Por Edwin
Hounnou
É preciso que a Frelimo afaste este cálice de sangue
da boca do povo. A experiência da guerra dos 16 anos, que opunha o partido
Frelimo às forças da RENAMO, recomenda que os dirigentes do Estado tenham bom senso
na gestão da paz. Cabe ao governo a responsabilizar de manter a paz. O povo não
vai perdoar a quem deixar o país resvalar para uma nova guerra. Nada justifica
que o país volte a ser regado de sangue de pobres. O povo quer paz e
desenvolvimento. Quer fazer a sua machamba e vender a sua mandioca, mapira,
feijão ao longo das estradas sem medo. Espera ver o seu menino sorrir, crescer
e a jogar a cabra-cega.
A Renamo não está a exigir nada de extraordinário.
Quer ver paridade nos órgãos eleitorais para que todos partam das mesmas
circunstâncias. A Renamo exige que todos os cidadãos moçambicanos tenham as
mesmas oportunidades de acesso à riqueza nacional, até agora reservada só a
dirigentes superiores do partido Frelimo e dos governantes. Em democracia, é justo
que o Estado seja despartidarizado, diferente do nosso Estado que se encontra
aprisionado pelo partido governamental. O Estado não pode ser um comité do partido
Frelimo. É justo que se exija acabar com isso. Todos nós queremos um estado que
serve os interesses de todos os moçambicanos.
O partido Frelimo e o seu governo não podem recusar
uma exigência constitucional, sob pena de ser descartado nestas eleições, se
elas forem, de facto, justas e transparentes. Mas, pelo curso do recenseamento,
conclui-se que elas não serão justas nem transparentes e, como sempre, a
subserviente Polícia de Intervenção Rápida será chamada para garantir a vitória
da Frelimo, sob o olhar cúmplice dos representantes da comunidade internacional
que enganam os seus povos com falsos relatórios. A Frelimo tem que entender que
o país pertence aos moçambicanos e não é uma coutada de um grupo de indivíduos
privilegiados que abocanham os seus recursos naturais.
O Presidente Armando Guebuza ao recusar a paridade nos
órgãos eleitorais, está a jogar gasolina para a fogueira que consume a paz. Ao
ignorar os apelos para despartidarizar o Estado, o Presidente está a
discriminar milhares de moçambicanos que trabalham nos serviços públicos e têm
uma visão política diferente da do seu partido. O Estado não é da Frelimo. Os funcionários
públicos trabalharem no Estado, mas isso não implica que sejam da Frelimo. A
Frelimo e o Estado são entidades diferentes. A Frelimo é uma organização de um
grupo de pessoas enquanto o Estado pertence a toda a comunidade.
O Presidente ao persistir na sua arrogância, os
empobrecidos pelas políticas incorrectas do governo poderão subir para o ringue por acharem que já não têm nada a
perder porque o pouco que esperavam não o terão nunca mais. A instabilidade por
que o país passa, agora, se deve à arrogância do governo
que confia mais nas armas que na sabedoria do povo que grita pela paz. A paz
depende muito mais de Guebuza que de Dhlakama.
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