O desespero dos moçambicanos em termos sociais há muito que é uma ameaça à estabilidade no País. Mais de oitenta por cento de nós vive no limiar da pobreza, e alterar o quadro de má governação só pode ser por via da violência ou por via do voto em eleições sérias e não viciadas, coisa que o caso do Reitor-Burlão João Leopoldo da Costa veio deixar claro que não existe em Moçambique, a menos que algo se faça com a máxima urgência e com seriedade que nunca existiu em processos eleitorais.
Os sucessivos alertas provindos de vários sectores, as revoltas populares de Fevereiro de 2008 e Setembro de 2010 em Maputo e Matola não serviram de nada à liderança do País. Não desistiu de enganar os cidadãos com projectos megalómanos cujos resultados hoje se conhecem. A sua arrogância e a sua falta de sentido de Estado mantiveram-se inalteráveis.
Não serviu de nada o primeiro aviso de 5 de Fevereiro de 2008 e de nada serviu o segundo aviso de 1, 2 e 3 de Setembro de 2010. Quem dirige o País continuou impávido e sereno a não conseguir ver mais longe do que o horizonte das suas ambições desmedidas que se resumem ao seu próprio bolso.
O que se passou no X Congresso do Partido Frelimo, provou também que quem rodeia o Senhor Armando Guebuza não lhe consegue meter freios.
Agora as proporções do drama nacional são gravíssimas.
Os sucessivos resultados de vários estudos internacionais e mesmo até os números que o Instituto Nacional de Estatística já não consegue viciar, evidenciam a tendência do País para o abismo para onde estamos a caminhar a passos largos.
Sente-se, agora, um descontrolo total nas próprias instituições do Estado. Até mesmo de dentro da própria Polícia a que o regime tem hipotecada a sua sobrevivência, chegam-nos sinais de que apesar do aparato bélico instalado, essas armas acabarão por se tornar achas para atear as várias fogueiras que se estão a acender um pouco por todo o País, e que mais tarde ou mais cedo poderão assumir proporções terríveis se nada for feito, com responsabilidade e sentido de Estado, já.
Em tempos não muito distantes os “cabritos” comiam onde estavam amarrados e iam-se contentando. O capim ia dando para os manter satisfeitos. Agora os “bodes” não conseguem parar de comer e os “cabritos” deixaram de ter pasto que os mantenha felizes.
O descontentamento está espalhado por tudo o que é sítio. Não são só os 80% de pobres absolutos que andam revoltados. Também os empresários já estão fartos de certos abusos e atrevimentos.
Mesmo os que tinham bens estão zangados. Quando eram “os outros” a ficar sem os seus bens, a festa animou. Depois entrámos na fase do “não é preciso empurrar”.
Agora só perdem os que têm e quem tem é manifesta e inequivocamente quem andava atrelado ao partido no Poder. Alguns já não têm. Tiveram. A ambição de ser dono de tudo fez com que os espoliados passassem a ser os próprios “camaradas”. Agora Guebuza é odiado por todos.
Os países estrangeiros – a dita “comunidade internacional” – eram “deuses”.
Resolviam (?) tudo. Pagavam todas as crises. Até ao dia em que deixaram de se aguentar com as suas próprias crises. Para tentarem sair delas, viraram-se para o “continente virgem”. Moçambique tornou-se um destino de grandes investimentos em novas áreas. Nessa altura também entra a China, ostensivamente e em força.
Com o “dragão” acordado, o desespero do Ocidente sobressai. Os nossos recursos entram na lógica dos mercados e quando mais precisávamos de um Estado gerido por gente responsável damos com o País a ser gerido por um Governo de insaciáveis que apostaram na contradição entre a China e o Ocidente, tal como Robert Mugabe. A liderança do País viu nisso uma oportunidade e com o anúncio do potencial de recursos, se já era arrogante, ficou ainda pior.
Até aqui o jogo político interno não perturbava os tais investidores. Os interesses internacionais foram sendo satisfeitos, distribuindo “trocos” pela nomenklatura instalada. Mas agora como vai ser? Agora as províncias já não precisam de esperar que o dinheiro saia dos cofres, em Maputo. Eram alimentadas a partir das doações e empréstimos que os doadores iam desembolsando para o Governo de Moçambique sobressair, mas agora os moçambicanos das províncias já perceberam que são eles que estão a engordar os insaciáveis da nomenklatura. E estão dispostos a revoltarem-se para que as matérias-primas não alimentem apenas A, B, ou C. Exigem que o que é seu desenvolva a terra onde vivem. Não estão contra a Unidade Nacional mas se nada acontecer para mudar o estado actual de coisas, é natural que haja sérias convulsões.
