Beira (Canalmoz) - Os relatórios e balanços do Governo sempre foram positivos. Desde 1975. Eram e são balanços e relatórios floreados que nunca descuram o termo positivo.
Os relatórios do ponto de vista teórico são ágeis a proclamarem que é tudo positivo, mesmo que na prática a maioria dos cidadãos é pobre e passa fome. É tudo positivo.
Nem mesmo nos tempos da operação produção, os relatórios positivos sonegavam as mortes. Não expunham o lado trágico do triunfalismo sempre positivo.
Há pouco a produção da jetropha revelou-se um fiasco e os relatórios positivos não deram conta dos fracassos.
O Governo, que nunca deu a mão à palmatória, foi sempre alérgico a admitir falhas em seus balanços tendencialmente positivos. Ou sempre foram ágeis a encontrar culpados, como a mão externa do “apartheid”, a senhora chuva e a madrasta seca. Nem o balanço positivo e tendencialmente tenebroso do generoso Presidente expõem os aspectos que entravam o progresso, porque o país sempre progrediu.
Os balanços tendencialmente positivos do nosso Governo sempre iludiu a esperança aos pobres coitados dos cidadãos, levando-os a acreditarem que o país está a prosperar, quando o índice da pobreza é o mesmo em dez anos. O País está entre os cinco países mais pobres do mundo em cerca de vinte anos. E os relatórios só apontam o triunfalismo positivo.
Do Governo sempre nos chegam discursos pomposos, slogans maravilhosos. É com a mesma ilusão que um slogan previa fazer da “década 1980-1990 da vitória sobre o subdesenvolvimento”.
Algo parece que no passado já estivemos positivamente mais próximos do desenvolvimento do que hoje em que falamos positivamente da pobreza absoluta. E ninguém falou da frustração daquele programa. E o balanço é sempre positivo, como sempre tivemos balanços positivos, como por exemplo, no ano 1984, em que o país foi ao FMI pedir dinheiro, e de joelhos, para a reabilitação da economia.
Os balanços positivos e os relatórios triunfais tiveram também o seu contraponto na área político-militar. A título de exemplo quando em Agosto de 1985 os “Leões da Floresta” atacaram a base da guerrilha em Gorongosa, a Casa Banana. Nas páginas centrais do Diário de Moçambique, de que tenho a memória, estava a Reportagem “Partido a espinha dorsal do banditismo armado”, com imagens. Muitos barrotes de madeira e por cima deles uns óculos, que se supunha terem sido deixados pelo cabecilha, no acto da sua perniciosa fuga em debandada, sempre positiva e com muitas vítimas às costas.
O então temeraríssimo Presidente em seus discursos positivos de fim do ano costumava traçar aquilo que seria a perpectiva positiva do ano seguinte. Por exemplo, a divisa do ano 1980 era a da liquidação dos BA’s, a de 1981 era a da limpeza, a de 1982 a da amnistia e perdão ao resquício de BA’s, já positivamente “limpos”, positivamente “liquidados”. Moçambicanos nas festas do fim-do-ano jubilaram com estas maravilhas positivas.
Os relatórios maravilhosamente tendenciosos e positivos diziam que os BA’s eram instrumentos de agentes externos, no seu acto de recusar que internamente havia grupos positivamente descontentes em face das políticas repressivas do Governo, que só no ano 1976 já tinha feito prisioneiros cinco mil moçambicanos, por pensarem diferente da linha positivamente correcta.
Os relatórios triunfalmente positivos sempre reivindicaram a vitória. Nem mesmo perante a derrota negativamente positiva.
Nem mesmo quando o Governo fazia finca-pé de que continuava positivamente dono da situação, e que por isso de nada lhe serviria conversar com os BA’s. Tudo estava positivamente sobre o controlo. Nem quando se despoletaram imagens de crianças na nudez: Gilé e Ilé. Da gangrena de fome, seca e sede, os relatórios nunca deixaram de ser positivos e triunfais. Nem em 1984 quando se assinou acordo de Nkomati. Era tudo positivo. Estava tudo positivo.
Nem mesmo quando as cidades estavam sitiadas. Nem mesmo quando não se viajava ao interior do país. Nem mesmo quando o Governo foi negociar o Acordo Geral de Paz com os BA’s, com 70 ou 80 por cento do território nacional em favor do oponente, não parecia atraiçoar os relatórios geralmente positivos, mas fazia-o positivamente em nome do povo, porque no terreno tudo lhe corria de feição, como os próprios balanços positivos atestavam.
Vivemos no país das maravilhas. É um sacrilégio falar-se no que está mal, por isso os relatórios são tendencialmente bajuladores. Nem mesmo quando a corrupção é um cancro incurável. Nem mesmo quando a democracia e a liberdade de imprensa afundam-se. Nem mesmo quando nas escolas milhares de crianças sentam no chão. Nem mesmo quando jovens graduados de nível médio e superior não têm o que fazer. Nem mesmo quando nas enfermarias não há camas para doentes. Nem mesmo quando não há medicamentos. Nem mesmo quando seja evidente que entramos galopantemente no segundo ciclo de ditadura. Nem mesmo quando há escolta e colunas em Muxúnguè.
Vivemos num País do triunfo dos balanços positivos. Está tudo positivo. Estes balanços positivos escondem um trunfo: continuar a governar para produzir novos modelos de balanços positivos.
