Frelimo e Renamo responsabilizaram-se mutuamente hoje no parlamento pela crise política no país, com o partido no poder a apontar uma lógica belicista à força de oposição, que por sua vez denunciou tentativas de assassinar o seu líder.
"Infelizmente, mantém-se o clima de insegurança e de incerteza, alimentado por discursos violentos e atitudes irresponsáveis, bélicas e desestabilizadoras", afirmou a chefe da bancada da Frelimo, Margarida Talapa, no discurso de abertura dos trabalhos da II Sessão da VIII Legislatura da Assembleia da República.
Talapa acusou a Renamo de seguir uma lógica de militarização e de recusar transformar-se num partido político democrático, apontando o abandono das negociações com o Governo por parte do movimento como exemplo da sua postura.
Referindo-se ao desarmamento pela polícia da guarda do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, no dia 09, na Beira, capital da província de Sofala, centro do país, a chefe da bancada da Frelimo considerou o acontecimento como sinal de esperança para a desmilitarização do movimento.
"Os moçambicanos estão esperançosos de que o sinal dado pelo líder da Renamo, entregando as armas que estavam na posse da sua guarda pessoal, seja o início do seu desarmamento e da sua efetiva transformação num verdadeiro partido político", acrescentou Margarida Talapa.
Por seu turno, a chefe da bancada da Renamo, Ivone Soares, acusou a Frelimo de pretender matar Afonso Dhlakama, durante o cerco e a invasão da residência do seu líder na Beira, assinalando que o desarmamento do movimento terá de ser feito através do diálogo e negociações.
"O cenário gratuito pré-bélico montado na residente do presidente Dhlakama foi a ponta do 'iceberg' da cobardia e má-fé, que a Frelimo poderia demonstrar. Não se tratou de um incidente casual", afirmou Ivone Soares.
A chefe da bancada da Renamo classificou como "atentados" os incidentes em que a caravana do líder da Renamo se envolveu no dia 12 e 25 de Setembro, este último com vários mortos.
"Para qualquer desarmamento, só há um caminho: diálogo, negociação, entendimento. A violência gera violência", destacou Ivone Soares.
Por seu turno, o chefe da bancada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido, Lutero Simango, apontou a violência política e militar no país como fatores de grande preocupação em Moçambique.
"A violência político-militar e a insegurança, a criminalidade, a redução de investimentos e a crise na indústria turística nacional vêm completar o já assombrado quadro de vida da maioria dos que depositam o seu voto para estamos aqui", declarou Simango.
O MDM, prosseguiu o chefe da bancada, não acredita no recurso à força para a implantação da democracia nem para a manutenção da paz, considerando que essa opção põe em risco a construção do estado de direito democrático e visa ressuscitar a bipolarização política [entre a Frelimo e a Renamo".
A sessão parlamentar que hoje se iniciou é composta por 27 pontos de agenda, destacando-se uma proposta de revisão da Constituição da República submetida pela Renamo, defendendo a criação de autarquias províncias e o debate do Orçamento do Estado e do Plano Económico e Social de 2016.
A AR vai igualmente debater a criação de uma comissão de inquérito para investigar os contornos de uma dívida de 850 milhões de dólares para a criação da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum), ouvir o discurso do Presidente da República, Filipe Nyusi, sobre a Situação Geral da Nação e a informação anual do Provedor de Justiça.
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