Os investidores também já começam a perceber que a saída para este sério problema político só pode ser por via de eleições honestas. Ou então sujeitam-se a não conseguirem tirar dividendos.
Nas conversas por todo o País sente-se que há uma disposição plena para pôr-se termo a este regime.
Até de dentro das hostes do partido dirigido por Guebuza se sente que o vento vai acabar por fazer a “fruta podre” cair ao chão.
Os investidores sabem também agora claramente que se entram no jogo de quem se julga dono do País, perdem tudo. Já compreenderam que se forem capazes de promover uma Democracia séria Moçambique reúne todas as condições para inverter rapidamente a actual tendência para o abismo.
Sabemos todos, agora, que só a Democracia genuína nos pode salvar. Só eleições livres, justas, sérias e absolutamente transparentes podem salvar Moçambique.
O caso do Senhor Professor Doutor João Leopoldo da Costa (“Pateguana”), ainda presidente da CNE, a pouca vergonha em que se meteu conluiado com um bando de criminosos que usaram indevidamente o nome da Organização Nacional de Professores/Sindicato Nacional de Professores (ONP/SNP) – reportada nesta edição e que já havíamos despoletado na nossa edição anterior quando reportámos as acusações ao Burlão – veio provar-nos inequivocamente que estamos perante uma corja de gente nojenta que num País digno desse nome estariam atrás das grades há muito tempo.
Para além de se pedir Justiça sem equívocos contra os trapaceiros deste processo de constituição da CNE e se peça que não haja mais lugar aos habituais gestos que só desacreditam a PGR e os Tribunais, pede-se agora, sobretudo, que se promovam eleições sérias.
Não chega podermos orgulhar-nos da atitude digna da Presidente da Organização Nacional de Professores (ONP/SNP) e dos professores em geral que ajudaram a desmascarar um grupo de malfeitores, autênticos bandidos.
Os moçambicanos querem mais! Querem que Moçambique passe a ser um País normal, com um Governo de gente que não enxovalhe o seu bom nome.
Não basta a lição de civismo, honra, carácter e dignidade dada pela ONP/SNP que só pode orgulhar a cidadania moçambicana. Quer-se uma CNE que seja de facto júri e não um bando de viciadores da vontade dos moçambicanos expressa nas urnas.
Quer-se uma CNE séria. Uma CNE que seja como nos outros países em que os cidadãos/eleitores nem sabem como se chama quem dirige os processos eleitorais; não sabem como se chama o presidente do órgão eleitoral.
Não se quer um presidente da CNE que em períodos eleitorais faz mais capas de edições de jornais dos que os próprios candidatos.
Não se quer uma CNE que transforma derrotados em vencedores como justamente disso se tem queixado a oposição.
Não se quer uma CNE que autoriza a Polícia a intimidar o eleitorado e a prender os membros dos partidos que concorrem com a Frelimo como aconteceu nas “intercalares” de Inhambane, em Abril de 2012.
Não se quer uma CNE que permite que a Polícia assuste o eleitorado para o afastar das urnas de modo a que só votem os que são protegidos pelos secretários das células do partido no poder.
A indignação social, o delicado e explosivo momento político por que estamos a passar só se corrige com um Governo eleito e não com um Governo imposto.
Os moçambicanos abstêm-se de votar porque não acreditam em recenseamentos que são sempre viciados. Sabem que os resultados das eleições são sempre viciados e não perdem tempo a ir votar. Sabem que há um grupinho de ditos intelectuais do mesmo calibre ordinário do indigno Reitor do ISCTM e ainda presidente da CNE que depois até aparecem a opinar que a abstenção se deve à confiança que os eleitores têm no Governo da Frelimo e ao facto de estarem cientes de não haver mais no País quem saiba governar.
O caso do Quénia, no penúltimo pleito de há cinco anos, deixou claro que em caso de resultados eleitorais viciados pode-se suscitar centenas de mortos e feridos.
Mas as eleições deste ano provaram que quando não há esquemas institucionais para ajudar a legalizar as fraudes eleitorais, os resultados em África são aceites por todas as partes com a mesma dignidade ou maior que em países com democracias consolidadas.
Para que possamos viver em Paz é preciso respeitar-se Moçambique e os moçambicanos e não se procurar impor governos que são contra a vontade dos cidadãos.
Canal de Moçambique – 01.05.2013, no Moçambique para todos
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