Beira (Canalmoz) - Querem a mudança na continuidade, o que, ao fim do dia, quer dizer que pretendem manter-se no poder.
Querem continuar a auferir salários gordos e regalias mais gordas ainda, à custa dos inúmeros cargos e reformas que possuem no aparelho do estado. Fizeram e fazem a leis que protegem. Querem continuar ...a cavalgar a maioria dos cidadãos em nome do papel que algum dia tiveram na luta anticolonial. Escondem os seus privilégios sob o manto de um conjunto de decretos concebidos para acomodar os seus “camaradas”. Jogam todo o tempo no sentido de impedir que a máquina da justiça os atinja e prejudique. São afinal “camaradas”.
No plano externo, as baterias estão organizadas e apontadas para impedirem que a democracia política triunfe. Sabe-se e sente-se que os que lucram com os actuais arranjos não aceitam qualquer tipo de mudança na forma como os negócios são geridos e estruturados.
Seria uma ingenuidade suicida que os partidos políticos da oposição embandeirassem em arco e se contentassem com meras tendências de voto a seu favor.
Existe engenharia eleitoral e todo um complexo pacote de elementos a explorar e habilmente manejados por forças interessadas em manter tudo na mesma.
As pequenas vitórias eleitorais podem ser revertidas e de repente tudo ficar nublado e a favor do regime do dia.
Quem se quer esquecer que o adversário conta com toda uma musculatura política, acesso ao erário público e aos órgãos de comunicação social públicos, do conluio dos sectores de defesa e segurança? Quem quer ignorar que a tradição da CNE/STAE tem sido apoiar as posições do partido actualmente no poder? Quem pretende ignorar que vitórias eleitorais anteriores foram borradas e impedidas de vingar através de artifícios legalistas?
Quem não se esquece que de quadrantes internacionais se reforçam posições para enaltecer sucessos que jamais se viram? A música nauseabunda das estatísticas económica e financeira exaltam o poder do dia e seguramente que o FMI/BM continuarão a dar nota positiva a um regime que se tem revelado obediente e cumpridor em tudo o que se refere a recomendações suas.
Prémios, condecorações, convites internacionais concorrem e contribuem para dar uma nota positiva a uma governação que, ao longo de quase quarenta anos, não conseguiu diminuir a pobreza nacional. A indigência generalizada não faz parte do discurso oficial e nem dos que elogiam o governo nas plataformas internacionais.
Governos parceiros, em crise profunda, com múltiplos problemas por resolver nos seus países, não hesitam em utilizar as oportunidades oferecidas por seus parceiros do Sul. A troco de comissões chorudas e de participações secretas em negócios de vulto, montam-se esquemas que aliviam contas domésticas e se traduzem em estatísticas de desemprego que sossegam eleitores.
É de supor que um François Hollande não queira ver negócios com o das traineiras revogado. Qualquer desempregado francês que consiga emprego é uma bênção para um governo internamente aflito.
O conjunto dos parceiros económicos internacionais personificados por grandes corporações não está brincando com o que investe em Moçambique.
E contando com os vizinhos do Sul, seus governos e partidos no poder, todas as cautelas são poucas. A perda do poder por quem dirige hoje pode ser prenúncio de mudanças que importa a todo o custo impedir que se concretizem.
Esgotadas as tentativas de alterar a Constituição do país, para um modelo que impusesse a nomeação do PR através do vencedor das legislativas, corre-se a todo o vapor para reorganizar estratégias e refinar a máquina de modo a que não haja surpresas.
Ultrapassadas as divergências internas ou, pelo menos, apaziguadas por via do reconhecimento de que uma recusa em aceitar compromissos no seio de seu partido poderia significar um suicídio político, espera-se uma frente eleitoral unida entre os “camaradas”.
O que será um suicídio político e uma derrota eleitoral será ver-se a oposição política adormecer face à situação favorável que possui de momento.
Moçambique precisa de mudanças para além do cosmético da acomodação do formalismo dos pacotes em discussão no Centro de Conferências “Joaquim Chissano”. Milhões de moçambicanos clamam por justiça social e económica.
Está visto que a elite que se instalou no poder só sabe jogar o jogo das suas vantagens. Agora que se vislumbram sinais fortes de mudança, é só ver como se unem, mesmo quando se odeiam visceralmente.
Seria uma ilusão, incongruência da mais aviltante, conceder espaço de manobra aos que sempre se opuseram à democracia no país.
Uma frente forte, mesmo que não coligada, pode impor uma vitória inquestionável da oposição em Outubro próximo.
O caminho da vitória é o trabalho quotidiano de todas as chamadas forças vivas da sociedade.
Denunciar um recenseamento feito à medida das contas de quem governa e excluindo milhões de moçambicanos através de artifícios puramente de conveniência é um primeiro passo. Fiscalizar e estudar em profundidade o pacote eleitoral e a organização dos pleitos vai eliminar a possibilidade de surpresas. É preciso esgotar os truques pela sua denúncia antecipada.
Proibido dormir, proibido dormir, proibido dormir…
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
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