Minha cara Antónia
Como está a tua saúde? O teu marido e os miúdos estão bem? Do meu lado tudo normal, felizmente.
Mas queria-te falar de uma coisa.
Estar a ouvir a transmissão das sessões da Assembleia da República, em que se “debateu” o chamado pacote eleitoral, causava uma sensação mista de satisfação e de revolta.
De satisfação por todas aquelas aprovações consensuais significarem o fim de uma guerra em que morreram demasiados moçambicanos, muitos mais foram feridos e bens destruídos, além de enormes prejuízos indirectos à nossa economia.
De revolta por aqueles mesmos senhores deputados não terem feito isto há um ano, evitando assim toda aquela desgraça.
E não podem dizer que não foram avisados de que seria isto que iria acontecer. Foram e repetidamente.
Só que, montados na sua arrogância de maioria absoluta, orientados da conhecida forma, clarividente e visionária, fecharam-se num absoluto não ao diálogo, precipitando o país num conflito que teria sido perfeitamente evitável.
Os mesmos discursos que hoje se fazem, para justificar a carimbadela das leis, deveriam ter sido feitos em Abril passado e não teríamos hoje tantas famílias moçambicanas a chorar os seus entes queridos.
Fazia dó ouvir o deputado Alfredo Gamito a propor a troca de aspectos meramente formais das leis, dado que tinha ordens para não tocar em aspectos de conteúdo.
As tais ordens que, de acordo com a nata académica do G40, nunca poderiam ser dadas devido à separação de poderes.
Escrevi na altura, e veio-se a provar agora, que tal separação de poderes era meramente formal na medida em que o Governo obedece ao partido Frelimo e a bancada maioritária do Parlamento também.
Mas os papagaios não se deram por convencidos.
Hoje exaltam, porque lhes mandam exaltar, aquilo que antes abominavam, porque lhes mandavam abominar. São feitios...
De qualquer forma custa a ver aquelas mãos, das duas bancadas maioritárias, representando os partidos culpados pela carnificina, a baterem estas palmas, com quase um ano de terrível atraso.
Um beijo para ti, minha amiga, do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 25.02.2014
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