Tal como aconteceu na guerra dos 16 anos, hoje a comunicação social está profundamente envolvida no fomento à instabilidade. A comunicação social moçambicana tem a cota-parte de responsabilidade no ambiente político-militar que vivemos porque ela não está a contribuir para a compreensão do que está em causa. O público está a ser bombardeado com informação propagandística de ambos lados da contenda. Isto está a prejudicar em grande medida a capacidade de o público, a sociedade civil, posicionar-se de forma coerente.
Grande parte do que temos lido na comunicação social não são notícias. São opiniões e editoriais que a partida tomam partido claro.
Alguns exemplos:
Grande parte de “notícias” dos jornais Noticias, Domingo ou TVM e AIM (língua portuguesa) são de opiniões de analistas pró-regime que se desdobram em condenar a guerra e apelar a paz. De permeio, diabolizam Afonso Dhlakama ao mesmo tempo que “apelam” ambas as partes a continuarem com o diálogo. Este esquema funciona da seguinte forma.
Surge uma notícia, por exemplo, do ataque de “homens armados à caravana de Afonso Dhlakama” e depois segue-se o ritual.
1. Ouve-se o comandante da PRM de Manica, de Gondola, do Comando-geral da PRM.
2. Ouve-se os analistas do G40
3. Ouve-se os religiosos baseados em Maputo
4. Ouve-se o Secretário-geral dos antigos combatentes
5. Ouve-se os “músicos” baseados em Maputo
6. Ouve-se a OMM
7. Ouve-se a OJM
8. Ouve-se o Conselho Nacional da Juventude
9. Ouve-se o apelo à Paz do Conselho de Ministro
10. Ouve-se a condenação do PR aos ataques e o apelo ao diálogo
11. Ouve-se um antigo chefe do SNASP
12. Quando a Renamo convoca a conferência da imprensa para dar a sua versão dos factos, faz-se a cobertura e de seguida
13. Organiza-se um programa específico de pelo menos 30 minutos para o porta-voz da Frelimo reagir seguido dos comentários-residentes da TVM, RM, AIM e outras células
14. Volta a ouvir os mesmos elencados dos números 1 até 11
Quem quiser pode rever as notícias destes órgãos desde que esta confusão começou.
Ou seja, o jornalismo como tal, não está a trazer nada de novo senão consolidar nos ouvintes e telespectadores os mesmos vícios de análise, os mesmos estereótipos sobre o outro, a mesma guerra, enfim, a mesma distorção.
a) Que o problema é fruto de uma contenda mal resolvida saída das eleições, não se lembram ou fazem-se de esquecidos
b) Que o problema é fruto do impasse nas conversações da “Joaquim Chissano” não se lembram, nem querem nos recordar os pontos de discórdia
c) Que ainda existe o problema de reintegrar homens armados da Renamo, já não se recordam muito menos discutem formas alternativas de materializar
d) Que existe um acordo sobre a despartidarização do estado que o governo já não quer homologa-lo, não se recordam
e) Que a Polícia precisa trazer o relatório de inquérito sobre o ataque do dia 12 de Setembro, não se recordam
f) Que desde que a Polícia deixou de escoltar Afonso Dhlakama começaram os problemas, ninguém quer se recordar muito menos discutir os porquês
E o mais importante ainda
Quando tudo parecia estar encaminhado para que o Presidente Nyusi e Dhlakama se encontrassem, e quando logo no dia 23/24 de Setembro a Renamo fez chegar ao governo os seus pontos de agenda, eis que acontece o ataque à Caravana do líder da Renamo, quando este estava a caminho de Nampula para mais uma Conferencia Nacional da Juventude da Renamo.
Afinal, o que impede que a notícia seja completa e todos temas sejam discutidos na comunicação social?
A dita inclusão foi afinal sol de pouca dura?
A IMAGEM QUE A COMUNICAÇÃO SOCIAL NOS OFERECE SOBRE A SITUAÇÃO POLÍTICA NÃO É VERDADEIRA.
PS: Quero através deste espaço reconhecer a edição do Savana de Hoje. Ela tem a dignidade historiográfica. No futuro, os investigadores irão ler e citar o texto de André Catueira, este combatente da verdade. Parabéns Savana e sua equipa editorial. Leiam o Savana de hoje, por favor.
Egidio Vaz, no Facebook
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