RENAMO impõe condições para negociar. A DW África falou com o mediador Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica de Moçambique, sobre a nova proposta de negociações por parte do Governo de Guebuza.
A situação continua muito tensa e pouco clara em Moçambique. O líder do maior partido da oposição, a Resistència Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, continua desaparecido e, tal como o Governo, impõe condições pouco conciliatórias para a retoma do diálogo.
Em entrevista à DW África, o mediador entre os dois lados, o reitor da Universidade Politécnica de Moçambique, Lourenço do Rosário, revela os últimos desenvolvimentos da crise político-militar moçambicana.
DW África: Qual é o ponto da situação em Moçambique?
Lourenço do Rosário (LR): Neste momento, o Governo acaba de enviar uma carta à RENAMO dizendo que está disponível para se reunir na segunda-feira (28.10). Nós fizemos sentir à RENAMO que o importante é resolver o problema militar, porque a RENAMO tem enfatizado que, sem resolver o problema do pacote eleitoral, não há conversações sobre a questão da desmilitarização e da defesa e segurança.
Mas, dadas as circunstâncias, neste momento, em que a base da RENAMO foi ocupada e o líder da RENAMO está em parte incerta, não faz sentido que se insista nisso. Não me parece que seja prioritário. A prioridade é resolver a questão de segurança.
DW África: Considera que há perspetivas de a RENAMO aderir a esse ponto de vista?
LR: Penso que tem poucas condições de poder não aderir e abrir-se à perspetiva de diálogo.
DW África: Porque é que o Governo atacou a base de Satunjira e o que é que pretende agora?LR: Só posso dizer aquilo que está publicado e aquilo que é o discurso oficial e o discurso da RENAMO. A RENAMO diz que foi o Governo que provocou. O Governo diz que foi a RENAMO. Por isso, nós, a opinião pública, não sabemos o que é que se passou concretamente.
DW África: Visto de fora, este parece ser um conflito em torno da partilha das riquezas consideráveis do país. Concorda com esta visão?
LR: Esta questão da partilha equitativa está na agenda que a RENAMO colocou na discussão. São quatro pontos: o pacote eleitoral, questões de defesa e segurança, o problema da partidarização no aparelho do Estado e a equidade na partilha das riquezas. Portanto, não é segredo.
DW África: Falou de um possível encontro, na segunda-feira. Já há alguma reação da RENAMO nesse sentido?
LR: Houve uma reação da RENAMO que nos parece inadequada. A RENAMO coloca a questão de que só voltará para a mesa na condição de haver facilitadores e observadores para acompanhar a discussão. Ora, este aspeto era exigido quando se estava numa situação antes de 21 de outubro, sem haver a fuga do líder da RENAMO e esta pressão militar.
A RENAMO não pode ignorar este aspeto, porque o Governo, na sua carta, diz que está disponível para conversar com a delegação da RENAMO, quer na vertente política, quer na militar, para preparar o encontro do líder da RENAMO com o Presidente da República, Armando Guebuza.
DW África: A exigência de observadores estrangeiros ou independentes não se prenderá com receios do líder da RENAMO quanto à sua própria segurança?
LR: Quando se transforma uma situação de polícia numa questão militar, tudo pode acontecer. Naturalmente, não seria bom para a estabilidade do país qualquer dano sofrido pelo líder da RENAMO, porque isso traria uma incógnita bastante grande para o xadrez político.
DW África: Como cidadão moçambicano, como é que vê a perspetiva da paz?
LR: Como estou envolvido nisto, tenho algum otimismo. De facto, não interessa a nenhuma das partes aquilo que se chama "solução final", que é o Governo, com os seus meios bélicos bastante superiores, tentar fazer uma operação de limpeza. Há adeptos desta solução, tal como há adeptos do lado da RENAMO de partir para a guerrilha e fechar as estradas, sabotar os caminhos de ferro e abater postes de eletricidade. Também existe isso. Mas penso que ainda é uma opinião minoritária no país. O grosso da sociedade, da população, das organizações da sociedade civil e religiosas e mesmo os políticos, de uma forma geral, não são adeptos desta via.