Monday 28 October 2013

Incertezas no diálogo com Governo

Maputo (Canalmoz) – A Renamo reafirma que poderá voltar a sentar-se à mesa do diálogo se o Governo aceitar a presença de “facilitadores e observadores”. A Renamo recusa-se a voltar a dialogar sem que, para além das duas partes que já estiveram frente-a-frente 24 vezes, o Governo concorde em que assistam ao diálogo “facilitadores e observadores”.
Até ...ao fim da tarde deste domingo, não se sabia se a Renamo e o Governo retornariam ou não hoje à mesa do diálogo, dado que o executivo de Armando Guebuza não tinha ainda respondido à carta da contra-parte, com data de 24 de Outubro, assinada pelo Dr. Augusto Mateus, dirigida a Carlos Taju do Secretário do Conselho de Ministros.
A acontecer o diálogo deverá ter inicio às 09h00, no Centro de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo.
Numa carta enviada ao Governo e a todas as embaixadas baseadas em Maputo, o partido Renamo diz estar disponível a ir à mesa do diálogo caso o Governo aceite a presença de facilitadores nacionais e observadores nacionais e internacionais.
Em contacto com o Canalmoz ao fim da tarde de domingo, dois membros da Renamo no diálogo com o Governo, o chefe da delegação Saimone Macuiana e Jeremias Pondeca, disseram que não sabiam se haveria ou não diálogo na segunda-feira porque o Governo ainda não tinha respondido à carta que lhe foi submetida com ponto que se considera de prévio, o mesmo que levou à ruptura do entendimento das partes na 24.ᵃ ronda que apenas durou meia hora.
Este partido advertiu que vai levar como ponto prévio se o Governo aceitar a exigência da presença de facilitadores nacionais (Dom Dinis Sengulane e professor Lourenço do Rosário), de Observadores Internacionais.
A Renamo também quer a Imprensa na sala do diálogo a assistir a tudo.
A Renamo defende a transparência total do diálogo.

Contactos diplomáticos

Sabe-se que o grupo de contacto da Renamo reuniu-se na semana passada em Maputo com os representantes da Holanda, Suécia, União Europeia, Itália, Portugal, Reino da Grã-Bretanha, Conselho Cristão de Moçambique e facilitadores nacionais para debater a crise político-militar que o País atravessa, opondo este partido e o Governo da Frelimo, bem como mecanismos de tentar ultrapassá-la.

Ataques continuam na ordem do dia

Enquanto isso, homens armados desconhecidos, mas que o Governo diz serem da Renamo, protagonizaram na manhã do último sábado no troço Machanga-Muxúnguè, na província de Sofala, um ataque a uma viatura de transporte colectivo com capacidade para 33 lugares que resultou na morte de uma pessoa e ferimentos em outras dez. Quatro dos feridos, incluindo duas crianças, estão em estado grave, segundo fonte médica do Hospital Rural de Muxúnguè.
O ataque que ocorreu entre o Rio Save, limite natural entre o sul e o centro de Moçambique, e o posto administrativo de Muxúnguè, no distrito de Chibabava, na província central de Sofala, teve como alvo uma viatura de transporte colectivo de passageiros que se deslocava de Machanga, também em Sofala, para a cidade da Beira, a capital daquela província.
A Renamo não reivindicou a autoria do ataque que o Governo, na pessoa do presidente Armando Guebuza, já atribuiu à Renamo sem apresentar qualquer tipo de prova.
O repórter-correspondente do Canalmoz em Chimoio disse que falou com o director do Hospital Rural de Muxúnguè, Dr. Pedro Viramão, e este confirmou ainda no sábado o registo de feridos, mas disse que alguns foram transferidos para o Hospital Central da Beira, dado que o centro hospitalar de Muxúnguè não possui serviços de cirurgia, que alguns dos feridos requerem.

Comandante-geral da PRM visita local do ataque

Ainda no sábado, fontes da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Sofala garantiram ao Canalmoz em Maputo que o comandante-geral da corporação, Jorge Khalau, deslocou-se ao local do ataque.

Governo zimbabweano ameaça enviar tropas para apoiar Guebuza

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de Mugabe, Christopher Mutsvangwa, afirmou que o seu executivo não vai tolerar o retorno à guerra em Moçambique. Mutsvangwa foi citado quarta-feira da semana passada pela BBC, como tendo dito que a Renamo deve voltar a participar no processo político moçambicano e “não ameaçar a estabilidade regional”.
“O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, não deve ‘nunca, nunca’ retornar à violência”, disse o membro do Governo zimbabweano, acrescentando que "a África Austral não vai tolerar isso".
“Nós simplesmente não precisamos disso nesta região, neste momento”, disse Christopher Mutsvangwa, para quem a SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) consideraria enviar tropas para ajudar o Governo moçambicano se a situação de segurança se deteriorar, o que já foi apreciado pelos analistas como um sinal de debilidade das Forças de Defesa e Segurança do País.
“Vai ser um erro a Renamo trazer instabilidade e o Zimbabwe espera para ver", disse ainda o vice-ministro de Mugabe.
O Zimbabwe depende quase exclusivamente do Porto da Beira para os seus negócios com o exterior. Os combustíveis para o Zimbabwe são transportados do Porto da Beira para Mutare em camiões cisterna e através de um pipeline.


(Bernardo Álvaro e José Jeco, em Chimoio, Canalmoz)

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