O ESCRITOR moçambicano Mia Couto disse quinta-feira, em Maputo, que a sua relação com o mundo das letras nasceu em tenra idade e foi marcado por episódios peculiares, como por exemplo a batalha que travava com a mãe por causa dos livros.
Falando num seminário sobre Jornalismo Cultural organizado pela Embaixada da Espanha, Mia contou, por exemplo, que o pai tinha uma enorme biblioteca, no entanto a sua mãe era contra a compra de livros. Para contornar a oposição, ele e o progenitor desenharam uma estratégia.
“Quando meu pai chegava a casa com um novo livro, tinha de o interceptar na porta e de seguida levava a obra e escondia na camisa para que minha mãe não a visse”, disse Mia.
O autor de “Terra Sonâmbula” sublinhou que uma das bibliotecas onde ficavam os livros clandestinamente introduzidos estava no seu quarto, o que despertou nele uma paixão pela literatura ainda menino.
Na sequência, o cronista fez referência a outras influências e fontes de inspiração que marcaram o seu trabalho, tendo apontado alguns nomes como Rui Knopfli, José Craverinha, Bernardo Honwana, Caetano Veloso, Chico Buarque e a música popular brasileira da década 70.
Convidado para falar da relação entre literatura e jornalismo, o escritor afirmou que cresceu numa cultura familiar de jornalistas, daí uma inclinação natural para o ramo.
“Meu pai e meu irmão mais velho eram jornalistas, nasci num ambiente de jornalistas”, disse o também romancista.
Contudo, o poeta afirmou que abraçou o jornalismo por orientação do partido Frelimo e que o primeiro jornal para o qual trabalhou foi Tribuna.
“Recebi orientações do partido Frelimo para abandonar o curso de biologia e trabalhar como infiltrado no jornal ‘Tribuna’”, abordou o autor de “Jesusálem”.
O cronista referiu que trabalhou durante 12 anos como jornalista, tendo-se tornado escritor quando exercia a profissão.
Entretanto, o palestrante aproveitou a ocasião para falar do actual estágio do jornalismo.
“O jornalismo tem coisas boas e más. Do meu tempo para cá, o jornalismo decresceu muito e não me revejo na profissão”, disse o poeta.
No entanto, o escritor disse que continua a ser jornalista enquanto repórter dos diferentes factos.
Mia Couto é o escritor moçambicano com mais obras publicadas e traduzidas, entre as quais se encontram romances, poesias, contos e crónicas, sendo que muitos estão publicados em mais de 22 países e traduzidos para alemão, francês, castelhano, catalão, inglês e italiano.
Alguns dos seus livros foram adaptados para o teatro e cinema. O escritor igualmente acumula sete prémios literários ganhos a nível nacional e internacional, sendo um dos mais recentes o Prémio Camões, o mais prestigiados troféus da lusofonia.
Participaram na palestra 12 pessoas, entre as quais nove jornalistas, sendo sete moçambicanos e dois espanhóis.
Questionado se voltaria a ser jornalista, Mia disse que só aceitaria se fosse para fazer um jornalismo diferente do que é feito actualmente, dispondo-se mesmo a ser servente.
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