Antigo embaixador dos Países Baixos em Moçambique incendiário.
O antigo embaixador dos Países Baixos em Moçambique, ora embaixador da União Europeia na África do Sul, Roeland Van de Geer, disse ontem, em Maputo, que evidências de todo o mundo indicam que a transformação de um movimento de libertação para um partido político com capacidade de assumir inteira responsabilidade pela gestão dum país “é um processo doloroso, difícil e longo”.
“Doloroso e difícil como governar um estado-nação requer outras habilidades, outra abordagem e, por isso, outras personalidades e, ainda, outros líderes, sem ser os que lideraram a luta de libertação. Os líderes da libertação, frequentemente, não são os melhores preparados para gerir um país, uma vez que este entra numa nova fase de construção da nação, reconciliação nacional e reconstrução nacional”, disse Van de Geer, durante o debate sobre “Diálogo político na consolidação da democracia e do desenvolvimento”, organizado pela Instituto de Democracia Multipartidária, uma organização holandesa.
Roeland Van de Geer reconhece, no entanto, que o processo de libertação para a consolidação é, também, longo, o que, frequentemente, “leva mais de uma geração” para o país encontrar o seu próprio caminho “fora de uma situação de guerra civil ou rebelião”.
Dadas as conquistas alcançadas em Moçambique, acrescenta Roeland Van de Geer, “o respeito por aqueles que deram suas vidas pela liberdade e pelo desenvolvimento e a necessidade de Moçambique, como uma parte importante do continente africano, desempenhar o seu papel no século XXI e um diálogo político profundo podem desempenhar “um papel importante na consolidação da democracia, do desenvolvimento e da paz duradoura no país. Um processo democrático inclusivo em que todos os moçambicanos se sentem representados é melhor garantia de paz e prosperidade para futuras gerações”.
Desapontado
Na sua apresentação, Roeland Van de Geer, que foi embaixador do seu país em Moçambique de 1994 a 1998, fez um balanço dos 20 anos de paz neste país e concluiu que houve estabilidade e um “certo grau de desenvolvimento”, razão pela qual Moçambique deixou de ser um problema para a comunidade internacional, passando à solução e desempenhando um papel construtivo a nível da região, de África e das Nações Unidas.
No entanto, para Van de Geer, nem tudo é mar-de-rosa, porque, “simultaneamente, o progresso económico é limitado e a pobreza ainda é vasta”.
Considera “decepcionantes” as recentes diferenças políticas que – “surgiram com base em diferenças socioeconómicas percebidas” – podem ameaçar o que foi alcançado no país ao longo dos últimos 20 anos.
Neste contexto, Roeland Van de Geer levantou duas questões para o debate: “quão séria é a actual situação e pode um diálogo político desempenhar um papel na consolidação das realizações alcançadas em Moçambique, indicando uma direcção para o futuro desenvolvimento?”
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