Segundo o vocalista da banda U2 Bono Vox
O presidente da República (PR), Armando Guebuza, mostrou-se contra a suposta intromissão da comunidade doadora na gestão de assuntos internos, sobretudo quando esta coloca como condição a concessão de apoios ao país. Este sentimento foi manifestado durante o encontro que o estadista moçambicano manteve com a comitiva do magnata Mo Ibrahim que, esteve em Maputo entre domingo e terça-feira.
Armando Guebuza disse que o seu Governo está disponível para trabalhar em parceria com a comunidade doadora ou outros organismos dispostos a manterem cooperação com Moçambique mas, dificilmente aceitaria que a assistência oficial para o desenvolvimento do país seja usada como forma de pressionar moçambicanos ou ingerir nos assuntos internos.
Estas declarações de Armando Guebuza foram reproduzidas por Paul David Hewson, mais conhecido por Bono Vox, vocalista do U2, à saída da delegação de Mo Ibrahim do encontro com o PR.
No entender do vocalista dos U2, ficou bem patente que Guebuza recusa a obedecer cegamente as políticas impostas pelos doadores e parceiros de cooperação.
Bono Vox disse aos jornalistas que aceitou com tamanha normalidade a opinião do PR mas, não deixou de advertir que tem que provar que o dinheiro disponibilizado pelos parceiros internacionais está a ser aplicado de uma forma sensata.
Bono referiu que Moçambique é um país promissor, razão pela qual terá se “batido” muito pelo cancelamento da divida externa. Sublinhou que esteve envolvido numa campanha, com o antigo Presidente norte-americano George Bush, e outras organizações internacionais, incluindo o Fundo Global, para a angariação de medicamentos para o combate ao SIDA em Moçambique. Por essa razão fez questão de advertir as autoridades moçambicanas para que esta soma seja aplicada de um forma transparente, porque mais tarde o Congresso dos EUA vai querer saber como e que o dinheiro foi usado.
Bono Vox ficou também impressionado com a figura de Guebuza, realçando o seu espírito empresarial.
Este entende que são homens de negócios que o país precisa para a concretização dos seus objectivos.
Visão de Mo Ibrahim
Para o magnata Mo Ibrahim, as lideranças africanas falharam na governação dos seus países e a saída passa pela integração económica do continente.
Mo Ibrahim disse em Maputo, na última segunda-feira, numa palestra subordinada à “Integração Económica de África”, co-organização pela Fundação Joaquim Chissano e a Universidade à Politécnica, que quando nasceram os primeiros Estados africanos independentes nos anos 50, África estava melhor em termos económicos, mas as enormes falhas na governação provocaram o retrocesso.
As responsabilidades pelo marasmo económico devem ser repartidas também pelos cidadãos comuns, porque permitiram que os destinos do continente fossem conduzidos por maus líderes.
Mo Ibrahim, que também é dono duma fundação com o mesmo nome, qualificou de vergonhoso a contínua dependência de África em relação ao ocidente, tendo em conta os recursos impressionantes que abundam no continente.
Para o magnata britânico de origem sudanesa não se justificam a fome, a ignorância e a doença que assolam África.
Para Mo Ibrahim, a única saída para a situação de África é a integração económica do continente e a ruptura com o actual quadro, caracterizado pelo fraco contacto comercial entre os Estados do continente.
Este entende que África deve abrir-se entre si e permitir a liberdade das pessoas, serviços e bens, visto que, é inaceitável que o comércio dentro do continente seja de apenas oito por cento.
Sublinhou que face aos erros acumulados no passado, as novas gerações devem aproveitar as oportunidades oferecidas pelo desenvolvimento tecnológico, principalmente ao nível da informação e comunicação, para dar a África o salto necessário em direcção ao bem-estar.
Lembrar que a Fundação Mo Ibrahim é uma iniciativa africana criada para promover o debate sobre boa governação na África Sub-sahariana e no resto do mundo, criar critérios para os cidadãos responsabilizarem os seus governos, reconhecer os progressos realizados na liderança africana e fornecer uma forma prática pela qual os líderes possam legar uma herança positiva ao seu continente, depois de deixarem os seus cargos, apoiar futuros líderes do continente africano.
O Prémio Ibrahim reconhece e premeia a excelência na liderança africana. O prémio é atribuído a um ex-Chefe de Estado de um governo africano eleito democraticamente, que tenha cumprido o seu mandato constitucionalmente definido e cessado funções nos últimos três anos. O Prémio Ibrahim consiste em 5 milhões de dólares, entregues ao longo de 10 anos, e mais 200.000 dólares por ano, até ao fim da vida. Trata-se do maior prémio atribuído anualmente em todo o mundo.
Raul Senda, Savana, 19/03/10
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