Tuesday, 22 April 2014

Feitiço vira-se contra o feiticeiro nas negociações

Beira (Canalmoz) – Talvez o nome do edifício onde se negoceia a paz e a estabilização política tenha influência nos frequentes impasses. Afinal Joaquim Chissano, enquanto político que assinou o AGP, é conhecido como um exímio “homem de fintas”. Claro que isto só à guisa de introdução.
A sua mais célebre finta terá sido a de Gaborone. Só que a vida útil de tais arranjos não foi tão longa quanto os seus mentores esperavam. Bastou mudar a liderança da Frelimo e da República para se alterarem as contas todas. Onde imperava um aparente respeito e consideração pelo adversário passou a haver arrogância, prepotência e discriminação aberta dos outros.
Alguém julgava que havia chegado o “Reich dos Mil Anos”.
Há um factor Chissano no desenrolar das negociações entre o governo e a Renamo?
Se “quem procura encontra”, eu procurei e encontrei toda uma falange de conselheiros pagos ou não pagos provenientes do ISRI. O patrono do ISRI é Joaquim Chissano. A maior parte dos analistas, apoiantes de teses como a da “aberração”, que aparecem nos estações televisivas locais tem uma passagem pelo ISRI.
Então é justo dizer que, embora fora do poder, Chissano continua influenciando a política do governo moçambicano.
Mas não se lancem todas as culpas ao ISRI e ao calibre dos seus produtos. A maioria das escolas de ciências políticas do país não está conseguindo dar inputs de valor ao processo negocial. Ou será que aos negociadores não interessa ouvir?
A mediocridade de muitos dos pronunciamento de gente que é catalogada como analista envergonha. Fazem tábua rasa de tudo e apresentam-se como porta-vozes de partidos políticos. Parece que desfilam nas câmaras da televisão para transmitirem instruções recebidas.
Outros ainda, com posição de editores e directores de órgãos de comunicação social, continuam a desempenhar um papel que no passado foi decisivo para que a mentira oficial se enraízasse.
Hoje, que já sabe e está plenamente estabelecido que as vitórias eleitorais do passado foram construídas e alcançadas através da fraude, desenham novas tácticas para ajudar o regime a manter-se.
São autênticos malabaristas, fundamentalistas da política estomacal.
Agora, que parece estarem encostados à parede, não conseguem descobrir caminhos para uma saída airosa. Será o fim de uma clique que jamais se interessou em gerir a coisa pública como tal? Bom seria.
Não há razão para tanta demora em se encontrar uma solução satisfatória para as partes desavindas.
Uma dose de realismo e de seriedade, honestidade e capacidade de reconhecer que os termos utilizados para fazer política no país já não são sustentáveis está fazendo uma falta gritante.
Gente ocupando posições de relevo na esfera política e governamental pauta por uma mediocridade que está lesando milhões de moçambicanos.
Proferindo palestras, pessoas como Marcelino dos Santos e Mariano Matsinha estão claramente “entupidos” e esgotados, tendo a sua “tese hitleriana” falhado. Um queria obliterar a oposição e outro queria um governo perpétuo da Frelimo.
Já conhecem o sabor da derrota eleitoral e torna-se cada vez mais difícil distribuir cartas viciadas na política nacional.
Porque tarda o acordo político entre o governo e a Renamo? Porquê alguns ainda consideram que é possível o aniquilamento do outro?
É tempo de se aumentar a pressão para que as partes cheguem a um acordo. As chancelarias internacionais têm um papel a desempenhar. É preciso travar-se a corrida armamentista no país. É preciso que se fale claro e se desbloqueiem as vias de comunicação entre as partes.
Em nome da razoabilidade, parem com os malabarismos actuais e tornem a assinar o AGP. Se aquele primeiro foi em Roma, este que seja em Maputo.
Truques e arrogância só vão acelerar as confrontações e generalizar o conflito…



(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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