu ponto de vista quanto à guerra localizada que acontece no centro do país.
Mas é enquanto se manifestam e exigem a sua classe que se deve examinar com muita atenção todo o questionamento feito por este grupo de organizações.
Muitas delas estão ligadas ao “lobby” que sempre apoiou fraudes eleitorais executadas pela Frelimo no passado. Algumas delas são meras criações dos serviços de inteligência da Frelimo e do Governo, e, quando assim é, estão profundamente infiltradas por agentes da inteligência governamental e partidária. Organizações sem logística própria, sem meios financeiros para a sua sobrevivência e operação, entidades que sobrevivem de esmolas de organizações civis estrangeiras, governamentais e não-governamentais, que devem submeter relatórios e prestar contas de cada dólar e euro que utilizam, não têm possibilidades materiais de agir com independência e liberdade de agenda.
Saudar o esforço despendido e as posições defendidas por estes cidadãos moçambicanos deve ser um exercício cauteloso, pois pode-se entrar em águas turvas.
Há uma diferença entre a actuação genuína e livre e uma acção encomendada, teleguiada e concebida por terceiros.
Quando um movimento se desloca com parcialidade de opinião e posição, levantam-se motivos justos para que se questione o objectivo de tais exercícios.
É comum ver-se na capital movimentos reivindicativos mediatizados e com preparação logística bem desenhada. Sem querer tirar mérito aos organizadores e numa perspectiva de avaliação simples, Maputo deve ser a capital das camisetas de “marketing” político da África Austral.
Também não se pode deixar de entender que, para muitos moçambicanos, trabalhar numa OSC é uma forma de emprego muito oportuna, pois o salário, nas maiores, é de longe superior ao que estão pagar ou o que a maioria das empresas privadas paga. É “marketing” político profissional o que a maior parte das organizações da sociedade civil faze.
Não se pode “meter todas no mesmo saco”, mas importa que se diga a verdade. Não diferem muito dos partidos políticos, que só aparecem aquando da realização de eleições que tenham por detrás “trust funds”.
Quem já se perguntou, se o Governo tomasse a decisão de banir organizações da sociedade e ong’s nacionais receptoras de fundos estrangeiros o que aconteceria? Alguém já pensou no que aconteceu com aquelas organizações que se dizia estarem a combater o HIV/SIDA, logo que começaram a secar os fundos estrangeiros?
Na Rússia de Vladimir Putin existe alguma legislação que impõe limites e definição do que se pode fazer ou não no campo de organizações da sociedade civil. Num mundo em que a segurança do estado e dos países é um assunto cada vez mais importante, faz todo o sentido saber-se o que faz sobreviver uma organização e a custo do quê. Quem paga as camisetas, as viaturas e os salários? É por filantropia ou existem algumas contrapartidas que todos deveríamos conhecer?
Manifestar-se pela paz é uma coisa. Blasfemar contra uma das partes beligerantes é outra coisa. Que barulho e subscrições se ouviram, quando as FADM/FIR atacaram Satungira e desalojaram Afonso Dhlakama? Que disseram as madames e os senhores dirigentes de ong’s, quando um contingente das forças de defesa e segurança do Governo procuraram o pai de Afonso Dhlakama, em Mangunde?
Que se ouviu de exímios comentadores e analistas, quando houve o primeiro ataque injustificado em Muxúnguè e Gondola contra sedes da Renamo? Alguém ouviu alguma coisa contra os disparos em Nampula, ainda AD vivia naquela cidade?
Estar contra a violência politicamente motivada e de direito é perfeitamente compreensível bem como justo. Mas a vista dos promotores de manifestações e abaixo-assinados deve ser equidistante. De contrário, fica ferida de parcialidade e torna-se em mais um vector na ofensiva de diabolização de um dos beligerantes.
É preciso vozes também contra quem nunca cumpriu com a sua parte do AGP. É preciso contrariar a partidarização do Estado com actos similares. É preciso vermos moçambicanos levantando-se contra a acumulação ilícita de riquezas. Alguma coisa deve ser feita contra o tráfico de influências e todo um esquema de “procurement” governamental inquinado.
As fraudes eleitorais documentadas, mas não perseguidas pelos órgãos de Justiça do país, devem merecer uma condenação enérgica, pois é da soma de tudo isso que temos a situação de crise violenta prevalecente no país. A intolerância que se plantou e que cresceu entre políticos dum mesmo país resulta de factos concretos e não de suposições ou de invenções.
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
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