A oportunidade é esta, não se perca tempo nem palavras
Beira (Canalmoz) – Sabe-se que em tempos como este, em que uma figura emblemática desaparece, abundância de discursos elogiando está na ordem do dia. Todas as homenagens a Nelson Mandela são merecidas. Quem conseguiu criar uma nação arco-íris quando muitos ...previam violência sectária e racial merece o elogio de todos.
Muitos vão ficar bem na fotografia e muitos vão apanhar boleia mas a África do Sul, país que chora seu filho querido, reconhece sua realidade e sabe que muito mais precisa de ser feito para que os ideais de Mandela se concretizem.
Com realismo, aquela sociedade vibrante não se verga aos desaires e nem se coíbe de criticar, continua mostrando que é possível coabitar mesmo com todas as diferenças herdadas.
O tempo urge para que os moçambicanos entendam-se nas suas diferenças e percepções.
Neste momento em que se chora pela morte de um verdadeiro líder, Moçambique clama por uma liderança que abandone o jogo sujo e que adira aos preceitos da paz e da concórdia social.
A transformação da política em negócio, em meio de enriquecimento rápido colocou irmãos em rota de colisão.
O “vantagismo”, as cartas escondidas na manga, a batota institucionalizada e erigida a método de conquista do poder bem como a sua manutenção, esgotaram sua utilidade prática como a situação actual do país o demonstra.
Fazer política precisa de recuperar a sua nobreza e servir de critério de avaliação dos que servem o país e os que servem do país e suas possibilidades e potencialidades.
Honrar Mandela com actos de coragem e sentido de Estado está nas mãos dos políticos moçambicanos. Existe um grave complexo de superioridade em alguns segmentos políticos moçambicanos e isso não os deixa funcionar com a clarividência necessária. Uns dizem-se “libertadores”, outros dizem-se fazedores da democracia mas no conjunto não enxergam que suas posições precisam de flexibilidade para granjear alguma hipótese de sucesso prático.
Não intoxiquem os moçambicanos com vossa irredutibilidade nem com vossa arrogância. Ninguém vos deu o direito de decidir por nós sobre o que queremos como país. Este país não é vosso quintal privado nem pasto onde só entra gado de vossa pertença e de vossos amigos ou parceiros.
Queremos diálogo sério sobre assuntos que são reconhecidos como válidos. Reconhecer que o AGP não foi cumprido na íntegra não é algo assim tão difícil nem vai denegrir a imagem de seus assinantes. Foi um passo na direcção certa que precisa de ser afinado, com seriedade, dignidade, respeito e maturidade. As vantagens unilaterais acumuladas através de artifícios políticos, económicos, financeiros, militares e de inteligência são efémeras porque, uma vez descobertas, abrem caminho para fricções, clivagens e conflitos.
Assumir que se cometeram erros não envergonha mas persistir pelo caminho do erro, numa perspectiva de superioridade, arrogância e prepotência característica de políticos de baixa estatura moral e ética vai decerto produzir aquela violência e mortes que os moçambicanos recusam-se a aceitar.
Há que redobrar o engajamento de todos na busca de uma paz honrosa e justa. A paz que queremos não pode resultar de imposição de condições indignas, injustas e ditatoriais.
Heróis deste Moçambique, oficiais e não oficiais reclamam de nós responsabilidade e cometimento com as causas nobres que nortearam as suas lutas pela independência e democracia.
Que se faça de 2013, destes últimos dias deste ano, um momento de reflexão e de debate centrados na criação de condições para a assinatura de um acordo político entre os beligerantes, honrando nossos heróis e dignificando os sacrifícios de figuras como Nelson Mandela, pela paz, justiça, igualdade, dignidade.
Não somos perfeitos entanto que homens mas juntos podemos fazer muito mais do que tem feito por este Moçambique.
A justeza da causa do empoderamento económico negro como forma de corrigir erros históricos não pode abrir caminho para a xenofobia, para o tribalismo, para o racismo.
Empoderamento deve ser todos os dias diferente de abocanhamento rápido e ilícito negro.
Por Mandela e por todos os nossos heróis, pelas gerações vindouras, tudo seja feito para restabelecer a paz em Moçambique.
Entenda-se que os subterfúgios e jogos de arrastamento ou de encobrimento de agendas como aos de “Gaborone” têm “pernas curtas”.
Engajamento construtivo aberto e sem reticências vale mais do que qualquer ego inflamado…
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
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