Documento revela discussão com o Presidente John Kennedy para se iniciar apoio da CIA ao primeiro presidente da FRELIMO
Em 1963 o Presidente John Kennedy concordou com um programa de apoio secreto através dos serviços de espionagem CIA ao primeiro presidente da Frelimo, Eduardo Mondlane.
A confirmação é dada na transcrição de uma conversa telefónica do presidente com o seu irmão Robert Kennedy que na altura era conselheiro presidencial para além de ocupar o cargo de procurado geral e que confirma também as tensões internas da administração americana sobre a posição a adoptar face aos movimentos de libertação africanos.
O presidente John Kennedy tinha instalado no seu gabinete um sistema de gravações de reuniões de questões sensíveis e de conversas telefónicas.
Um documento da biblioteca presidencial John Kennedy, obtido pela Voz da América, relata que a 8 de Maio de 1963 Robert Kennedy, lhe telefonou para o informar de uma conversa que tinha tido com Eduardo Mondlane.
Robert Kennedy informa o presidente que Mondlane está a receber apoio de países comunistas e que precisa de ajuda dos Estados Unidos para poder indicar aos seus apoiantes “ que há pessoas no ocidente que simpatizam para com os seus esforços” e também por uma questão meramente económica, para “lhe permitir continuar”.
A quantia que Mondlane precisa, diz Robert Kennedy são 100.000 dólares o que ele descreve de “muito razoável”, sendo cinquenta mil para “as suas próprias operações” e outros 50.000 para “ajudar refugiados”.
A quantia de 100.000 dólares em 1963 é o equivalente a cerca de 750.000 dólares actualmente.
Na conversa Robert Kennedy diz que cinquenta mil dólares poderão ser concedidos pela Fundação Ford uma organização privada que tem entre os seus objectivos o “fortalecimento da democracia e a redução da pobreza e injustiça”.
Mas diz Robert Kennedy os outros 50.000 terão que vir do governo e que o então vice conselheiro de segurança nacional Carl Kaysen “ está a trabalhar nisso”.
Mas há um problema. Robert Kennedy informa o presidente que o então secretário de estado Dean Rusk “ quer ter a capacidade de se sentar com os portugueses e dizer –lhes que nenhuma dessas pessoas esta a receber dinheiro” dos americanos.
Robert Kennedy sugere então que a questão pode ser entregue a Averral Harriman, sub secretário de estado para questões politicas e John McCone, director da CIA para usarem “ o seu próprio julgamento” na questão.
Sabe-se que Averral Harriman se tinha já reunido com Mondlane, num encontro que durou duas horas e que segundo informações anteriormente divulgados tinha resultado em que Mondlane e Harriman saíssem do mesmo com “enorme respeito mútuo”.
Dean Rusk no entanto ter-se-ia recusado a reunir-se com Mondlane.
Sabe-se também que Robert Kennedy se reuniu com Mondlane durante cerca de uma hora tendo na altura estabelecido uma forte relação baseada numa visão comum sobre o futuro em Moçambique. Nesse encontro, dizem essas informações, Kennedy entrou um cheque pessoal de 500 dólares (cerca de 3.700 dólares em valor actual) a Eduardo Mondlane.
No telefonema ao presidente, Robert Kennedy avisa o seu irmão que Eduardo Mondlane se vai reunir com dirigentes africanos em breve ao que o presidente John Kennedy comenta que os Estados Unidos não querem que Mondlane informe esses dirigentes que está a receber ajuda dos Estados Unidos.
Robert Kennedy volta então a reiterar que os fundos poderão ser entregues por uma fundação privada e que o director da CIA John McCone poderá lidar com essa questão de modo a aparecer que os fundos não são da CIA.
Robert Kennedy sugere ao presidente que discuta a questão com Averrel Harriman que ele diz apoiar fortemente o apoio financeiro e acrescenta que o secretário de estado Dean Rusk terá que ser informado que ele não tem que saber nada sobre o assunto directamente.
João Santa Rita, VOA
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