48 horas após o fatídico acidente do voo TM 470, que partiu de Maputo no final da manhã de sexta-feira (29), com destino a Luanda, é com profunda tristeza que Moçambique vai conhecendo os rostos de cada uma das 33 pessoas que, ainda sem sabermos as circunstâncias, perderam a vida no despenhamento do avião das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) no Parque Nacional de Bwabwata, na Namíbia.
Entre as vítimas estão identificados vários jovens, algumas das vítimas de nacionalidade angolana, seis empresários portugueses e ainda três menores, de nacionalidade moçambicana, que viajavam com a mãe.
A pose de Laisa (8 anos de idade) e Yumalai (4 anos de idade), numa foto feita no aeroporto internacional de Mavalane, minutos antes de embarcarem com o irmão Carlinhos (quase 2 anos de idade) e a mãe Jeinia Sambo (uma jovem na casa dos 30 anos), perspectivava uma férias inesquecíveis na casa da tia em Angola.
O voo estava dentro do atraso "normal - com razão os moçambicanos apelidam a sua companhia aérea de Late And Maybe -, deveria ter partido as 11 horas, mas no novíssimo aeroporto da capital moçambicana o tempo correu depressa e as 11h26 o Embraer 190 estava no ar.
Fazia bom tempo e o início da primeira viagem de avião destes três irmãos, Laisa tinha acabado a 5ª classe, não podia ser melhor. Mas algo aconteceu sensivelmente 2 horas 4 minutos depois do avião, fabricado em 2012 no Brasil, ter levando voo, quando sobrevoava o nordeste da Namíbia.
É prematuro avançar as causas deste trágico acidente - o primeiro em que uma aeronave das LAM despenha-se e os ocupantes morrem em 33 anos de operações nacionais e internacionais -, mas embora fizesse mau tempo na altura do despenhamento o piloto, o Comandante Hermínio dos Santos Fernandes, conhecia a rota e parte das suas mais de 4 mil horas de voo havia realizado nos voos semanais que a Companhia aérea realiza para Luanda desde os finais de 2009. Nesta altura do ano, é comum chover naquela região da Namíbia o que, segundo um outro piloto que já fez a rota, os voos estão preparados para fazer frente a essas condições.
O jovem marido e pai é um homem destroçado. Se porventura pode-se considerar afortunado, pois devido a compromissos profissionais não embarcou para Luanda, não há conforto para a dor de um homem que perdeu a mulher e os três filhos.
Em contacto com @Verdade o irmão do viúvo relatou-nos que soube pela televisão que o voo TM 470 não havia chegado ao destino e foi ao aeroporto procurar esclarecimentos "corri para o aeroporto para saber o que estava a acontecer e as LAM ainda não tinham uma informação precisa, dizia que teve uma aterragem de emergência e que devíamos aguardar porque eles estavam a fazer as buscas. Entretanto no dia seguinte fomos para lá e também ainda não tinham uma informação precisa no período da manhã. Ficamos a espera até ao período da tarde quando as LAM nos solicitou por telefone para nos dar a informação precisa de que não havia sobreviventes."
Entre as vítimas identificadas está uma jovem moçambicana, Nádia de seu primeiro nome, que vivei em Angola e fazia a viagem regularmente para visitar parentes, particularmente a sua mãe.
Um outra jovem, Saquina Cassamo, animadora de programas numa rádio privada em Maputo, também perdeu a vida neste acidente.
Outros nove cidadãos moçambicanos, quatro passageiros, o co-piloto, três tripulantes de cabine e um técnico, pereceram neste trágico acidente ainda sem explicação.
Refira-se que familiares de algumas vítimas souberam desta tragédia pela comunicação social e só depois foram contactados pelas Linhas Aéreas de Moçambique que, até ao momento, o único apoio que disponibilizou foi de psicólogos para confortarem os familiares.
