– suspeitam militantes do partido
Plano Quinquenal do Governo é votado hoje na AR
Beira (Canalmoz) - Este fim-de-semana que precedeu a votação, hoje, na Assembleia da República, do Plano Quinquenal do Governo, ouviram-se, na Beira, fortes críticas de vários sectores das bases do partido liderado por Daviz Simango pela intenção de voto favorável manifestada sexta-feira por Lutero Simango na Assembleia da República. “O MDM deixou-se capturar pela Frelimo”, foi uma das frases que registámos num dos acesos debates que o tema suscitou na Beira.
O facto dos 8 deputados daquele partido da oposição parlamentar se terem decidido a votar a favor do plano quinquenal do partido dos “camaradas”, ainda não está consumado, mas tudo indica que hoje na Assembleia da República (AR) o MDM vai votar no programa da Frelimo, para o desespero de muitos dos seus apoiantes.
Não está posta de lado, no entanto, a hipótese de haver quem se abstenha entre os 8 deputados do MDM que ainda não possuem bancada formal por esse ponto de agenda que altera o Regimento estar para depois da votação do Plano Quinquenal do Governo.
Com esta “captura” de “um partido que parecia promissor”, a memória de vários segmentos da sociedade beirense por nós contactados recorda o fenómeno idêntico, ainda fresco, que ocorreu no país, por exemplo, com a “Oposição Construtiva”, um bloco liderado por Yacub Sibindy, ele próprio também presidente do Partido Independente de Moçambique (PIMO), e que nas eleições passadas capitulou e rendeu-se à Frelimo, depois de receber luvas do empresário Momad Bachir, do Grupo MBS.
Fontes oficiais do MDM recusam as insinuações mas amplos segmentos do partido estão a suspeitar que o “voto de confiança” do MDM no Plano Quinquenal do Governo do partido Frelimo liderado por Aires Aly, é sintomático de que “algo ocorreu debaixo da mesa”, neste país onde é normal ocorrerem subornos na classe política.
“A Frelimo tem a maioria na AR e não precisava dos votos do MDM para fazer passar o seu plano quinquenal”, dizia-nos um militante na Beira que ao mesmo tempo alega que a anunciada intenção do grupo parlamentar do MDM na Assembleia da República votar a favor está a ser vista por amplos sectores do MDM como uma autêntica capitulação.
Se num passado recente todos os partidos que capitularam à Frelimo o fizeram porque estavam sufocados de dívidas, quanto ao MDM as vozes críticas de dentro do partido afirmam que o grupo de oito deputados irá votar no plano da Frelimo para serem acomodados nos seus desígnios de se enriquecerem com o apadrinhamento dos “camaradas” que controlam toda a economia.
Um dos membros do MDM que participou no recente Conselho Nacional do “galo” em Quelimane afirmou que naquele evento foi levado à discussão a questão de subordinação dos deputados ao partido. Um grupo de deputados era pelo não a essa ideia, mas Daviz Simango acabou impondo o sim.
“Isto leva a crer que as figuras cimeiras e mais influentes foram capturados pela Frelimo, pois não cremos que nisto pesou a opinião da Comissão Política do MDM. Há partidos que subordinados à Frelimo proferem discursos que recebem do comité central da Frelimo. Perante esta realidade, o MDM não está longe disso”, assim comentava um dos depoentes, que preferiu anonimato por temer consequências.
Na Beira várias fontes lançaram um aviso à navegação do grupo dos deputados que hoje está na AR. Fizeram questão de lhes lembrar que o MDM nasceu da revolução de 28 de Agosto ocorrida por Dhlakama se ter alegadamente aliado à Frelimo para trair Daviz Simango. Com este pensamento foram dezenas os militantes do MDM que nunca simpatizaram com a Frelimo que estão indignados por os deputados do partido na AR ir votar a favor do Plano Quinquenal da Frelimo. “A acontecer hoje o voto do MDM ao plano da Frelimo será um insulto à nossa inteligência, e por conseguinte, à memória do reverendo Uria Simango e Celina Muchanga, ambos progenitores de Daviz Simango, assassinados pela Frelimo em M’telela, ainda sem esclarecimento, lá vão quase quatro décadas”, recordou um dos nossos interlocutores, que afirmou apesar de o partido não se inspirar no pensamento do reverendo e esposa, há nos apoiantes de Simango muita compaixão por causa da injustiça do passado que atinge ainda hoje este clã.
