Thursday, 18 March 2010

EFEMÉRIDE - Estação Central dos CFM : Um percurso centenário feito de vapor e história


A ESTAÇÃO central dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), na baixa da nossa capital, faz na sexta-feira 100 anos de existência, preenchendo assim um percurso que engloba vários períodos da história ferroviária de Moçambique e da África Austral. Aquele local, que se tornou numa das principais atracções turísticas da cidade de Maputo, é, por tudo o que simboliza, um património que marca o nosso desenvolvimento.

Entretanto, apesar de se contar que a estação central dos CFM em Maputo faça depois de amanhã 100 anos, manda a verdade dizer que 19 de Março de 1910 é apenas a data da sua inauguração oficial, já que os planos para a sua construção datam de 1904 e as obras começaram poucos anos depois.

A ideia das autoridades de então era a de ter uma estação moderna para os padrões da época, tendo sido inspirada na imponente estação dos caminhos de ferro de Joanesburgo, na África do Sul, com a diferença que a estação moçambicana tinha um “frontispício mais vistoso e no interior uma passagem comunicando com a gare da estação”, segundo dados que constam do arquivo dos CFM.

Para complemento da sua elegância e bom-gosto, estação ficou e ainda está adornada com três cúpulas, sendo uma delas de grandes dimensões. A cúpula central, que encima a estação, tem sido atribuída ao engenheiro francês especializado em estruturas em metal Gustave Eiffel (também autor da Casa de Ferro, onde funciona a Direcção Nacional do Património Cultural na baixa de Maputo e a famosa torre que leva o seu nome em Paris). Na verdade, Eiffel construiu muito, e há a tendência de lhe atribuir de tudo um pouco e não importa o que quer que seja.

Mas no nosso caso há a prova documental de que a estação central dos CFM foi projectada na África do Sul, devido às dificuldades da mesma ser feita na Inglaterra, devido à I Guerra Mundial.

As obras da nova estação, em tijolo cozido e cimento, com uma frente de 51 metros, iniciaram-se em 1908, vindo a nova estação substituir a primitiva, de madeira e zinco, localizada um pouco mais baixo, inaugurada em 1895, por Paul Kruger, líder do Transvaal.

A sua conclusão viria a ocorrer em 19 de Março de 1910, sendo inaugurada em cerimónia informal, com a presença do Governador-geral da altura, Freire de Andrade. Nessa ocasião, as mais altas autoridades da colónia e outras individualidades deslocar-se-iam até à missão de S. José de Lhanguene onde decorriam festividades destinadas à obtenção de fundos para as suas actividades.

CENTRO DA ESPIRAL PARA DESENVOLVIMENTO FERROVIÁRIO

Obras importantes viriam ainda a ocorrer na estação central dos CFM em Maputo a partir de 1913, tendo-se alterado profundamente a fachada do mesmo, de autoria do arquitecto Ferreira da Costa (autor também do edifício do então Banco Nacional Ultramarino, hoje Banco de Moçambique, demolido em 1958 e da 1ª Esquadra, na rua Consiglieri Pedroso). A execução destas obras foi administrada pela Secção de Via e Obras dos Caminhos de Ferro, sob a direcção daquele arquitecto. Só a ornamentação do frontispício foi feita sob contrato, estando dela encarregado Pietro Buffa Buccellato. Estas viriam a ficar concluídas em 1916.

A inauguração da estação ocorreu com a saída dos dois primeiros comboios para S. José de Lhanguene, onde se celebrava a festa de São José, padroeiro daquela missão, justamente nesse 19 de Março de 1910.

A construção da estação da capital de Moçambique foi uma espécie de alavanca para o desenvolvimento ferroviário de Maputo, cidade a que os portugueses baptizaram Lourenço Marques no seu reinado, e outros pontos do que é hoje a província de Maputo. Por exemplo, a seguir à estação central, foi construído o majestoso edifício sede dos CFM, um dos mais belos da nossa capital, construíram-se em Ressano Garcia quatro casas de alvenaria para a moradia de 10 famílias de empregados dos CFM, construção de uma nova ponte metálica de 80 metros de vão sobre o rio Matola, construção de três novos hangares para o serviço dos armazéns gerais, nova gare de triagem ao quilómetro três, assentamento de novos feixes de linhas para o serviço da carvoeira, ampliação das linhas da estação de Ressano Garcia para se adequarem ao novo serviço de carvão, instalação de agulhas automáticas nas estações de Moamba e Incomáti; construção de triângulos de inversão em Lourenço Marques, Moamba e Ressano Garcia, etc.

Assim, o percurso centenário desta estação é feito de história e do vapor que os comboios que ela acolhe diariamente deixam como sinal de dinâmica de um desenvolvimento que o país ainda está a conhecer.

A SÉTIMA MAIS BELA DO MUNDO

A estação central dos Caminhos de Ferro de Moçambique foi escolhida em Janeiro do ano passado pela prestigiada revista norte-americana "Newsweek" como a sétima mais bela do mundo, num "ranking" que incluiu todas as infra-estruturas do género em todo o mundo, das mais "modestas" às mais famosas.

A pesquisa da "Newsweek" tomou em consideração o traçado arquitectónico e o seu nível de conservação, algo que, no caso da imponente obra da capital do país, casa a história com o empenho da instituição que a tutela, a empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique, em conservá-la.

A estação central dos Caminhos de Ferro foi inaugurada dois anos depois do início da sua construção. Contudo, a imponência com que se lhe conhece hoje só se verificaria a partir de 1916.

Hoje, para além de estação ferroviária por onde passam milhares de passageiros e mercadorias de e para Maputo (também para os vizinhos Zimbabwe e África do Sul), é também um local de cultura. Nela, vários eventos de carácter cultural e artístico têm sido promovidos, ao mesmo tempo que a empresa que a tutela (CFM) agenda implantar nela um museu ferroviário.

A mais bela estação ferroviária do mundo é, segundo a revista Newsweek", a londrina de St. Pancras, seguida pela nova-iorquina Grand Central Terminal.


Notícias, 17/03/10

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