Wednesday, 15 May 2013

Um apelo ao presidente do município de Maputo

SR. DIRECTOR

Foi com angústia que li na edição do jornal NOTÍCIAS de 7 de Maio corrente que “Separadores centrais de algumas avenidas da cidade de Maputo, como 24 de Julho, Guerra Popular, Karl Marx e Albert Luthuli, poderão, em breve, ser convertidos em faixas de rodagem de viaturas.” E, mais adiante, “A ideia de usar os espaços ocupados pelos passeios centrais naquelas vias é antiga e figura como uma das medidas encontradas pelas autoridades para responder aos crescentes congestionamentos do tráfego rodoviário derivados do aumento galopante do parque automóvel na capital e arredores.
                 
 
A razão da minha angústia e desta carta aberta é a proposta adiantada de se acabar com o que o município designa como o “separador central” da Avenida 24 de Julho. Esta avenida é de uma grande beleza, nos seus quase cinco quilómetros de percurso entre a Av. Julius Nyerere e a Praça 16 de Junho, no seu traçado recto que permite uma vista magnífica quer de dia quer de noite. Mas o que faz da Av. 24 de Julho uma jóia urbana é o seu conjunto: as faixas de rodagem, os passeios laterais, os prédios, as lojas, as escolas e os restaurantes que a bordejam – e o passeio central com as acácias alinhadas (não um mero separador rodoviário). É verdade que o passeio central tem sido maltratado – árvores que morreram e não foram substituídas, os execráveis painéis publicitários – mas são mazelas de fácil recuperação se o município nisso se empenhar. A Av. 24 de Julho marca a primeira fronteira do desenvolvimento histórico da cidade, atravessando os seus grandes bairros – Polana, bairro Central e Alto Maé.
Vivo nesta cidade há 50 anos. Há 50 anos que passar na Av. 24 de Julho me continua a dar, a mim e penso que a muitos mais citadinos, o prazer de ver algo de agradável, mesmo quando estou parado no tráfego. Há 50 anos vi a Câmara Municipal de Lourenço Marques, do tempo colonial, pegar numa avenida cheia de verde, como a 24 de Julho, e transformá-la num deserto cheio de carros – chamava-se Av. Pinheiro Chagas, depois da Independência passou a chamar-se Avenida Eduardo Mondlane. Também, já nessa altura, a razão apresentada era a de facilitar o escoamento do tráfego.
Parece-me, senhor presidente, que o que o município propõe não é solução para a situação dramática de congestionamento do tráfego e de falta de estacionamento que vivemos na nossa urbe. Quando muito, permitirá aliviar a situação durante um ou dois anos para depois nos encontrarmos numa situação ainda pior. Julgo que a solução deverá passar por um planeamento urbano mais integrado em que a componente de transporte público de massas tem de aparecer em plano de destaque. Insistir em obrigar os citadinos deste Maputo, cuja população se deve estar a aproximar dos dois milhões de habitantes, a utilizarem carros por falta de transporte público digno, seguro e acessível apenas conduz a um beco sem saída.
Senhor presidente: apelo para que evite a morte da Avenida 24 de Julho. Não sei se o que sugeri acima pode resolver o problema do tráfego e do estacionamento na nossa cidade, não é a minha área de especialidade. Mas tenho a certeza de que há no nosso país excelentes urbanistas, engenheiros, especialistas de transportes e tráfego que poderão encontrar soluções adequadas sem sacrificar a mais linda avenida de Maputo e de Moçambique. Para que não deixemos aos nossos filhos e netos uma cidade mais feia, mais pobre, mais triste.
Com os meus respeitosos cumprimentos.

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