O que diz Daviz Simango
Contactado para reagir às referidas acusações o presidente do MDM, Daviz Simango, recomendou-nos que falássemos com o secretário-geral do “galo”, nesse sentido.
O que diz o Secretário-Geral do MDM
Por seu turno, o secretário-geral do “galo”, Ismael Mussá, afirmou que aquando da campanha eleitoral ao escrutínio de 28 de Outubro passado o MDM apresentou o seu programa, em que se comprometia a construir doze mil casas por ano para jovens e o Governo agora prevê construir 100 mil casas para os jovens. “Isto não constava do programa da Frelimo antes das eleições, sendo sinal de que os influenciámos. Seria incoerente da nossa parte votarmos contra um programa inspirado em nós”.
Mussá acrescentou que outro assunto que constava do manifesto do MDM tinha a ver com as nomeações na função pública, de que ressaltava que os lugares deveriam ser ocupados por gente de confiança em detrimento da competência. “Na semana finda surgiram anúncios públicos abrindo vagas aos secretários permanentes. Há outras coisas em que o plano do Governo se inspira no do MDM: a revisão do pacote eleitoral, linha férrea ligando norte-sul do país, construção da barragem Moamba-Major. Nós referimos também o combate à pobreza urbana, quando a Frelimo dava primazia ao distrito. E isto consta do plano quinquenal do Governo. Isto representa uma vitória do MDM”.
O SG do MDM afirmou que “damos ao Governo um voto de confiança com benefício da dúvida”.
“Agora vamos nos concentrar, centrarmos na fiscalização da execução do plano económico e social anual. Se nada do prometido pelo Governo for feito, então votaremos contra”.
Acrescentou que “há um outro aspecto que estava contido no nosso manifesto: os mega-projectos de areias pesadas de Moma, Mozal e Sasol não pagavam impostos ao Estado. O MDM se referia à renegociação com estes parceiros. Isto está já no plano do Governo. Estamos a receber críticas negativas e positivas à cerca deste nosso posicionamento, isto é por irmos votar a favor. Mas lembro: fazer oposição não significa necessariamente chumbar tudo do Governo”.
Por último, Mussá recordou que “durante a campanha nos Estados Unidos, uma das linhas de força da campanha de Barack Obama foi reforçar o sistema de saúde. Ele conseguiu votos dos democráticas e republicanos. Quando se trata de questões nacionais, as pessoas podem votar para questões de interesse nacional. Não deixam de ser oposição”.
“Não tem a ver com o facto de MDM estar a ser engolido pela Frelimo”, rematou Ismael Mussa, deputado e SG na Frelimo na Assembleia da República.
Está visto, assim, que o MDM vai hoje votar favoravelmente o Plano Quinquenal do Governo, se bem que sob fortes críticas de amplos segmentos do partido que admitiam que o voto se bem que não fosse contra se ficasse por ser de abstenção.
(Adelino Timóteo, CANALMOZ, 05/04/10)
Plano Quinquenal do Governo é votado hoje na AR
Beira (Canalmoz) - Este fim-de-semana que precedeu a votação, hoje, na Assembleia da República, do Plano Quinquenal do Governo, ouviram-se, na Beira, fortes críticas de vários sectores das bases do partido liderado por Daviz Simango pela intenção de voto favorável manifestada sexta-feira por Lutero Simango na Assembleia da República. “O MDM deixou-se capturar pela Frelimo”, foi uma das frases que registámos num dos acesos debates que o tema suscitou na Beira.
