Mediadores das negociações entre o Governo moçambicano e a Renamo apontaram a manutenção das linhas diálogo como condição para que se ultrapasse a crise política no país.
"É necessário continuar a nutrir as linhas de diálogo e próprio Acordo de Paz", disse hoje à Lusa Dinis Sengulane, bispo jubilado da igreja anglicana em Maputo, falando à margem da cerimónia da comemoração do Acordo Geral de Paz, assinado há 23 anos em Roma, encerrando uma década e meia de guerra civil.
O 23.º aniversário da assinatura do acordo de paz em Moçambique é celebrado num clima de crise política, com registo de três confrontações militares em três semanas, que levaram o líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, para parte incerta.
Para Dinis Sengulane, os últimos incidentes envolvendo o líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) mostraram que a paz ainda não foi atingida na sua plenitude e é preciso que Moçambique preste maior atenção para a existência de "grupos armados não autorizados".
"O desarmar das mãos e das mentes não se completou", alertou Dinis Sengulane, acrescentando, no entanto, que ninguém está arrependido por ter assinado o Acordo Geral de Paz e é preciso encontrar formas de fazer com que a mensagem chegue a todos moçambicanos.
Após mais de cem rondas negociais no Centro de Conferência Joaquim Chissano, as partes não chegaram a um consenso sobre a desmilitarização do braço armado da Renamo, uma das principais cláusulas do Acordo de Cessação das Hostilidades Militares, assinado a 05 de setembro, e o partido de Afonso Dhlakama acabou por suspender as sessões de diálogo.
Outro mediador, reverendo Anastácio Chembeze disse, no entanto, à Lusa que não há motivo para desespero, sustentando, sem avançar mais detalhes, que há um trabalho que está em curso para manter a linha de diálogo, elemento crucial para manutenção da paz.
"Estamos a fazer esforços para reatar o diálogo e estamos esperançados", afirmou o reverendo, acrescentando que a manutenção da paz é a condição basilar no quadro do desenvolvimento do país.
"Não há motivos para desesperos, o processo do diálogo vai continuar, mesmo que seja de forma diferenciada", declarou o reverendo, salientando que há um trabalho que está sendo feito para se reativar a linha de contacto com o líder da Renamo, que está em parte incerta.
A violência política aumentou nas últimas semanas e na sexta-feira forças de defesa e segurança e militares da Renamo voltaram a confrontar-se no distrito de Gondola, província de Manica, com as duas partes a responsabilizarem-se mutuamente pelo começo do tiroteio.
Após este último incidente, que forçou a fuga de dezenas de habitantes na região, não houve registo de novos confrontos, apesar da permanência no local de forças da polícia e presumivelmente também de homens armados da Renamo.
Foi no mesmo distrito que, no passado dia 25, Afonso Dhlakama disse ter escapado de uma emboscada das forças de defesa e segurança, que por sua vez acusam os homens da Renamo de ter iniciado o incidente ao abrir fogo sobre uma viatura de transporte semipúblico que ia a passar e alegando que a polícia apenas se dirigiu ao local para repor a ordem.
Destes confrontos, morreram pelo menos sete elementos da Renamo, segundo o partido da oposição, e 23 homens de Dhlakama, de acordo com o Governo moçambicano, além do motorista da viatura civil.
Esse foi o segundo incidente em menos de duas semanas envolvendo a comitiva de Afonso Dhlakama, após, a 12 de setembro, a sua caravana ter sido atacada também na província de Manica, num caso que permanece por esclarecer.Moçambique vive sob a ameaça de uma nova guerra, devido às ameaças da Renamo, que quer governar pela força as seis províncias do centro e norte do país onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 15 de outubro do ano passado.
No comments:
Post a Comment