(Adelino Timóteo)
Os relatórios do ponto de vista teórico são ágeis a proclamarem que é tudo positivo, mesmo que na prática a maioria dos cidadãos é pobre e passa fome. É tudo positivo.
Nem mesmo nos tempos da operação produção, os relatórios positivos sonegavam as mortes. Não expunham o lado trágico do triunfalismo sempre positivo.
Há pouco a produção da jetropha revelou-se um fiasco e os relatórios positivos não deram conta dos fracassos.
O Governo, que nunca deu a mão à palmatória, foi sempre alérgico a admitir falhas em seus balanços tendencialmente positivos. Ou sempre foram ágeis a encontrar culpados, como a mão externa do “apartheid”, a senhora chuva e a madrasta seca. Nem o balanço positivo e tendencialmente tenebroso do generoso Presidente expõem os aspectos que entravam o progresso, porque o país sempre progrediu.
Os balanços tendencialmente positivos do nosso Governo sempre iludiu a esperança aos pobres coitados dos cidadãos, levando-os a acreditarem que o país está a prosperar, quando o índice da pobreza é o mesmo em dez anos. O País está entre os cinco países mais pobres do mundo em cerca de vinte anos. E os relatórios só apontam o triunfalismo positivo.
Do Governo sempre nos chegam discursos pomposos, slogans maravilhosos. É com a mesma ilusão que um slogan previa fazer da “década 1980-1990 da vitória sobre o subdesenvolvimento”.
Algo parece que no passado já estivemos positivamente mais próximos do desenvolvimento do que hoje em que falamos positivamente da pobreza absoluta. E ninguém falou da frustração daquele programa. E o balanço é sempre positivo, como sempre tivemos balanços positivos, como por exemplo, no ano 1984, em que o país foi ao FMI pedir dinheiro, e de joelhos, para a reabilitação da economia.
Os balanços positivos e os relatórios triunfais tiveram também o seu contraponto na área político-militar. A título de exemplo quando em Agosto de 1985 os “Leões da Floresta” atacaram a base da guerrilha em Gorongosa, a Casa Banana. Nas páginas centrais do Diário de Moçambique, de que tenho a memória, estava a Reportagem “Partido a espinha dorsal do banditismo armado”, com imagens. Muitos barrotes de madeira e por cima deles uns óculos, que se supunha terem sido deixados pelo cabecilha, no acto da sua perniciosa fuga em debandada, sempre positiva e com muitas vítimas às costas.
O então temeraríssimo Presidente em seus discursos positivos de fim do ano costumava traçar aquilo que seria a perpectiva positiva do ano seguinte. Por exemplo, a divisa do ano 1980 era a da liquidação dos BA’s, a de 1981 era a da limpeza, a de 1982 a da amnistia e perdão ao resquício de BA’s, já positivamente “limpos”, positivamente “liquidados”. Moçambicanos nas festas do fim-do-ano jubilaram com estas maravilhas positivas.
Os relatórios maravilhosamente tendenciosos e positivos diziam que os BA’s eram instrumentos de agentes externos, no seu acto de recusar que internamente havia grupos positivamente descontentes em face das políticas repressivas do Governo, que só no ano 1976 já tinha feito prisioneiros cinco mil moçambicanos, por pensarem diferente da linha positivamente correcta.
Os relatórios triunfalmente positivos sempre reivindicaram a vitória. Nem mesmo perante a derrota negativamente positiva.
Nem mesmo quando o Governo fazia finca-pé de que continuava positivamente dono da situação, e que por isso de nada lhe serviria conversar com os BA’s. Tudo estava positivamente sobre o controlo. Nem quando se despoletaram imagens de crianças na nudez: Gilé e Ilé. Da gangrena de fome, seca e sede, os relatórios nunca deixaram de ser positivos e triunfais. Nem em 1984 quando se assinou acordo de Nkomati. Era tudo positivo. Estava tudo positivo.
Nem mesmo quando as cidades estavam sitiadas. Nem mesmo quando não se viajava ao interior do país. Nem mesmo quando o Governo foi negociar o Acordo Geral de Paz com os BA’s, com 70 ou 80 por cento do território nacional em favor do oponente, não parecia atraiçoar os relatórios geralmente positivos, mas fazia-o positivamente em nome do povo, porque no terreno tudo lhe corria de feição, como os próprios balanços positivos atestavam.
Vivemos no país das maravilhas. É um sacrilégio falar-se no que está mal, por isso os relatórios são tendencialmente bajuladores. Nem mesmo quando a corrupção é um cancro incurável. Nem mesmo quando a democracia e a liberdade de imprensa afundam-se. Nem mesmo quando nas escolas milhares de crianças sentam no chão. Nem mesmo quando jovens graduados de nível médio e superior não têm o que fazer. Nem mesmo quando nas enfermarias não há camas para doentes. Nem mesmo quando não há medicamentos. Nem mesmo quando seja evidente que entramos galopantemente no segundo ciclo de ditadura. Nem mesmo quando há escolta e colunas em Muxúnguè.
Vivemos num País do triunfo dos balanços positivos. Está tudo positivo. Estes balanços positivos escondem um trunfo: continuar a governar para produzir novos modelos de balanços positivos.
(Adelino Timóteo)
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