O facto dos 8 deputados daquele partido da oposição parlamentar se terem decidido a votar a favor do plano quinquenal do partido dos “camaradas”, ainda não está consumado, mas tudo indica que hoje na Assembleia da República (AR) o MDM vai votar no programa da Frelimo, para o desespero de muitos dos seus apoiantes.
Não está posta de lado, no entanto, a hipótese de haver quem se abstenha entre os 8 deputados do MDM que ainda não possuem bancada formal por esse ponto de agenda que altera o Regimento estar para depois da votação do Plano Quinquenal do Governo.
Com esta “captura” de “um partido que parecia promissor”, a memória de vários segmentos da sociedade beirense por nós contactados recorda o fenómeno idêntico, ainda fresco, que ocorreu no país, por exemplo, com a “Oposição Construtiva”, um bloco liderado por Yacub Sibindy, ele próprio também presidente do Partido Independente de Moçambique (PIMO), e que nas eleições passadas capitulou e rendeu-se à Frelimo, depois de receber luvas do empresário Momad Bachir, do Grupo MBS.
Fontes oficiais do MDM recusam as insinuações mas amplos segmentos do partido estão a suspeitar que o “voto de confiança” do MDM no Plano Quinquenal do Governo do partido Frelimo liderado por Aires Aly, é sintomático de que “algo ocorreu debaixo da mesa”, neste país onde é normal ocorrerem subornos na classe política.
“A Frelimo tem a maioria na AR e não precisava dos votos do MDM para fazer passar o seu plano quinquenal”, dizia-nos um militante na Beira que ao mesmo tempo alega que a anunciada intenção do grupo parlamentar do MDM na Assembleia da República votar a favor está a ser vista por amplos sectores do MDM como uma autêntica capitulação.
Se num passado recente todos os partidos que capitularam à Frelimo o fizeram porque estavam sufocados de dívidas, quanto ao MDM as vozes críticas de dentro do partido afirmam que o grupo de oito deputados irá votar no plano da Frelimo para serem acomodados nos seus desígnios de se enriquecerem com o apadrinhamento dos “camaradas” que controlam toda a economia.
Um dos membros do MDM que participou no recente Conselho Nacional do “galo” em Quelimane afirmou que naquele evento foi levado à discussão a questão de subordinação dos deputados ao partido. Um grupo de deputados era pelo não a essa ideia, mas Daviz Simango acabou impondo o sim.
“Isto leva a crer que as figuras cimeiras e mais influentes foram capturados pela Frelimo, pois não cremos que nisto pesou a opinião da Comissão Política do MDM. Há partidos que subordinados à Frelimo proferem discursos que recebem do comité central da Frelimo. Perante esta realidade, o MDM não está longe disso”, assim comentava um dos depoentes, que preferiu anonimato por temer consequências.
Na Beira várias fontes lançaram um aviso à navegação do grupo dos deputados que hoje está na AR. Fizeram questão de lhes lembrar que o MDM nasceu da revolução de 28 de Agosto ocorrida por Dhlakama se ter alegadamente aliado à Frelimo para trair Daviz Simango. Com este pensamento foram dezenas os militantes do MDM que nunca simpatizaram com a Frelimo que estão indignados por os deputados do partido na AR ir votar a favor do Plano Quinquenal da Frelimo. “A acontecer hoje o voto do MDM ao plano da Frelimo será um insulto à nossa inteligência, e por conseguinte, à memória do reverendo Uria Simango e Celina Muchanga, ambos progenitores de Daviz Simango, assassinados pela Frelimo em M’telela, ainda sem esclarecimento, lá vão quase quatro décadas”, recordou um dos nossos interlocutores, que afirmou apesar de o partido não se inspirar no pensamento do reverendo e esposa, há nos apoiantes de Simango muita compaixão por causa da injustiça do passado que atinge ainda hoje este clã.
O que diz Daviz Simango
Contactado para reagir às referidas acusações o presidente do MDM, Daviz Simango, recomendou-nos que falássemos com o secretário-geral do “galo”, nesse sentido.
