Thursday, 15 October 2015

Massala, 1989 – Beira, 2015

 
O habitual programa da STV, «Pontos de Vista» moderado por Jeremias Langa, tratou dos recentes acontecimentos em torno do processo de paz moçambicano. Aspectos pertinentes, os defendidos pelos dois comentadores convidados. Ressalta um, que versou o sucedido na Beira depois de Dhlakama ter chegado a acordo com os mediadores, mediadores esses que agiam com o consenso das duas partes – governo e Renamo.
O que aconteceu na Beira no dia 9 faz lembrar o sucedido nas vésperas do primeiro encontro entre as delegações do governo da Frelimo e do movimento de Afonso Dhlakama em Nairobi em 12 de Junho de 1989. Quando a delegação da Renamo se preparava para partir com destino à reunião agendada ao mais alto nível, as Forças Armadas Moçambicanas e as suas aliadas do ZNA (Zimbababwe National Army) lançaram ataques de grande envergadura na área de Massala. Inclusivamente, a Força Aérea moçambicana bombardeou a pista de Cangamitole de onde o avião transportando a delegação da Renamo deveria partir para o Malawi e daqui rumo a Nairobi.
Esta acção do governo moçambicano provocou um enérgico protesto diplomático por parte do Quénia, face à forma humilhante como foi tratado Bethuel Kiplagat, o mediador queniano que agia com o acordo de todas as partes – incluindo o governo da Frelimo.
Em 2015, o mesmo maquiavelismo de 1989: se hoje expressam preocupação pela segurança e estado de saúde daquele que momentos antes pretendiam liquidar em rodovia nacional ou à porta da sua residência, ontem a culpa pelo adiamento da reunião marcada para ter lugar em Nairobi era lançada sobre os que não puderam descolar de Sofala pelas razões já referidas.
Isto dá a impressão de que regime da Frelimo, por um lado, aparenta estar interessado numa situação negociada de conflitos em que se encontra mergulhado, mas por outro pretende a eliminação do interlocutor. Regime da Frelimo – e não governo moçambicano – dado que o sucedido em 1989 e agora em 2015 reflectiu a postura de um governo diferente, mas dirigido pela mesma formação política; em 1989 por Chissano, em 2015 por Filipe Jacinto Nyusi. Torna-se claro que existe aqui um ponto coincidente, o que suscita a questão: o regime da Frelimo pretende uma solução ou anda à procura de uma forma de solucionar problemas apenas a seu contento? e desautorizar mediadores, tratando-os com desdém e descredibilizando a sua postura e reputação perante crentes, estudantes e a sociedade em geral faz parte dessa solução? e a humilhação, também?





Joao Cabrita, no Facebook

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