Estrangeiros
Dos nove angolanos que estão entre as vítimas dois são o jovem músico Action Nigga, o jovem Dj Maskarado. Foram também identificados, segundo o Jornal de Angola, Manuel João Landa, Domingas Freire dos Santos e Almejada Laura Vatuva, inspectores do Ministério das Finanças de Angola, que regressavam de Maputo, aonde participaram na conferência anual das Inspecções Gerais da CPLP.
O cidadão português José Carlos Soares foi um dos seis portugueses que morreram carbonizados na queda a pique do avião Embraer 190 das LAM. Segundo o jornal português Correio da Manhã, José Carlos, que deixa um filho de 14 anos, estava responsável por dois gabinetes da ZAP, distribuidora de TV por satélite em Angola e Moçambique.
Segundo o mesmo jornal português, a par de José Carlos Soares, outros cinco empresários perderam a vida: António Soares Nunes, António Silva Nunes, Luís Fernandes, Bernardo Soares e Sérgio Soveral, este último como nacionalidade luso-brasileira. António Soares Nunes, 65 anos, trabalhava em Angola na empresa Gruest. Luís Fernandes, do Porto, estava em Maputo há dois anos. As viagens a Portugal eram frequentes. Sérgio Soveral era administrador da Joluso em Rio Maior. Já Bernardo Pedra Soares era presidente da MSC Angola, empresa de transportes internacionais.
Ainda por identificar estão também um cidadão de nacionalidade francesa e outro de nacionalidade chinesa.
Caixas negras localizadas
Recorde-se que o voo TM 470 desapareceu dos radares as 13h30 de sexta-feira (29), numa altura em que caía a 5 mil pés por minuto. O alerta foi dado ainda na sexta-feira por habitantes da região do Parque Nacional de Bwabwata, localizado numa estreita língua de terra entre Angola e o Botswana, conhecida como Faixa de Caprivi. "Fomos alertados por habitantes locais que um avião tinha caído no Parque Nacional de Bwabwata. O fumo era visível em toda a área", disse ao jornal português PÚBLICO o vice-comissário da polícia da Namíbia na região de Kavango, Willy Bampton.
Segundo a fonte o alerta foi dado às 14h de sexta-feira, mas a chuva e a densa vegetação impediram uma chegada rápida ao local. As operações foram interrompidas com o cair da noite e só no sábado, por volta das 10h locais, foram avistados os primeiros destroços. O vice-comissário não sabe dizer nem conseguiu recolher nenhum testemunho sobre o que poderá ter causado a queda do avião. "Não há muita gente a habitar naquela região, poucas pessoas podem dizer o que realmente aconteceu."
Entretanto as caixas negras e o gravador de voz da cabine foram localizados e entregues as equipas da Agência Nacional de Aviação Civil da Namíbia. No terreno as operações continuam "para remover os destroços e recolher todos os corpos", disse o responsável citado pelo jornal PÚBLICO.
Luto Nacional em data a anunciar
O Conselho de Ministros de Moçambique anunciou a criação de duas comissões de inquérito para a averiguar as circunstâncias desta tragédia.
"Uma comissão de inquérito foi constituída e juntar-se à comissão internacional de inquérito a ser liderada pela Namíbia, que é o país onde ocorreu o acidente", disse em conferência de imprensa, o ministro dos Transportes e Comunicações de Moçambique, Gabriel Muthisse, no final da sessão extraordinária do Conselho de Ministros que aconteceu na tarde de sábado na Presidência da República de Moçambique.
Invocando as normas da Organização Internacional da Aviação Civil, Gabriel Muthisse afirmou que a comissão de inquérito internacional será constituída pela Namíbia, Moçambique, como país proprietário do aparelho, e Brasil, como fabricante. "As razões do acidente vão ser determinadas por equipas de peritos da comissão internacional de inquérito, que de acordo com as regras internacionais de aviação civil, deve ser constituída por pelo menos três partes: a principal é o país onde ocorreu o acidente, a segunda é o país de bandeira e a terceira parte é o país fabricante."
O Governo moçambicano vai decretar luto nacional, "assim que as condições objectivas o justificarem", acrescentou o Ministro dos Transportes e Comunicações de Moçambique.
A Verdade
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