O que diz o Secretário-Geral do MDM
Por seu turno, o secretário-geral do “galo”, Ismael Mussá, afirmou que aquando da campanha eleitoral ao escrutínio de 28 de Outubro passado o MDM apresentou o seu programa, em que se comprometia a construir doze mil casas por ano para jovens e o Governo agora prevê construir 100 mil casas para os jovens. “Isto não constava do programa da Frelimo antes das eleições, sendo sinal de que os influenciámos. Seria incoerente da nossa parte votarmos contra um programa inspirado em nós”.
Mussá acrescentou que outro assunto que constava do manifesto do MDM tinha a ver com as nomeações na função pública, de que ressaltava que os lugares deveriam ser ocupados por gente de confiança em detrimento da competência. “Na semana finda surgiram anúncios públicos abrindo vagas aos secretários permanentes. Há outras coisas em que o plano do Governo se inspira no do MDM: a revisão do pacote eleitoral, linha férrea ligando norte-sul do país, construção da barragem Moamba-Major. Nós referimos também o combate à pobreza urbana, quando a Frelimo dava primazia ao distrito. E isto consta do plano quinquenal do Governo. Isto representa uma vitória do MDM”.
O SG do MDM afirmou que “damos ao Governo um voto de confiança com benefício da dúvida”.
“Agora vamos nos concentrar, centrarmos na fiscalização da execução do plano económico e social anual. Se nada do prometido pelo Governo for feito, então votaremos contra”.
Acrescentou que “há um outro aspecto que estava contido no nosso manifesto: os mega-projectos de areias pesadas de Moma, Mozal e Sasol não pagavam impostos ao Estado. O MDM se referia à renegociação com estes parceiros. Isto está já no plano do Governo. Estamos a receber críticas negativas e positivas à cerca deste nosso posicionamento, isto é por irmos votar a favor. Mas lembro: fazer oposição não significa necessariamente chumbar tudo do Governo”.
Por último, Mussá recordou que “durante a campanha nos Estados Unidos, uma das linhas de força da campanha de Barack Obama foi reforçar o sistema de saúde. Ele conseguiu votos dos democráticas e republicanos. Quando se trata de questões nacionais, as pessoas podem votar para questões de interesse nacional. Não deixam de ser oposição”.
“Não tem a ver com o facto de MDM estar a ser engolido pela Frelimo”, rematou Ismael Mussa, deputado e SG na Frelimo na Assembleia da República.
Está visto, assim, que o MDM vai hoje votar favoravelmente o Plano Quinquenal do Governo, se bem que sob fortes críticas de amplos segmentos do partido que admitiam que o voto se bem que não fosse contra se ficasse por ser de abstenção.
2 comments:
Não me parece que fazer oposição signifique votar «não» pelo simples «não».
Numa situação em que a FRELIMO tem a maioria que tem, parece-me claro que o voto do MDM deve ir pela análise profunda do PQG, em termos de verificar se o mesmo vai ou não de acordo com as suas pretensões.
Apenas nos sentiremos traidos quando nos dermos conta de que o MDM não está a cumprir o seu papel de fiscalizador, isto no âmbito dos cinco próximos anos.
Votar «não » apenas para presenvar a memória dos pais do Davis Simango não me parece o caminho certo para este partido.
O MDM tem de despir-se desta capa «tribalista» para se posicionar como um partido de todos, conforme o lema «Moçambique para Todos»
Abraço
Ilustre Gil, gostei muito da sua excelente análise.
O papel da Oposição não é de rejeitar constantemente as propostas do Partido no governo mas também não pode carimbar levianamente qualquer proposta, tem de haver debate profundo nas estruturas partidárias da Oposição.
Neste caso pontual, penso que o MDM esteve muito bem em abter-se, agora aguardamos que assuma o dever de fiscalizar com seriedade a execução do PQG.
Eu continuo a acreditar no ideal de um Moçambique para todos.
Abraço forte!
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