Porquê insistir na via da Sambivização…
Afinal os que praticavam fraudes também podem ser vítimas delas…
Beira (Canalmoz) – Há espaço para todos e o bolo é suficientemente grande para encher a barriga de todos. E vai ainda sobrar para os dias seguintes. Mas alguns moçambicanos não querem se colocar na posição de terem que compartilhar Moçambique.
Pretender exercer pressão final no campo militar de modo a fragilizar a posição que a Renamo conquistou depois do início das confrontações pode ser uma manobra ou estratégia mais uma vez errada. Pode ser a forma de esticar forças que não existem ou que não garantem vitórias definidoras de uma nova correlação de forças.
É claro e óbvio para todos que o país não pode continuar a ter dois exércitos. Mas também já se tornou visível que a PRM precisa de ser reformulada do mesmo modo que as FADM para serem nacionais e apartidárias. O SISE também descaiu para o controlo partidário e isso não oferece garantias de equidade e profissionalismo.
O dossier militar e policial é sobejamente conhecido e foi extensivamente visitado aquando das negociações do AGP em Roma.
Não há nada a inventar, mas, sim, a disposição firme de implementar um acordo até já existente e redigido. É tudo uma questão de olhar com profundidade para os pendentes. Resolver os pendentes um a um vai requerer a intervenção de especialistas nacionais e estrangeiros.
Será bom que a relutância de incluir observadores e mediadores internacionais seja urgentemente abandonada para bem da paz e da estabilidade nacional.
Se no pacote eleitoral o fim foi o que vimos, a aceitação e a unanimidade, não se pode aceitar que se queime tempo não concordando com algo que é demasiado óbvio.
Técnica e financeiramente o governo de Moçambique já demonstrou não possuir o perfil adequado para dirigir, com sucesso, um processo de criação de forças armadas e policiais apartidárias.
Se antes a estratégia foi de dominar contando com um sistema judicial escolhido e mantido a dedo, em que pontificava um Tribunal Supremo dirigido por um vitalício juiz, agora terá sido adoptada a opção conhecida como "angolana". Entreter e ir assinando acordos parciais enquanto se cerca e se elimina aquele que não se submete aos desígnios estabelecidos.
Não será uma leitura próxima da realidade?
Compreende-se que existe todo um património a proteger mas será que tal é mais importante que a paz e a estabilidade de todo um país? Queimando-se um país através de uma guerra fratricida haverá espólios dignos desse nome para alguém?
Os que se diziam democratas e apoiantes da democracia, que apregoavam a democracia interna de seu partido, viram-se defraudados e enganados por seus próprios “camaradas”. Afinal a compra de votos, a manipulação do voto, a fraude eleitoral praticam-se mesmo dentro do partido. Sem preparação adequada e atempada, as pretensões eleitoralistas de alguns “camaradas” viram-se derrotadas num processo manchado por suspeitas. As alas declararam-se e os pronunciamentos seguintes à reunião do CC da Frelimo são uma tentativa forçada de manter águas turvas dentro de casa.
Na verdade, há gente “ferida de morte" entre os "camaradas". Nada será igual depois daquela reunião. Foi uma reunião fracturante.
Há uma corrente indesmentível de acções visando proteger interesses e excluir os interesses de adversários num processo que poderá transformar adversários em inimigos.
Estamos perante a emergência de uma corrente "ideológica estomacal" estrategicamente distribuída junto aos centros do poder.
Os "camaradas" mataram o socialismo e após isso começaram a construir castelos de areia, fumaça ideológica como diriam alguns, mas tudo com o objectivo primordial de excluir os outros do usufruto de qualquer benefício. Alguns se enganaram ao julgar que privatizar uma empresa estatal era o mesmo que privatizar o país.
E é desse modo que paulatinamente se caminhou para o desastre…
(Noé Nhantumbo, Canalmoz)
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