Vezes sem conta temos ouvido dos nossos dirigentes falarem da importância de Moçambique tirar vantagens da realização do Campeonato Mundial de Futebol este ano na África do Sul, promovendo o turismo e colocar Moçambique como destino de eleição para muitos dos que virão de fora da região para participar neste evento.
Mas uma coisa é desejar que Moçambique de facto tire essas vantagens, a outra é fazer aquilo que é necessário fazer para que tal desejo se concretize.
A pouco menos de quatro meses da realização do Mundial não parece que Moçambique tenha feito o suficiente para tirar as tais vantagens, para além da expressão da sua vontade nesse sentido.
É verdade que alguns hotéis em Maputo foram restaurados ou construídos novos de raiz. Mas tudo parece ter ficado por aí. A ideia de uma paragem única na fronteira mais movimentada do país, a de Ressano Garcia, ficou adiada, assim como ficaram muitas outras infra-estruturas críticas para a atracção de turistas de alta qualidade.
Podemo-nos orgulhar de ter — e temos — praias bonitas e de alta qualidade, mas as estradas para se chegar a alguns desses locais representam uma aventura que para muitos turistas será melhor evitar. Para além de que não basta ter praias bonitas e de alta qualidade se o alojamento e os serviços prestados são precários, e se não há garantias de tratamento médico adequado, em caso de emergência. Por outro lado, muitos países tendem a desaconselhar os seus cidadãos a visitarem locais onde os seus serviços consulares não têm garantias de fácil e rápida penetração para socorro em caso de necessidade.
Para além de tudo isso, vem a questão dos preços. Devido a uma série de factores de que a nossa economia enferma, que incluem uma fraca produção local, dificuldades de transporte que se aliam ao precário estado da maioria das estradas de acesso a certos locais, a estrutura de custos do turismo moçambicano e de outros serviços continua ainda muita alta, o que coloca Moçambique em grande desvantagem competitiva em relação aos seus vizinhos. Tudo isso desincentiva o turismo de larga escala.
Alguns turistas ricos podem fechar os olhos a um preço que considerem exorbitante pelos padrões internacionais, mas este grupo de turistas serão muito poucos. O turismo de massas e de pessoas de rendimento médio, esse faz contas à vida e vai à busca de alternativas mais baratas. Estas podem ser encontradas dentro da própria África do Sul, no Botswana, no Lesotho, na Suazilândia e, por mais incrível que a sugestão possa parecer nas actuais circunstâncias, até mesmo no Zimbabwe. É este segmento que durante o Mundial poderá interessar-se pouco por Moçambique.
Editorial do SAVANA, 26/02/10
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